A Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Dimus), vinculada à Secretaria de Cultura do Estado (Secult), apresenta um dos maiores e mais importantes acervos de arte africana do Brasil na exposição Panáfrica, que será aberta nesta quinta-feira (25), às 19h, no Centro Cultural Solar Ferrão, no Pelourinho.

A montagem de longa duração trará mais de 860 peças que apontam a riqueza estética e a diversidade da produção cultural africana do século 20, expressada em objetos, sobretudo máscaras, estatuetas e utensílios de uso cotidiano ou ritualístico. As obras foram doadas ao Governo do Estado, em 2004, pelo industrial italiano Claudio Masella.

Com curadoria do diretor de Museus do Ipac, Daniel Rangel, e do arquiteto André Vainer, que também assina o projeto expográfico, Panáfrica representa o resultado de uma longa caminhada de trabalho, que teve como último e importante passo, a montagem da exposição Sete Áfricas, em dezembro de 2008, que ficou em cartaz até janeiro deste ano.

“A primeira mostra serviu para aprofundar e ampliar o nosso conhecimento acerca deste acervo. A partir dela, a Dimus assumiu o compromisso e, ao mesmo tempo, o desafio de dar o tratamento museológico que a coleção merecia. Esse período foi importante para todo o processo de pesquisa e restauração. Por isso, só foi possível montar Panáfrica agora”, afirma Rangel.

Expografia

Muitas das obras da coleção nunca foram usadas, de fato, no cotidiano nem em rituais religiosos. Contudo, representam vários estilos étnicos das sociedades africanas. “A ideia para essa exposição, antes de tudo, foi colocar o maior número possível de peças, porque o que nos interessava era ver a exuberância da coleção, valorizando o conjunto e o trabalho artístico, que apresenta uma identidade”, diz André Vainer, informando que “visitante terá oportunidade de vivenciar uma espécie de mostra democrática, porque é ele quem vai dizer que peça se destaca, qual é a mais interessante, naquele conjunto”.

Para valorizar o conjunto de peças, Panáfrica foi dividida em três núcleos. No primeiro estão as Máscaras, que, no contexto originário, eram utilizadas em rituais aos antepassados, nos quais se considerava a presença de entidades espirituais.

No segundo estão as estatuetas, destinadas à representação de seres míticos ou à perpetuação da memória dos ancestrais (reis, rainhas ou chefes de linhagens). No terceiro núcleo, instrumentos e utensílios oferecem elementos da vida cotidiana, a exemplo de recipientes, jóias, pentes, cajados, bastões, assentos e outras insignes representativas do poder e do prestígio.

O pesquisador da Dimus Ademir Ribeiro Junior explica que existem, além dos núcleos expositivos, outras duas salas especiais – ibejis, dedicada às imagens em madeira, que remetem aos gêmeos iorubanos, e colonizadores, com estatuetas de produções recentes que aludem aos conquistadores europeus chegados ao continente africano a partir do final do século XIX.

“Em Panáfrica, apesar da separação por categoria de objeto, será possível encontrar também uma classificação por etnia. No núcleo das máscaras, por exemplo, veremos peças dos Iorubás, do Benim e de Camarões, entre outras”, informa Ribeiro Júnior.

“A demanda por obras de arte africana criada pelo mercado internacional impeliu muitos artistas africanos habilidosos a aprenderem as técnicas e os estilos de outros grupos étnicos cujas obras eram mais requisitadas. Assim, alguns tipos de peça, podem ser produzidos, atualmente, em diferentes localidades da África, caracterizando-se como verdadeiros estilos ‘panafricanos’, tomando a expressão do professor Babatunde Lawal, da Virginia Commonwealth University”, explica Ribeiro Júnior, justificando o título da exposição.

Claudio Masella – O industrial italiano Claudio Masella, nascido em Roma, em 2 de agosto de 1935, era apaixonado pela arte africana que conheceu quando foi morar no continente. Ao longo de mais de 35 anos, período em que residiu entre a Nigéria e o Senegal, reuniu mais de mil objetos. Em 2004, três anos antes de falecer, doou parte de sua coleção, que estava guardada em Pomézia, na Itália, ao Estado da Bahia, pois via em Salvador um local propício para a divulgação da cultura e das artes da África.

A decisão de que as peças pertencessem à Bahia teve o objetivo de contribuir para que a população local tivesse acesso à parte da história da arte africana, especificamente em Salvador, a cidade brasileira com maior proporção de afro-descendentes. Desde que chegou à Bahia, a coleção teve três pequenas mostras, na capital mesmo, até a exposição Sete Áfricas, que reuniu, em 2008, cerca de 90 peças.