Quem imaginaria que Itacaré, município localizado a 428 quilômetros de Salvador, hoje um dos pontos turísticos mais badalados da América Latina e mais valorizados no Nordeste brasileiro, fosse ter como símbolo oficial mais representativo uma simples igreja? 

Uma pesquisa de equipe multidisciplinar do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), órgão da Secretaria de Cultura (Secult), fará da capela de São Miguel Arcanjo – construída pelo padre jesuíta Luís Grã, ainda no início do século 18 – o primeiro patrimônio cultural de Itacaré oficializado pelo Estado da Bahia. 

Ao serem finalizados os estudos, o Ipac enviará o dossiê para o Conselho Estadual de Cultura, instância maior da Cultura no Estado, que avaliará e o enviará ao governador Jaques Wagner para decidir sobre a publicação do decreto de tombamento definitivo. 

Apesar de ter quase 300 anos, ser considerada um paraíso tropical e referência turística internacional, Itacaré nunca foi contemplada com tombamentos ou registros culturais do governo estadual nas últimas quatro décadas. “Existe um déficit histórico para a salvaguarda dos patrimônios culturais baianos que estamos resgatando nos últimos três anos, por meio da melhoria dos serviços e aceleração de processos”, explica o diretor geral do Ipac, Frederico Mendonça. 

Segundo ele, de 2007 a 2010, o governo estadual aumentou em mais de 400% as ações de proteção dos bens culturais, fazendo com que em três anos o instituto executasse mais tombamentos e registros de bens culturais do que os já realizados nos últimos 42 anos. Foram mais de 30 imóveis e monumentos tombados, dezenas de processos finalizados como os dos patrimônios imateriais da ‘Festa de Santa Bárbara’, ‘Carnaval de Maragojipe’ e os que serão ainda finalizados em 2010 – o ‘Desfile dos Afoxés’, além dos patrimônios edificados, a exemplo da igreja de Brotas, em Salvador – que esperava tombamento há 30 anos -, entre muitos outros. 

“O tombamento possibilita que os imóveis e monumentos tenham prioridade nos financiamentos que visam restauração, sejam programas municipais, estaduais, federais ou internacionais”, explica Mendonça. 

O Ipac/Secult também criou os ‘Editais de Patrimônio da Bahia’ que beneficiam construções tombadas e bens imateriais registrados. “Desde o ano passado (2009), o Fundo de Cultura disponibilizou mais de R$ 2 milhões para apoiar projetos e obras em imóveis tombados, além da valorização e dinamização”, afirma Mendonça. No plano federal, os proprietários de imóveis tombados – no caso da igreja de Itacaré é a Igreja Católica – podem, igualmente, solicitar recursos no Programa Nacional de Apoio à Cultura(Pronac/MinC). 

Visitantes famosos
Antigo aldeamento indígena, Itacaré teve a sua colonização iniciada por portugueses, em 1530, com as capitanias hereditárias e, depois, com a chegada de jesuítas que batizaram o local de São Miguel da Barra do Rio de Contas, construindo a capela em 1723.
 
Porto de comércio de cacau na primeira metade do século 20, o município tem aproximadamente 20 mil habitantes e 730 quilômetros quadrados de área. Muitos visitantes famosos estão interessados em suas terras como o presidente francês Nicolas Sarkozy e esposa Carla Bruni, a atriz italiana Monica Bellucci, o ator francês Vincent Cassel, a empresária japonesa Chieko Aoki, os astros norte-americanos Elijah Wood (‘O Senhor dos Anéis’) e Orlando Bloom (‘Piratas do Caribe’) – além de brasileiros como Durval Lelys, Malu Mader, Juliana Paes, Luma de Oliveira, o tenista Guga e a família Marinho.
 
A igreja de Itacaré dispõe de oratório rococó, com imagens de São Miguel, São Sebastião, Santo Antônio e Senhor dos Passos. Em alvenaria mista, a edificação tem capela-mor com sacristia, andar superior com coro, galeria e sala do consistório.

Publicada às 13h35
Atualizada às 18h20