A Escola Estadual Edivaldo Boaventura, no bairro do Stiep, em Salvador, passou os últimos três meses em reforma. Pais, alunos, professores e representantes da comunidade, literalmente, colocaram a mão na massa e conseguiram transformar o ambiente escolar, dando uma aparência bem mais agradável. “Esta escola estava largada por problemas de gestão. Agora, está tudo fluindo e tenho certeza de que vai melhorar ainda mais. Antes, os alunos vinham desmotivados, hoje, me procuram para dizer que está tudo bem”, conta a representante dos pais no Colegiado Escolar, Denise Celina da Luz Rodrigues.

O resultado é fruto do projeto Revitalização das Escolas, desenvolvido pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia, que este ano chega a 300 unidades escolares beneficiadas na capital e no interior do estado. Uma experiência que já deu certo em cerca de 200 escolas de Salvador e em municípios da região metropolitana. A revitalização extrapola a fronteira da rede física para atingir, também, a parte pedagógica, administrativa, de gestão e de pessoal.

O projeto de Revitalização vai contemplar, em média, três escolas por Diretoria Regional de Educação (Direc). As unidades são escolhidas de acordo com as condições que apresentam e são indicadas pelas diretorias regionais. “O grande objetivo do projeto de revitalização é fazer uma articulação da escola com a comunidade local e a escolar, no intuito de que elas se apropriem da escola como um espaço público em que podem e devem participar”, explica a coordenadora de acompanhamento da rede escolar da Secretaria da Educação, Maria da Glória Midlej.

Com a Revitalização, a direção se une à comunidade escolar para, juntas, estabelecerem metas e prioridades a serem atingidas. A partir daí, todos se sentem corresponsáveis pelas melhorias e, consequentemente, pela sua conservação. Além de contribuir para um ambiente mais acolhedor na escola, o impacto do projeto pode ser conferido no maior envolvimento de toda a comunidade escolar. “A gestão da escola passa a dialogar melhor com os alunos e o corpo docente e a comunidade local passa a proteger a escola ao invés de depredar”, acrescenta Midlej.

Motivação 
No caso da Escola Edivaldo Boaventura, a comunidade escolar foi convocada para opinar sobre o tipo de melhoria que deveria ser feito na parte de infraestrutura. Alunos, pais, professores e funcionários se reuniram durante os finais de semana e participaram de oficinas de mosaico, grafitagem, jardinagem e pintura, e colocaram o aprendizado em prática na própria escola. 

Após a revitalização, alunos que já tinham pensado até em se transferir da unidade, hoje abraçam com carinho a escola que os acolhe. Entre eles, estão Nelson Santos Barbosa, 8ª série, 14 anos, e Kathyllen Santos, 7ª série, 14 anos. Segundo Nelson, estava tudo ruim, não dava para jogar bola na quadra e faltavam bancos para sentar, no intervalo.
“Agora o colégio ficou bonito. O bom é que, quando os alunos participam disso, o resultado é melhor. Quando ele senta na cadeira que ajudou a limpar, não vai sujar porque estaria desvalorizando o trabalho que ele fez”, diz o estudante, que participou da oficina de jardinagem e está contribuindo para levar mais verde para a unidade. 

Kathyllen, que chegou à unidade no meio do ano passado, transferida de Vila de Abrantes, ganhou motivação para estar na escola. “Quando cheguei aqui, não gostei muito do que vi, pensei em mudar de escola, mas, nos últimos meses, tivemos muitas melhorias. Agora, temos prazer em estar aqui”, conta. 

Antes do projeto de revitalização, havia a falta de carteiras, banheiros sujos, vasos entupidos, portas quebradas, paredes sujas, biblioteca fechada, falta de recursos pedagógicos, indisciplina, entre outros aspectos que comprometiam a qualidade do ensino e da aprendizagem. 

“O processo foi muito prazeroso, os alunos estão se sentindo mais valorizados. Pela primeira vez, eles perceberam que estão tendo voz e vez dentro da escola. Também sentimos mais o respeito dos alunos com o professorado e uma maior reaproximação com a comunidade”, avalia o professor de História e presidente do Colegiado Escolar, Gerson Leite Santos.

Integração entre comunidade e escola resgata credibilidade do ensino

Também foi verificada uma necessidade urgente de integração da comunidade escolar e fortalecimento dos laços entre a escola e a comunidade no intuito de proporcionar uma dinâmica organizacional que pudesse, de forma gradual, resgatar a credibilidade da escola. 

A diretora da unidade, Thayse Lacerda, avalia que há uma diferença grande entre o que a escola era e o que é agora. Para ela, não era um lugar atrativo e hoje é um ambiente motivador para os alunos. “Eles sentem prazer em vir para a escola. Conseguimos trabalhar a valorização do ambiente escolar, a educação para a cidadania e isso tem refletido na disciplina, no comportamento e na atitude dos estudantes”. 

A Escola Edivaldo Boaventura oferece o ensino fundamental, funciona nos três turnos e atende a 611 alunos, sendo que a maioria deles vive em Pernambués e adjacências. “Venho de outra escola que também passou pela revitalização e nas duas foi algo extraordinário. O projeto fez com que houvesse maior integração da comunidade escolar e conseguiu até resgatar alunos que já tinham saído da unidade e agora estão voltando”, avalia o professor de Matemática, Jorge Abreu, que trabalhava antes na Escola Estadual Artur de Sales, em Campinas de Pirajá.