As perspectivas futuras da Bahia para as indústrias criativas, turismo, pesquisa, ciência e tecnologia foram debatidas, nesta quarta-feira (31), no quinto módulo do Pensar a Bahia. O ciclo de debates coordenado pela Secretaria do Planejamento (Seplan) visa envolver gestores públicos, pesquisadores, empresários e representantes da sociedade civil no debate acerca das tendências do processo de desenvolvimento da Bahia para até o ano 2023, quando o estado completa 200 anos de independência.

Na abertura do encontro, o secretário estadual do Planejamento, Walter Pinheiro, salientou a importância da Ciência, Tecnologia e Inovação como setor transversal e com potencial de solucionar gargalos dos mais diversos setores. “Ainda nesta semana, o presidente Lula aprovou um grande aporte de recursos para a tecnologia e inovação, durante o lançamento do PAC 2, o que mostra a importância do desenvolvimento tecnológico na agricultura, no turismo, e na infraestrutura, por exemplo”.

O secretário lembrou ainda que o Brasil não possui tradição de planejamento, o que acabou influenciando na qualidade das ações em resposta às necessidades imediatas. “Estávamos acostumados com o imediatismo, por isso, é muito comum ouvir falar que brasileiro não faz agenda. É óbvio que devemos agir de forma imediata porque há coisas que ontem não foram planejadas, mas, se não tivermos a capacidade de preparar o amanhã, sempre estaremos resolvendo pendências de ontem”.

Para Walter Pinheiro, o planejamento das ações do Estado deve ser feito a partir de uma visão ampla, utilizando as novas tecnologias para a resolução das questões sociais. A falta de tradição do Brasil no exercício do planejamento também foi lembrada pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Márcio Pochmann disse que o Brasil democrático demorou muitos anos para reiventar o planejamento, que, antes, foi instrumento utilizado no período da ditadura militar. “Hoje temos a oportunidade inigualável para construir uma sociedade superior, participativa e o Brasil poderá liderar um novo projeto de desenvolvimento”.

O presidente do Ipea destacou também que é preciso pensar o desenvolvimento e planejar o futuro, mas com o cuidado de não fazer isso com o olhar dos gestores do século passado. “Este é o momento de planejar políticas integradas. A questão da reforma agrária, por exemplo, não pode ficar restrita à necessidade de distribuição de terras, mas também a políticas de saúde, educação, tecnologia e capacitação”.

Ciência & Tecnologia
A primeira mesa de discussão tratou de ciência, tecnologia, universidades e centro de pesquisa, com a participação, como debatedores, do diretor de inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), Elias Ramos, do reitor da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), Antonio Joaquim Bastos, e do pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Manoel Barral Neto.

Barral abriu as discussões afirmando que o Brasil melhorou o desempenho de suas produções científicas e vem crescendo quanto ao número de doutores formados nos últimos anos. Porém, o pesquisador citou que o desafio para um maior desenvolvimento da pesquisa no Estado está na absorção de pesquisadores no setor empresarial, para estimula a inovação.

“O país está desenvolvendo sua economia, já temos mais de 12 mil doutores sendo formados por ano no Brasil e esse ritmo acelerado de crescimento mostra que estamos melhorando. Precisamos ser mais ativos na busca de recursos e agora é o momento de haver maior interação entre as empresas privadas e a academia”, destacou.

O diretor de inovação da Fapesb, Elias Ramos, destacou a importância do incentivo à substituição das importações a partir do desenvolvimento de tecnologias nacionais. “Para isso, há um plano forte de empreendedorismo a partir das universidades que prevê iniciativas para estimular a criação de empresas de base tecnológica e a participação de pesquisadores em projetos de inovação nas empresas”.

Ramos lembrou do fortalecimento da pesquisa na Bahia, com a construção do Parque Tecnológico de Salvador, que vai ser inaugurado ainda este ano. “O Parque tem um significado importante no surgimento de novos empreendimentos de base tecnológica. Queremos, no parque, empreendimentos nascidos na Bahia”, concluiu.

Indústrias criativas
A reflexão sobre o papel das indústrias criativas na economia estadual e brasileira foi o tema predominante do debate realizado no turno vespertino. Com a mediação do superintendente de Promoção Cultura da Secretaria de Cultura (Secult), Carlos Paiva. O potencial econômico e simbólico, além do desafio de articulação das indústrias criativas com a educação alinhavaram a discussão.

De acordo com o professor da escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Paulo Miguez, nos últimos anos, em especial no Brasil, a economia da cultura ganhou densidade devido a sua representatividade econômica no mundo.

Esta afirmação, segundo ele, pode ser exemplificada nos seguintes números – “o segmento de cinema e televisão nos Estados Unidos emprega mais de 2,5 milhões de pessoas e o salário médio da indústria cinematográfica é 76% maior do que a média nacional, representando cerca de 41 bilhões de dólares”. Ele lembrou que apenas a turnê dos grupos Rolling Stones e U2 em 2009 movimentaram mais de 300 milhões de dólares.

Estes números, segundo o professor, explicam, em certa medida, o local que a Cultura tem na agenda contemporânea, mas ainda há desafios. “Precisamos promover a diversidade cultural nas dimensões simbólicas e econômicas, formular um conjunto de políticas específicas para a economia da cultura e formular estatísticas e indicadores”, afirmou Miguez.

Entre as contribuições do diretor da escola Via Magia, Rui César, e do presidente do Instituto Eletrocooperativa, para o debate, estão os mercados culturais, a formação de redes e a requalificação dos bairros que concentram as atividades do carnaval de Salvador.

O último debate do dia teve como tema o turismo e os grandes eventos no estado, em especial, as ações necessárias tornar a Bahia ainda melhor para os turistas brasileiros e estrangeiros durante a Copa de 2014. O secretário da Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa), Ney Campelo, e o ex-secretário de Turismo, Domingos Leonelli, destacaram que o Governo do Estado realizará intervenções de mobilidade urbana na cidade do Salvador e vem estimulando a indústria do turismo, a partir de ações como o Espicha Verão e o São João da Bahia.

As duas plenárias que iniciaram o ciclo de debates foram sistematizadas no Caderno Pensar a Bahia, lançado no final do evento. Mobilidade, infraestrutura, saúde e educação estão entre os temas presentes na publicação que está disponível no site da Seplan.