Um dia para comemorar, mas também para estar alerta. A opinião da socióloga do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim), da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Gilberta Soares, foi reforçada pelo depoimento emocionante de Iraci Santos Souza, agente de segurança do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), sobre as dificuldades enfrentadas em sua vida de mulher, desde a infância até o casamento.

A mesa redonda A mulher nos dias de hoje: direitos e desafios, da qual também participou a palestrante do Centro de Referência Loreta Valadares, Ana Rios, a coordenadora de Enfermagem do HGRS, Ana Lílian de Souza Pires, e a coordenadora do Serviço de Terapia Ocupacional, Ana Cristina Brito, foi apenas uma das atividades comemorativas ao Dia Internacional da Mulher ocorridas na tarde desta segunda-feira (8), no Hospital Roberto Santos. O auditório principal ficou lotado, com mulheres que escutaram atentas às palestras e depois a música do coral Amigos do Canto, integrado por funcionários do hospital.

Durante as atividades comemorativas, foi feita a premiação do Concurso de Poesias 2010, vencido por Mônica Janaína da Silva Pereira, do setor Banco de Sangue, e as mulheres ganharam perfumes de brinde. Cartilhas e fôlderes sobre assuntos de interesse feminino, como o enfrentamento à violência doméstica, também foram distribuídos. “As mulheres são seres especiais disfarçado de pessoas comuns”, na visão de Ana Lílian Pires.

“Hoje, assumimos posição de liderança nas famílias, nas empresas. Uma mulher conquistou, neste domingo (7), pela primeira vez, o Oscar de melhor diretora cinematográfica. Mas, o que mais encanta é que temos a capacidade de fazer esse contraponto entre a razão e a emoção, dar conta de todas as demandas, que não são fáceis, sem perder a feminilidade, e ainda continuar avançando” disse Ana Cristina Brito. Segundo ela, o Hospital Roberto Santos está cheio de mulheres guerreiras, que ocupam cargos de direção e conseguem fazer a diferença no hospital.

Predominância
Representando a Comissão de Mulheres do HGRS, Ana Cristina Brito destacou a predominância feminina no corpo funcional do hospital e a importância da data. “Hoje é dia de reconhecer, valorizar e apreciar o que somos – grandes mulheres. Já conseguimos muitos direitos, mas ainda há muito o que conquistar para conseguir a tão sonhada liberdade de gênero”, depôs a representante do Centro de Referência Loreta Valadares, Ana Rios. Segundo ela, a cada 15 segundos, uma mulher é agredida e, para combater essa violência, é que o centro existe desde 2004.

“Quando iniciei na militância feminista, há uns 20 anos, 8 de março era um dia de luta. Hoje, é uma data que cresceu em função de nossa mobilização social e temos que lembrar sempre que não é uma data de comemoração, somente, mas deve ser marcada como uma data de luta, porque ainda são graves os problemas da mulher na sociedade”, disse Gilberta Soares, do Neim.

Entre esses problemas, ela listou o assédio moral, a inferiorização, a luta pelo direito à educação e a questão da saúde reprodutiva, em particular o aborto, um problema sempre deixado para que a mulher resolva sozinha e que a coloca em situação de maus tratos e desumanização nos serviços de saúde. Maus tratos e desumanização foram dominantes no depoimento da agente de segurança Iraci, que relatou, com coragem e positividade, os espancamentos sofridos na infância, pelos pais, e na idade adulta, pelo marido, passando pelo estupro quando começou a namorar. Daí, veio a gravidez e o abandono por parte dos pais, dos amigos e do próprio namorado, e a busca pelos serviços de saúde quando tentou abortar. Sozinha, ela resolveu levar a gravidez adiante. “Fiz faxina, lavei carro na rua para criar meu filho. Tenho agora meu primeiro emprego, aqui no hospital, e minha maior alegria é chegar para vocês e dizer que sou feliz, com um troféu que Deus me deu, o meu filho, que está com 11 anos e na quarta série do ensino fundamental”, disse, orgulhosa.