O pano da costa que – segundo alguns historiadores – foi o principal produto africano exportado e consumido na Bahia nos séculos 18 e 19, referência cultural para as nações da costa oeste da África e indumentária sagrada para candomblés baianos, é o principal tema da mais nova publicação do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), órgão do Governo da Bahia, vinculado à Secretaria de Cultura (Secult-BA).

O livro intitulado ‘Pano da Costa’ e ilustrado com fotos, pinturas, desenhos e gravuras será lançado – em parceria com a Fundação Pedro Calmon (FPC) – nesta sexta-feira (23), às 17 horas, na biblioteca Manuel Querino, localizada no secular imóvel do Solar Ferrão (Rua Gregório de Mattos, 45), no Pelourinho, em Salvador.

Na mesma ocasião, o Ipac lançará, também, o folder ‘Patrimônio Cultural da Bahia’ que, pela primeira vez na história do Estado, reúne em uma só publicação todos os bens culturais, materiais e imateriais, existentes no território baiano que estejam protegidos pelos poderes públicos estadual e federal, através de notificações, registros ou tombamentos, respectivamente, como ‘Patrimônio da Bahia’ ou ‘Patrimônio do Brasil’.

O livro ‘Pano da Costa’ traz artigos de historiadores, sociólogos e especialistas do Ipac, além de artistas plásticos e artesãos, constituindo em um importante estudo sobre a história e o método de tecelagem dessa peça têxtil, bem como num resgate histórico e homenagem ao mestre dessa arte, o baiano Abdias do Nascimento Nobre (1910-1994), nascido no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, Centro Histórico de Salvador, e descendente de africanos.

A publicação é fruto do ‘Projeto Mestre Abdias e a Tecelagem do pano da Costa’ elaborado pelo Ipac em 1984. Ainda neste ano, foi instalado no terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afnjá o primeiro curso dedicado ao pano da costa, com coordenação do mestre Abdias e da sua filha e seguidora, a artesã Maria de Lourdes Nobre, ambos funcionários do Ipac. Em 1986 foi montado outro curso no mesmo terreiro e, em 1987, o Ipac sediou no seu museu Abelardo Rodrigues, no Solar Ferrão, a exposição ‘Pano da Costa’.

De acordo com o diretor-geral do Instituto, Frederico Mendonça, essa é a primeira publicação da coleção ‘Cadernos do Ipac’ que reunirá trabalhos desenvolvidos pelas equipes de técnicos e especialistas da instituição. “Além de promover a preservação dos bens culturais, o Ipac tem por obrigação regimental, pesquisar e promover a produção técnica e científica com a qual trabalha e colaborar na formulação da política de educação patrimonial; com essa primeira publicação cumprimos todas essas prerrogativas”, afirma Mendonça.

A primeira tiragem da impressão do livro ‘Pano da Costa’ é de três mil exemplares que serão distribuídos para bibliotecas públicas estaduais através da FPC, escolas e instituições que trabalham com a temática de matriz africana e com o segmento têxtil, entre outros, além de faculdades, universidades e órgãos de preservação cultural.