O Projeto de Conservação e Gestão Sustentável do Bioma Caatinga (Mata Branca) está definitivamente melhorando a renda de dezenas de famílias da zona rural e criando fortes raízes no pequeno município de Contendas do Sincorá, a 452 quilômetros de Salvador, na região sudoeste do estado.

A boa notícia foi confirmada, na manhã de quinta-feira (29), durante a II oficina do projeto, no Clube Municipal, pelo presidente da Associação de Lavradores da Comunidade Quilombola de São Gonçalo, João Antonio Pereira, 33, que já comemora a implantação de projetos como o Quintal Produtivo e de criação de galinhas e hortas.

“Antes, a gente tirava o sustento só da roça, da mandioca. Hoje, o projeto pode ajudar a melhorar a nossa comercialização e gerar mais renda. São mais de 30 famílias beneficiadas e esse número vai aumentar”, disse Pereira.

Segundo a coordenadora do Núcleo Gestor Local (NGL), do Mata Branca, em Contendas do Sincorá, MiKaely Gomes, este mês, o governo estadual, por meio da Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir), assinou um acordo de subdoação firmado entre a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), a Fundação Luís Eduardo Magalhães (Flem), o Banco Mundial (Bird) e a Associação de São Gonçalo, no valor de R$ 49,9 mil.

O projeto tem a cooperação técnica da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) e abrange os municípios de Itatim, Curaçá, Jeremoabo e Contendas do Sincorá. “Essas oficinas trazem, além deste apoio à Associação Quilombola, resultados muito positivos como o curso do empreendedor que será dado para as comunidades pelo Sebrae, duas propostas da Floresta Nacional Contendas do Sincorá (Flona), que estão em andamento, como a dos viveiros, um reflorestamento de áreas degradadas e incentivo a meliponicultura”, informou Gomes.

Há ainda projetos fundamentais como o de coleta seletiva e o da fábrica de vassoura PET, que a prefeitura quer fazer em parceria com o Mata Branca. “Essas ações são de extrema importância para a população sofrida da caatinga. O projeto está ajudando com os recursos e desenvolvendo atividades que geram renda e, ao mesmo tempo, não vão degradar o meio ambiente”, enfatizou a coordenadora.

Para o coordenador de Articulação Institucional do Mata Branca, Jorge Urpia, o encontro conseguiu articular importantes instituições, como universidades e segmentos na área de capacitação, apresentando propostas que darão prosseguimento aos projetos de estudos de conectividade entre a Flona e o Parque Nacional da Chapada. “Após essa oficina já estamos com tudo pronto para finalizarmos a proposta e ver com os técnicos de cada instituição o que será feito”.

Capacitação
O consultor da Unidade do Sebrae de Vitória da Conquista, Rosival Fagundes, também presente ao encontro, disse que o órgão pode contribuir oferecendo programas de capacitação que estimulam o empreendedorismo local. “Queremos atender às demandas das comunidades e já está programada para julho três dias de oficina, visando legalizar (fornecendo CNPJ) aqueles que já trabalham na informalidade, proporcionando inovação, tecnologia e acesso ao mercado”.

A curadora do Herbário da Universidade do Sudoeste da Bahia (Uesb/Jequié), Guadalupe Macedo, ressaltou que a participação da universidade é importante porque a instituição está inserida no semiárido, possuindo vários projetos de etnobotânica, caatinga, zoologia, botânica e ecologia.

Ela avalia o encontro com fundamental por se tratar de uma área carente em estudos e pesquisas. “Há pouco estudo, especialmente, com relação à flora. Podemos contribuir com conhecimento e fazer um diagnóstico mais profundo sobre a biodiversidade, reforçando os estudos regionais na área de abrangência da Uesb”.

A presidente da Associação Comunitária da Vila de Caraíbuna, Carmita Freire, destacou que o Projeto Mata Branca está resgatando a questão da sustentabilidade própria, mostrando às comunidades que todos são capazes. “A idéia de que o sertão é seca, é miserável e tem gado morrendo, se acaba. Hoje, com as ações do projeto, estamos vendo que é possível mudar essa realidade. É a primeira vez que vejo os quilombolas, os moradores de Sincorá, largarem tudo, o trabalho do dia a dia, para participar. Estamos vendo como o projeto pode ajudar nas áreas da cultura e da agricultura”.

Para a coordenadora de subprojetos demonstrativos, Érica Lima, o encontro motiva as comunidades a se organizar. “Proporcionamos a todos, a oportunidade de se capacitar em associações e cooperativas”. Ela informou ainda que o Mata Branca vem trabalhando no município junto às comunidade de São Gonçalo, Caraíbuna, Palmeiras e Sincorá.

Estiveram presentes também ao encontro, o técnico do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada, Cleber Martins, a educadora socioambiental da Sema, Susan Gumes, e os pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Laércio Souza e Nelson Fonseca.

A capacitação é promovida pelo Mata Branca, que é gerido pela CAR, empresa vinculada à Sedir, em parceria com a Sema. O projeto também conta com o apoio do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), do governo do estado do Ceará, da Flem e do Banco Mundial (Bird), agência implementadora do GEF (Fundo para o Meio Ambiente).