Projetos socioambientais desenvolvidos por órgãos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) vêm obtendo resultados positivos e contribuindo com a restauração do ecossistema que compõe a nascente do maior rio inteiramente baiano: o Paraguaçu.

A principal nascente do rio, localizada no município de Barra da Estiva, na região da Chapada Diamantina, foi visitada recentemente por uma equipe do Instituto do Meio Ambiente da Bahia (IMA), que registrou o avanço e ouviu depoimentos de membros da comunidade local sobre a melhoria das condições ambientais da área.

“A nascente já chegou a um estado crítico, em 1993, por causa do desmatamento para cultivo de café e capim para o gado”, afirmou Ronaldo Ventura, que, juntamente com seu irmão Clayton, nasceu e cresceu na localidade e é guardião voluntário da nascente.

Ronaldo contou que teve contato com a nascente através de um trabalho escolar e frequenta o local até hoje. “De lá pra cá, a gente sempre está ‘olhando’, pela importância que tem a nascente. A gente traz muita gente que vem aqui só pra visitar”, disse, que apontou o principal ponto onde brota a água e identificou árvores que foram plantadas em ações espontâneas de reflorestamento, feitas por estudantes.

Para Carlos Santana, técnico do IMA e coordenador da iniciativa, os projetos ambientais realizados na área tiveram um papel fundamental para a preservação da nascente. “Observei melhorias no quadro ambiental e um aumento na conscientização da necessidade de se preservar a nascente por parte dos proprietários da terra”, explicou, diagnosticando o entorno da nascente, que apresenta novas árvores que brotaram espontaneamente e outro minadouro de água.

O projeto Sementes do Alto Paraguaçu é desenvolvido pela Coordenação de Projetos Socioambientais (CPSA), por meio da Diretoria de Projetos Ambientais (Dipro), do IMA. Ele começou em 2007, dando continuidade ao trabalho implementado pela Sema até 2006.

Reflorestamento de árvores nativas

O "Sementes do Alto Paraguaçu" é uma alternativa real de promover a conservação de espécies florestais nativas e de incentivar o replantio de áreas degradadas no município de Barra da Estiva e região.

O projeto é uma fonte de conhecimento sobre o ecossistema local e avança cada vez mais no sentido de compartilhar esse conhecimento com integrantes das comunidades, para que eles mesmos possam executá-lo.
O objetivo prático do Sementes do Alto Paraguaçu é ensinar as comunidades a reconhecer, marcar e cuidar das árvores que são matrizes florestais nativas, recolhendo as sementes para novos plantios.

Para cumprir esse objetivo, a estratégia é mostrar às comunidades o valor econômico que a floresta tem enquanto está viva, através de produtos florestais não-madeireiros, que nesse caso são as sementes geradas por essas árvores que restaram.

“É a salvaguarda de um patrimônio biológico e cultural raro. São árvores de um ecossistema único, pouco estudado, que estão desaparecendo para dar espaço ao plantio de café”, observou Carlos. Ele alertou para o avanço crescente da agricultura em detrimento das florestas.

Em defesa da biodiversidade

A união entre entidades governamentais, empresas privadas e comunidades, com a intenção de garantir a biodiversidade dos mananciais de flora nativa, tem trazido resultados positivos na busca da preservação ambiental da região do Alto Paraguaçu.

A ação partiu do "Sementes do Alto Paraguaçu", que tem como entidade executora a Brigada Ambientalista Voluntária de Combate a Incêndios Florestais de Barra da Estiva (Bravos).

O trabalho voluntário da Bravos representa uma oportunidade de compartilhar o conhecimento técnico ambiental do IMA e promover a manutenção do projeto, como explicou Patrícia Medeiros, presidente da brigada, que hoje conta com 23 voluntários.

“Tomamos os cursos de GPS, cartografia, noções de botânica e engenharia florestal fornecidos pelo IMA. Depois do treinamento, começamos a marcar as matrizes, a monitorá-las e a acompanhar as épocas de floração, frutificação”, afirmou Patrícia.

Ela declarou que foi feito um viveiro por conta própria. “Começamos a coletar sementes e a plantar árvores, todas nativas, e hoje elas já estão dando frutos”, disse.

Não falta apoio

O projeto recebe também apoio da empresa agrícola Igarashi e do Banco do Brasil de Barra da Estiva, que garantiram o fornecimento de microcomputadores para a brigada, além de contar com o suporte de comunidades, escolas e associações de Barra da Estiva e região.

Recentemente, a Bravos ganhou um terreno para construção da sede, doada por José Drummond, presidente da Associação de Produtores Agrícolas de Mucugê e Ibicoara.

“Não se pode separar o ser humano da natureza, nem a natureza do ser humano. Somos parte do mesmo meio ambiente e temos que saber produzir, preservando-o”, afirmou Drummond.

Assim como ele, muitas famílias de agricultores vieram de outros estados para produzir na Bahia, trazendo seu conhecimento de plantio. “Não somos aventureiros. Viemos pra cá há dez anos, com nossas famílias, e pretendemos continuar aqui. Temos um compromisso ambiental com a região”, destacou Drummond.

Entre as comunidades que já habitam a região desde muito antes da chegada dos novos produtores, está a do Camulengo, no município de Barra da Estiva.

Descendente dos quilombos, esta comunidade tem 165 habitantes, todos oriundos da mesma família, distribuídos numa área de aproximadamente 100 hectares, onde se encontram 12 nascentes que alimentam o Rio de Contas.

A comunidade cede essa área para o desenvolvimento do projeto e acompanha o trabalho da Bravos, que já tem sete árvores matrizes identificadas na propriedade.

“Preservar é interesse de todo mundo aqui. Hoje a gente sente um calor que não sentia antes. Acho que o povo, quando vai plantar, roça muito mais do que devia”, observou Dulcimar Costa, presidente da Associação dos Mini e Pequenos Produtores Rurais do Camulengo.

“No último plantio que fizemos nas nascentes, levamos as crianças, que ajudaram e aprenderam que plantar uma árvore é plantar uma vida”, relatou Dulcimar, que é neto de Georgita Angélica de Amorim, 80 anos, matriarca da comunidade.

“Plantar árvore não ofende ninguém. E plantar no rio é bom, porque conserva a água”, afirmou dona Georgita. “Hoje venta muito, mas época do calor faz mais calor. Não é vantagem destruir sem precisão uma coisa que Deus criou”.