Representantes de 23 comunidades remanescentes de quilombos de oito territórios de identidade do estado foram capacitados, nos últimos dois dias, para concorrer a editais públicos e estruturar suas comunidades. Eles participaram do Curso de Formação para Elaboração de Projetos, ministrado em parceria pelas secretarias estaduais de Promoção da Igualdade (Sepromi) e de Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir), a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) e a Superintendência de Agricultura Familiar (Suaf).

A formação integra o projeto de fortalecimento institucional das Comunidades Quilombolas, previsto na Política Estadual para as Comunidades Remanescentes de Quilombos, instituída pelo Decreto 11.850/09. Assinado em novembro do ano passado, o documento cria o Grupo Intersetorial para Quilombos, coordenado pela Sepromi, e dispõe sobre a identificação, delimitação e titulação das terras devolutas da Bahia para estas comunidades.

De acordo com a coordenadora de Quilombos da Sepromi, Genny Aires, o curso é uma resposta às solicitações freqüentemente levantadas em diagnósticos feitos pelo Grupo Intersetorial de Políticas para o segmento. Ela explicou que a formação também estimula a adoção de iniciativas voltadas para a construção de projetos sociais que atendam às demandas específicas das comunidades.

Por isso, no curso, além da pesca, são projetadas iniciativas voltadas para a capacitação e assistência técnica, produção artesanal, cultivo de horta comunitária, construção e ampliação de unidades de beneficiamento de produtos agropecuários. “Os projetos fortalecem as lideranças no desenvolvimento de suas ações e criam espaços de diálogo entre representantes quilombolas e gestores, a fim de articular políticas públicas para o segmento”, afirmou Genny Aires.

Para ela, uma particularidade percebida em outras etapas do trabalho é a perspectiva que os quilombolas trazem para o curso. “Eles só não sabiam como passar as idéias para o papel”. Durante a formação, aprendem noções conceituais e também formulam projetos com orientação dos técnicos da Sepromi, Seagri e CAR. Em última instância, o Grupo Intersetorial acompanha a elaboração da proposta, com foco na viabilidade e sustentabilidade da proposta.

Maria de Lourdes, da Comunidade Torrinhas em Cairu, considerou única a oportunidade de participar da formação. “Sempre quisemos pedir essas coisas, mas não tínhamos como, pois não sabíamos nem por onde começar”. Juntamente com George Cruz, ela está formulando um projeto de piscicultura intitulado Pescando Sustentabilidade.

A proposta é remodelar a prática da pesca artesanal, cuidando do meio ambiente e da preservação da fauna e flora local. O custo previsto para instalação e manutenção do sistema é de R$700 mil. “Os peixes da comunidade estão se acabando e, se não houver cuidado, o pior pode acontecer. Não adianta ganhar de um lado e perder do outro”, afirmou George.

Outro projeto que desperta a atenção é o da Comunidade de São Francisco do Paraguaçu, chamado Renda Solidária. A iniciativa visa à ampliação e investimento na pescaria, o fortalecimento da criação de aves e da agricultura. Segundo o morador Anselmo Ferreira de Jesus, a ideia vai dar novo fôlego às atividades que são desenvolvidas pelos quilombolas todos os dias. “Queremos melhorar a qualidade de vida, da pesca e dos produtos da região”. Formada por aproximadamente 350 famílias, a comunidade estima a necessidade de R$180 mil para tocar o projeto.