Com olhos atentos e movimentos cuidadosos das mãos, a adolescente Neida Vieira, 12 anos, concentra-se em seus primeiros experimentos de robótica. “Nunca imaginei aprender coisas assim!”, comentou animada a estudante da sexta série do Ensino Fundamental.

Já Sayure Pianco, de 11 anos, descobre assustada o universo minúsculo que existe além do que os olhos podem ver. “Estou aprendendo a usar o microscópio para analisar a poluição dos açudes da região”, explicou a também estudante.

As duas fazem parte do grupo de 400 jovens de escolas públicas do semiárido baiano que ganharam a chance de sonhar com novo futuro, a partir da inauguração do Centro de Educação Científica de Serrinha, nesta segunda-feira (21).

O terceiro de todo o Brasil, o centro abre as portas para que todos possam descobrir o “gênio” que existe dentro si. Como Wanderley Batista, 12 anos, que se orgulha do primeiro experimento construído. “É uma balança para aprendermos a medir e equilibrar pesos. Fomos nós mesmos que construímos em poucos dias de aula”, diz segurando o instrumento.

Durante dois anos, os jovens selecionados entre 1.600 candidatos vão ter aulas nos turnos opostos ao da escola regular, num ambiente estruturado com equipamentos modernos e professores qualificados. As oficinas contemplam áreas como Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e Arte, com ensino interativo que faz os olhos dos pequenos cientistas brilharem. A expectativa é que todos saiam do curso com ampla noção científica.

Iniciativa promove inclusão social e intelectual

“Planejamos as aulas para que os jovens saibam o que é robótica na teoria e na prática. Eles não ficarão habilitados para construir robôs humanoides, mas para construir, por meio da tecnologia, soluções para os problemas da região em que vivem”, observa o professor e engenheiro mecatrônico, Adriano Araújo.

O centro foi concebido nos moldes do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (RN) Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), para promover a inclusão social e intelectual por meio de conceitos e práticas da ciência moderna. Trata-se da primeira unidade de formação científica, destinada a jovens da Bahia, e leva a chancela do médico paulista Miguel Nicolelis, um dos mais renomados cientistas da atualidade, que ministrou a aula inaugural da unidade.

Para ele, a nova escola vai ajudar os jovens a realizar sonhos sem limites, contribuindo para uma nova realidade social. “A ideia do projeto nasceu a partir de uma viagem feita pelo governador Jaques Wagner a Natal, em 2008, para conhecer e avaliar a iniciativa do enorme poder de transformação social. Ainda bem que existem governantes assim, que priorizam a visão estratégica de pensar o futuro por meio das crianças”, destacou o neurocientista.

Conforme Nicolelis adiantou, o centro foi viabilizado pela parceria entre o Governo da Bahia e a Associação Alberto Santos Dumont de Apoio à Pesquisa (ASSDAP), que vai gerir a unidade. O governo cedeu o prédio, além de destinar R$ 5 milhões para implantação integral do projeto e operação pelo período de 18 meses. Depois a unidade passa a ser autossustentável.

A instalação está em sintonia com a meta estadual de interiorizar as ações de Ciência e Tecnologia. “Nem todos compreendem o valor dessa obra, que asfalta a estrada do futuro dessa garotada. Temos aqui uma alternativa consistente ao mundo de crime, cuidando da porta de entrada para a vida desses jovens. Vamos aumentar a capacidade dessa escola porque acreditamos que isso é só um bom começo”, ressaltou o governador, pontuando a criação de mais de mil Centro Digitais de Cidadania, cada um com dez computadores ligados à internet banda larga gratuita, que também contribuem para popularizar a ciência na Bahia.