Por meio da colheita mecânica e do preparo do solo, garantidos pelo protocolo de cooperação técnica e financeira entre a Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia (Seagri) e instituições parceiras, produtores familiares de algodão do Sudoeste baiano esperam um incremento na área plantada de até 15%, a expansão da cotonicultura e melhores condições para a produção, beneficiamento e comercialização do produto.

O assunto foi debatido durante o Dia de Campo realizado na sexta-feira (16) no distrito de Canabrava, município de Malhada, a cerca de 850 quilômetros de Salvador. O evento teve a participação de pequenos cotonicultores de diversos municípios da região, autoridades e técnicos do setor, e sinalizou para um aumento da produção além das expectativas, tanto com relação à área plantada, como em volume de produtividade.

“A partir do incentivo, ampliaremos nossa área cultivada de 700 para 3 mil hectares e aumentaremos a nossa produtividade média, que é de 170 arrobas por hectare. Outra conquista é o repasse do caroço para a Petrobras, por intermédio da EBDA, que servirá de matéria-prima para a produção de biodiesel”, disse o presidente da Associação dos Produtores de Leite e Algodão de Malhada (Aaproleite), Aurelizo Costa de Jesus.

Segundo o secretário da Agricultura, Eduardo Salles, apesar de a Bahia ser o segundo maior produtor nacional de algodão, o estado não tem uma grande indústria de beneficiamento. Verticalizar a produção, para agregar valor, é uma das metas da Seagri, que em parceria com a Aiba, Abapa, Fundeagro e Fundação Bahia e Fundação Getúlio Vargas, (FGV), está desenvolvendo um estudo para viabilizar a implantação de indústrias no Oeste e no Sudoeste do estado, para agregar valores às cadeias da soja, do milho e do algodão.

Na ocasião, Salles divulgou os avanços significativos na região e em toda a agropecuária baiana. “É com muito orgulho que anuncio o índice de vacinação recorde na região, que chegou a 97,7%, e o esforço dos estados da Bahia, Piauí e do Ministério da Agricultura (Mapa) em extinguir a Zona Tampão”. A Bahia vacinou 99,1% do seu rebanho. “Queremos reduzir também a idade de vacinação para até 24 meses”, declarou.

O secretário citou ainda a contratação de 417 novos técnicos para atuar nos serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural na região, falou do trabalho de emissão eletrônica de Daps e da conquista referente à anistia e amortização de dívidas agrícolas, dentre outras ações.

Cultivo social e ambientalmente correto

Os produtores estão motivados e, por isso, compareceram em massa ao terceiro Dia de Campo – Algodão Sustentável. Superando as expectativas da organização, que era de atrair mil pessoas, mais de 3 mil cotonicultores, pesquisadores e estudantes participaram das atividades e visitaram as estações.

O evento contou ainda com a participação do presidente da EBDA, Emerson Leal, do diretor de Defesa Sanitária Vegetal da Adab, Armando Sá, dos presidentes do Fundeagro, Ezelino Carvalho, e da Fundação Bahia, João Carlos Jacobsen, além de autoridades e lideranças municipais.

Durante o Dia de Campo foram distribuídas cartilhas informativas sobre o controle legislativo, os períodos de fiscalização que acontecem durante o plantio e condução da lavoura do algodão, a exemplo do prazo legal para destruição dos restos culturais, denominados de soqueira, até 31 de agosto, e para a eliminação de tigueras, entre outras orientações sobre a cultura do algodão.

Retomada do crescimento

O auge da cotonicultura no Sudoeste do estado, na década de 80, com mais de 250 mil hectares cultivados e 220 mil empregos gerados, foi lembrado por todos, bem como o declínio oriundo do surgimento de novas pragas e adversidades climáticas.

“O passado servirá como balizamento para analisarmos a evolução no presente. O governo vem fazendo o esforço, uma tentativa de retomada, mas víamos os produtores vendendo os insumos. Queremos vê-los organizados e capacitados, para que possam assumir e assimilar as tecnologias e, assim, aumentar a renda”, declarou Emersaon Leal, presidente da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) Ele.

Leal falou ainda do trabalho de reestruturação da empresa, que conta agora com 700 novos veículos e 900 técnicos, sendo 400 recém-contratados. “A grande luta nossa é fazer chegar a vocês as políticas públicas. Queremos verticalizar a produção para dar melhor condição de valorização da cultura”, completou.

Produção de qualidade

Sobre a viabilidade da cotonicultura para a agricultura familiar, o presidente da Fundação Bahia, João Carlos Jackbsen afirma que “a pequena propriedade é viável para a cultura do algodão sim e, se implantada de forma social e ambientalmente correta, passa a ser sustentável economicamente”. Para ele, o principal fundamento comum aos pequenos e grandes produtores é acreditar no potencial em suas diferentes etapas, no preparo, colheita, comercialização.

“O cotonicultor precisa saber que é capaz e que o sucesso está no trabalho. Temos que garantir uma produção de qualidade, fazer com que o algodão do pequeno tenha a mesma qualidade que o do grande. É assim no mundo todo”, declarou Jackobsen, referindo-se à estatística de que 80% do algodão do mundo é produzido por pequenos produtores.

O Dia de Campo é parte das ações do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cotonicultura do Sudoeste da Bahia, que disponibiliza, através do protocolo técnico e financeiro, um recurso aproximado de R$ 640 mil para as ações de incentivo à região. Para o presidente do Fundeagro, Ezelino Carvalho, o recurso viabiliza a colheita, mas o crescimento e a sustentabilidade dependem muito mais dos agricultores e do acesso ao crédito.