Antes mesmo de o primeiro incêndio ocorrer na Chapada Diamantina este ano, os trabalhos para reduzir os desastres comuns em época de estiagem já foram iniciados pelo governo da Bahia, por meio da Coordenação da Defesa Civil do Estado (Cordec), órgão da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes).

A reunião de trabalho, realizada no município de Andaraí na terça-feira (13) e que marcou o início das ações este ano, contou com a participação de nove das dez prefeituras conveniadas no semestre passado para atuar no monitoramento e combate aos incêndios florestais na Chapada Diamantina.

A estratégia do Estado é ter mais eficiência e melhor desempenho dos municípios nas ações de prevenção, monitoramento e combate aos incêndios florestais na região.

Uma das ações discutidas durante o encontro foi a criação de uma base da Defesa Civil para apoiar os brigadistas e envolvidos no combate ao fogo. A base vai atuar oferecendo aos combatentes segurança e condições para a atividade, com apoio na área de saúde, equipamentos e outras necessidades. Serão investidos pelo Estado R$ 224,6 mil, além de R$ 28,7 mil de contrapartida dos municípios proponentes.

No início, os recursos são repassados para os municípios afetados com o longo período de estiagem e incidência de incêndios. Outros municípios podem entrar no processo de combate, de acordo com a apresentação do relatório e plano de trabalho.

Para isso, é preciso criar as brigadas voluntárias, que serão parceiras em todas as etapas previstas, o que significa mais de 500 homens e mulheres preparados e diretamente envolvidos nesta causa. O plano de ações é da Sedes e conta com o apoio da União dos Municípios da Chapada Diamantina (UMCD) e de órgãos estaduais e municipais.

A secretária da Sedes, Arany Santana, disse que a ação é um processo maior de integração entre todos os órgãos do Estado que têm afinidade com o assunto. “Este é o início de uma nova relação, onde a sociedade civil e o Estado deixam de ser os únicos responsáveis pelas ações de prevenção, combate e monitoramento, dividindo essas tarefas com as prefeituras. Com esta ação, garantimos a participação dos brigadistas voluntários, mas não mais nos moldes do combatente sem proteção. Hoje, o governo realiza convênios com os municípios e estes dão apoio aos brigadistas”, explicou.

O coordenador da Cordec, Antônio Rodrigues, destacou que o objetivo da reunião foi dividir com os municípios e com a sociedade civil a responsabilidade para o monitoramento e para a prevenção e combate aos incêndios. “Não vamos descuidar da questão oficial, da parte que compete ao Estado executar. Vamos criar uma central aqui na Chapada Diamantina, onde vai haver o monitoramento feito pela Cordec junto com o Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá), o Instituto do Meio Ambiente (Ima), o Corpo de Bombeiros e a Secretaria do Meio Ambiente (Sema). Também vamos firmar um termo de compromisso com o Instituto Chico Mendes (ICMBio) para podermos implantar um sistema de comunicação na Chapada e garantir a contratação das aeronaves, se for necessário”, disse Rodrigues.

Brigadas

As brigadas são voluntárias, não dependem da questão oficial para serem montadas. Todos os dez municípios da Chapada possuem mais de uma brigada e passarão a apoiar os brigadistas.

Os municípios que participaram da reunião são os mesmos que já foram conveniados no semestre passado. O anfitrião do encontro, o prefeito de Andaraí e também presidente da UMCD, Wilson Paes Cardoso, afirmou que é importante que o Estado participe e ajude a monitorar e preparar para o período de incêndio na Chapada. “A nossa intenção é que cada chapadeiro se transforme em um brigadista voluntário”, declarou.

Segundo o presidente da Associação dos Condutores de Visitantes de Andaraí (ACVA), Homero Vieira, este é um processo que vem sendo construído há 24 anos. “O Parque Nacional, o meio ambiente é da responsabilidade de todos e não apenas de um grupo ou de uma classe social. A principal importância é exatamente esta, que sem a integração desses órgãos e da sociedade civil não há trabalho eficaz, principalmente na questão ambiental”.

Vieira avaliou que na última tragédia, o grande incêndio de 2008, uma das causas foi a falta de união. “Ou trabalha todo mundo junto ou não funciona. Sem a participação da comunidade, sem a prefeitura, este combate não dará certo. E este processo passa por todos os setores, desde a educação, segurança, saúde, turismo. Todos precisam se envolver também. Acho que hoje foi exatamente o pontapé para esta questão, onde todo mundo é responsável”.

Municípios devem apresentar documentação para receber recursos

Os municípios conveniados são Abaíra, com previsão para receber R$ 22,3 mil, Andaraí (R$ 33,5 mil), Barra da Estiva (R$ 20,6 mil), Bonito (R$ 28,2 mil), Dom Basílio (R$ 21,6 mil), Lençóis (R$ 27,7 mil), Mucugê (R$ 27,8 mil), Nova Redenção (R$ 19,8 mil), Rio de Contas (R$ 28,8 mil) e Utinga (R$ 22,7 mil).

“Os outros municípios com históricos de incêndios florestais serão contemplados na medida em que a documentação necessária seja encaminhada”, informou Rodrigues.

O prefeito de Nova Redenção, Ivan Soares, acredita que não é tarde para se resolver as questões. “Ao longo dos anos, a Chapada tem sido assolada pelos incêndios florestais. E a grande dificuldade de penetração na mata, de acesso, é que a gente precisava da vontade política, no sentido de instrumentalizar a região, capacitar pessoas, instruir tecnicamente como combater essas situações, pelo menos para amenizar os danos que já ocorreram anteriormente”.

Ele disse que a satisfação é acompanhar a gestão do Estado e perceber que existem órgãos sensíveis a esta questão. “As pessoas no meu município nem conheciam como é que funciona uma brigada. Hoje temos três brigadistas, que vão saber como tratar disso, não só os incêndios serranos, mas também aqueles que acontecem em acampamentos e assentamentos dos sem-terra, em fazendas, na periferia do município”.

Participaram da reunião representantes da Sema, Sedes, Sesab, Seagri, SEC, Cordec, IMA, Ingá, Casa Militar, Corpo de Bombeiros, ICMBio, Ibama, das prefeituras que firmaram os convênios, brigadas voluntárias e da UMCD.