Esqueça aquela aulinha monótona só com o professor falando e o quadro de giz. Nas aulas do professor Vanildo dos Santos Silva, os alunos aprendem Matemática brincando e de forma descontraída. Um dos ingredientes do processo de aprendizagem é a criatividade. Não que o quadro de giz fique de fora do processo, mas, aliado a ele, círculos, palitos, bolas de gude e uma tábula simétrica entram na brincadeira de aprender.

No Colégio Estadual Monteiro Lobato, em Vista Alegre, no bairro de Coutos, em Salvador, o resultado disso pode ser constatado no maior interesse e participação dos alunos, aumento da frequência e também no desempenho dos estudantes nas avaliações. As novas alternativas para o ensino da Matemática foram discutidas no X Encontro Nacional de Educação Matemática, encerrado, nesta sexta-feira (9), na Universidade Católica de Salvador (Ucsal).

Professor há 15 anos e integrante do quadro da rede estadual há 8, o professor Vanildo conta que a iniciativa é resultado do projeto Equações do 1º grau, o Xis da Questão, no qual ele busca fazer com que os alunos não se limitem à aplicação de fórmulas para resolução dos problemas, mas que, de fato, os compreenda.

“Considero que a linguagem matemática é rebuscada e possui uma riqueza de símbolos. Sinais são misturados com letras e números, o que nem sempre é compreensível para os alunos. O X pode representar muita coisa ou nada e as regras de sinais se constroem experimentando. Minha proposta é materializar esses símbolos matemáticos de forma que os estudantes possam ter um aprendizado efetivo”, explica o professor.

Nas aulas de Vanildo, o xis da questão que, nas equações sempre é uma incógnita, é materializado em uma caixa fechada cheia de gudes. Os alunos tocam na caixa, percebem que ela possui algumas unidades de gude, mas, por estar fechada, ninguém sabe informar quantas são.

“Isso é uma incógnita. Aí, falo para os alunos que, se eu acrescer uma bolinha na caixa, eu passarei a ter 10 unidades. Ou seja, já criei uma sentença e a levo para o quadro de giz”, conta o professor. Nas aulas, ninguém fica parado. Todo mundo quer falar e participar e, claro, aprender.

“Ele ensina de um jeito que é fácil de aprender”
A técnica é tão eficiente que fez com que estudantes como Jéssica Ferreira dos Santos, 11 anos, e Lorena de Oliveira, 12, passassem a gostar da disciplina. “Até a 5ª série eu não gostava de Matemática, mas o jeito dele ensinar é diferente dos outros. A sala toda participa na hora de resolver um problema”, diz Lorena, que é aluna da 6ª série e já conseguiu nota 10 na disciplina. Jéssica ressalta que a forma do professor ensinar é fundamental para ampliar o nível de aprendizado. “Ele ensina de um jeito que é fácil de aprender. As aulas são muito boas”.

São resultados como estes que estimulam o professor a continuar buscando meios de inovar para tornar as aulas mais atrativas e o aprendizado mais eficaz. “Meu maior retorno é quando percebo que os alunos começam a passar para o papel uma sequência. Ali, mesmo quando ele erra, o pensamento é coerente. Ele não está ali só aplicando uma fórmula, mas um conhecimento que ele aprendeu”.

Vanildo enfatiza ainda que outra alegria é constatar o entusiasmo dos estudantes com as aulas. “Já aconteceu de eu ter que faltar e os alunos questionarem a minha ausência. Isso é muito positivo”.

O projeto Equações do 1º grau, o Xis da Questão foi elaborado e implantado pelo professor Vanildo na Escola Municipal de Fazenda Coutos e foi vencedor do prêmio Professores do Brasil, do Ministério da Educação (MEC). Este ano, ele levou a proposta para as turmas de 6ª série do Colégio Estadual Monteiro Lobato, em Vista Alegre, no bairro de Coutos, em Salvador.

Capacitação
Professores da rede estadual são capacitados para reinventar e oxigenar a prática docente na disciplina de Matemática. Isso acontece tanto no programa Gestão do Aprendizado Escolar (Gestar), que, de 2008 até o momento, já formou 2,5 mil professores na disciplina, como também na série de videoconferências Descomplicando a Matemática, que coloca os profissionais da rede em contato com pesquisadores de ponta, no intuito de que acompanhem as inovações que estão acontecendo na prática docente.

De acordo com a diretora de Formação e Experimentação Profissional do Instituto Anísio Teixeira (IAT), Ana Carolina Reis Pereira, o Gestar é uma formação continuada que os professores realizam sem sair da sala de aula. “Tem um impacto muito positivo, fundamental para os professores que lecionam Português e Matemática”.

Uma pesquisa realizada em 2008 mostrou que os municípios em que os professores participaram do Gestar tiveram melhor desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) que os demais. No intuito de ampliar essa pesquisa para ter uma dimensão mais apurada do impacto do programa de formação no Ideb, a Secretaria da Educação assinou recentemente um convênio com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). “Vamos começar a preparar os especialistas do Gestar para aferir com maiores detalhes estes resultados”, informa Ana Carolina.