Aproveitando as relações diretas e a responsabilidade individual que remete às comunidades indígenas, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes), por meio do projeto Pescando Renda e da Superintendência de Inclusão e Assistência Alimentar (SIAA), está capacitando cinco membros da tribo Pataxó, em Coroa Vermelha, próximo a Porto Seguro, no sul do estado, e também a pescadora profissional, Alessandra Godinho, única mulher da Bahia a pescar em mar aberto. Estes pescadores vão atuar como agentes multiplicadores nas suas comunidades.

Conhecimentos sobre navegação oceânica, equipamentos náuticos, funcionamento e manutenção de motores, carta náutica, uso do GPS, além de manutenção de fibra de vidro serão postos em prática em duas embarcações completas de pesca oceânica doadas pela Sedes, em cumprimento ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado, em 2005, com o Ministério Público Federal (MPF), e cumprido pelo Governo do Estado este ano.

A capacitação vai até o dia 12 deste mês, no Estaleiro da Fundipesca, em Camaçari, das 8h às 12h, e das 14h às 17h, e ensinará aos pescadores a manejar e manter as embarcações. Alessandra Godinho, 26 anos, a Dandinha, não faz parte da tribo, mas sua vasta experiência na pesca e a paixão pelo mar garantiu a participação no projeto.

Dandinha integra a primeira colônia de pescadores do Brasil, no Rio Vermelho, e desde cedo aproveitava as idas de seu pai ao local para, na beira da praia, pescar de tarrafa. Com a precisão e o cuidado que só as mulheres têm, ela vai dando forma ao saveiro, que será seu ao final do curso.

“Vou ter duas profissões. Nunca pensei em ter uma oportunidade dessas. Agora, não só pescando, mas construindo também. Eu utilizava uma embarcação de madeira com pouca estrutura. Ficava três dias no mar, com um barquinho que entrava água, e era o maior aperto, pois dormia encolhidinha na proa. Imagine agora! Com esse saveiro vou ter beliche, tecnologia, além de poder levar mais três colegas”, comemora Alessandra.

O índio Tatuí, registrado como Aloísio Matos, de cocar na cabeça, mas sem deixar de usar todos os equipamentos de proteção individual, vai dando os acabamentos finais às embarcações batizadas de Apipe I e II, alusão à Associação de Pescadores Indígenas Pataxó. O presidente da associação que, mesmo não sendo cacique, é um líder nato, destaca a importância de valorizar esses conhecimentos para disseminar o conteúdo aprendido.

“Anos atrás, alguns dos nossos filhos tinham vergonha de dizer que seus pais eram pescadores. Hoje, com a criação do Ministério da Pesca, essa classe vem se valorizando e, de fato, sendo valorizada. Uma classe que produz 65% do pescado de todo o mercado, sem desagradar o meio ambiente”, ressalta Tatuí.

Cada barco comporta oito tripulantes e será implantado o sistema de gestão sustentável com rodízio, considerando que cada viagem para a pesca dure aproximadamente quatro dias. Em 12 dias, as embarcações estarão sendo utilizadas por 48 pescadores. Em um mês, cerca de 120 pescadores estarão atuando em rodízio na pesca.

Renda com inclusão social e segurança alimentar
Conforme o coordenador do Pescando Renda, Geraldo Aquino, o projeto trabalha com comunidades tradicionais e tem como objetivo gerar renda com inclusão social e, principalmente, segurança alimentar. “Foram investidos em treinamento e equipamentos de pesca oceânica em alto mar, cerca de R$ 401 mil. A doação das embarcações cumpre a missão da Sedes, além de atender ao termo de acordo e compromisso fechado com o Ministério Público no governo passado”.

Além de proporcionar a aquisição de equipamentos e promover a segurança alimentar, a Secretaria elaborou o plano de gestão de maneira sustentável, que vai orientar a comunidade indígena para a utilização das embarcações de maneira responsável e na criação do Fundo de Inclusão Social (FIS), o que vai assegurar a sustentabilidade da iniciativa.