Na pequena represa da zona rural de Taperoá, no baixo sul do estado, o trabalho começa com a abertura das comportas. O objetivo é esvaziar o lago e facilitar a retirada dos peixes, colocados ali há oito meses, ainda filhotes, e que agora estão no tamanho ideal para consumo. A despesca, como é chamada a colheita de peixes criados em cativeiro, acontece desde o início do mês em Taperoá e em outras cidades beneficiadas pelo Programa de Povoamento de Aguadas Comunitárias, desenvolvido pelo Governo do Estado por meio da Bahiapesca.

No baixo sul foram distribuídos 170 mil filhotes de Tambaquis e Tilápias para cerca de 500 famílias. O programa também distribui outros tipos de peixes. “Estamos muito satisfeitos, recebemos o treinamento, os peixes e aí foi só providenciar um tanque ou uma represa, alimentar e colher o resultado”, comemorou o agricultor João de Jesus. Segundo ele, parte dos peixes vai ser consumida e a outra vendida. “Cada um faz o que quer com o que ganhar. Como todos ajudaram na criação e na despesca, todos têm direito a um pouco de peixe”, completou.

Mais uma fonte de renda

A ideia do Programa de Povoamento de Aguadas Públicas é justamente fornecer a agricultura familiar baiana mais uma fonte de renda e alimento com a criação de peixes em açudes, lagos e represas comunitárias. O trabalho começa com a produção e distribuição dos alevinos, filhotes de peixe, pela BahiaPesca. Os beneficiados também recebem treinamento e apoio técnico durante toda a criação.

“As pessoas estão felizes por que agora têm o que comer. Aqui as principais culturas agrícolas não matam a fome, é o caso do guaraná, do cravo e do cacau. Se o preço estiver baixo, o agricultor tem dificuldade. Agora eles sabem que não vai faltar comida na mesa”, comemorou o produtor Pedro Azevedo. Depois da despesca, o riacho volta a ser represado virando uma lagoa que é povoada com novos alevinos. Eles serão alimentados durante oito meses até que chegue uma nova despesca.

Ostreicultura complementa renda na comunidade de Graciosa

A dez quilômetros de Taperoá, na comunidade rural de Graciosa, um programa de ostreicultura desenvolvido pela Bahiapesca ajuda pescadores e marisqueiros a aumentar a renda. Eles recebem equipamentos e apoio técnico para criar ostras no estuário de Cairú.

Os moluscos são retirados do fundo do estuário ainda pequenos, na chamada fase de semente. Depois são colocados em gaiolas presas por cordas e bóias, onde vão se alimentar e crescer até 12 centímetros. Segundo o técnico da BahiaPesca, Adriano Príncipe, por serem originários da região, os moluscos têm facilidade para se alimentar e não provocam nenhum tipo de alteração no meio ambiente.

“Como o cativeiro fica no ambiente onde as ostras vivem, a fonte de alimentação é a natural. Os criadores não precisam gastar com ração. A Bahiapesca fornece todos os equipamentos e faz visitas técnicas para acompanhar o trabalho”, explica o técnico.

Até o ponto onde estão fixadas as gaiolas, os pescadores que fazem parte do projeto remam cerca de 500 metros numa canoa. Com uma faca, eles raspam a carapaça da ostra para fazer a limpeza e ajudar no crescimento do molusco. Quando atinge a fase adulta a dúzia é vendida por até R$ 6.

A colheita das ostras acontece uma vez por ano, geralmente no verão, quando o movimento de turistas faz crescer a demanda pelo marisco, que é comido cru, grelhado ou cozido e tem um sabor muito apreciado.“É um complemento pra gente. Com o que ganhamos dá pra cada família ficar com R$ 200 ou R$ 300 por mês, se não vender tudo podemos nos alimentar”, afirma o pescador Sandro Ramos.

O objetivo agora é que os pescadores que participam da criação ganhem autonomia e se tornem autosuficientes, inclusive atraindo outras famílias para participar do projeto. Não há intenção de que, em curto prazo, essa seja a principal atividade dos marisqueiros, mas que se torne, com o tempo, uma importante fonte de renda e alimento para essas comunidades.