O ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, reuniu-se, nesta segunda-feira (16), com 13 secretários de estado baianos para identificar os vínculos do Projeto Nordeste, que propõe a construção de um plano de desenvolvimento da região com o Projeto Nacional, conjunto de documentos para a elaboração de políticas públicas, para ancorar a Agenda Baiana de Desenvolvimento. O encontro buscou ampliar a discussão em torno da elaboração da agenda, que vem sendo construída por meio da integração de diretrizes e reflexões ao desenvolvimento sustentável.

Segundo Unger, professor vitalício da Universidade Harvard (EUA), a política regional não deve ser entendida como distribuição de favores e subsídios a regiões menos desenvolvidas, mas como a construção regional de um projeto nacional.  “O Nordeste é um terreno privilegiado para a implantação de um novo modelo. A essência é ancorar o crescimento econômico na ampliação de oportunidades para aprender, para trabalhar e para produzir. Com isso, ancorar o social na maneira de organizar o econômico”, disse.

Três premissas
O projeto, que foi elaborado a partir de diálogos com governadores, administradores municipais, empresários e movimentos sociais, aborda três premissas para a construção de um ideário do projeto de desenvolvimento. A primeira afirma que a região Nordeste apesar de fervilhar hoje de inovação, não possui um projeto orientador de desenvolvimento.

A segunda premissa considera a existência de duas grandes forças construtivas que atuam no Nordeste: um empreendedorismo emergente, encarnado, sobretudo, em pequenas e médias empresas e a inventividade tecnológica popular difusa, porém desequipada. E a terceira e última reafirma que assim como não há solução para o Brasil sem solução para o Nordeste, não há solução para o Nordeste sem solução para o semiárido.

“Há quatro macrorregiões no Nordeste: a zona litorânea, o semiárido (maioria do território), o cerrado e a pré-amazônia. Há uma grande tentação de abandonar o semiárido e focar o desenvolvimento no litoral e no serrado. Um equívoco fatal, que entregaria o desenvolvimento a forças concentradoras da riqueza, da renda e do poder”.

Para Unger, a ausência de um projeto ameaça ser substituída por duas ilusões. A primeira, chamada de pobrismo e integrada por iniciativas que atenuam as desigualdades e empregam as pessoas mais pobres, sem construir uma estratégia de desenvolvimento, sobretudo no semiárido. E a segunda, que se manifesta com o fascínio por grandes obras, como as siderurgias e as refinarias, freqüentemente surgidas a uma lógica de enclave. “Esta ilusão pode ser chamada de saopaulismo, que é a ideia de reproduzir no Nordeste um modelo de desenvolvimento industrial de São Paulo de meados do século passado”.

Para o ex-ministro, é preciso haver uma política industrial focada nas pequenas e médias empresas. O estado pode desempenhar papel crucial na criação de condições financeiras, tecnológicas e comerciais, que possibilitem esse avanço rumo a uma vanguarda tecnológica e organizativa. Para isso, assegura, seria útil estabelecer uma agência de empreendedorismo, destinada a organizar a cooperação federativa. “É importante usar as Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs) como instrumento de uma política industrial e não apenas como entrepostos comerciais dependentes do favor fiscal”.