Em vez das tradicionais fileiras de carteiras, os estudantes se reúnem em grupo de acordo com a série. Na Escola Municipal São Francisco de Assis, na zona rural de Simões Filho, estudantes da 1ª a 4ª série dividem o mesmo espaço e se ajudam. A ideia é que todos os estudantes se sintam corresponsáveis pelo processo de aprendizagem. A realidade de lá é compartilhada por 160 mil estudantes da zona rural do estado, que participam do programa Escola Ativa, uma iniciativa do Ministério da Educação, que vem sendo implementada em parceria com a Secretaria da Educação do Estado da Bahia e as secretarias de Educação de 328 municípios baianos.

Aluno da 4ª série da São Francisco de Assis, Márcio da Luz Silva, 11 anos, sente o maior orgulho em poder compartilhar suas aprendizagens com os demais colegas das séries anteriores. “Ajudando os meus colegas eu também estou aprendendo”, avalia o estudante, que faz questão de saber cada vez mais para poder compartilhar os conhecimentos.

O coordenador de Educação no Campo da Secretaria da Educação do Estado, Lindomar Araújo, conta que “no começo de 2007, não passavam de 18 mil os estudantes contemplados. Atualmente, após a adesão de 2010, são mais de 160 mil estudantes a serem atendidos em localidades de 328 municípios”.

Com salas organizadas em pequenos grupos, Lindomar Araújo explica que o diferencial do programa é que ele reconhece e valoriza todas as formas de organização social e características do campo baiano e brasileiro. Segundo ele, “a metodologia do programa Escola Ativa é específica para as classes multisseriadas, que reúnem na mesma sala de aula várias séries simultaneamente, garantindo igualdade de condições para acesso, permanência e sucesso na escola”.

Hoje, os ganhos do programa são reconhecidos. Mas, no passado, assim que soube que teria uma classe com alunos de séries distintas, a professora Lázara Oliveira ficou assustada. “A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi que eu não daria conta disso. Aos poucos fui vendo que os resultados são surpreendentes. Valorizamos os saberes que temos dentro da sala de aula e isso é muito positivo para a autoestima destes alunos”, explica Lázara, que é professora da Escola Nossa Senhora do Carmo, na comunidade quilombola Dandá, também na zona rural de Simões Filho.

A metodologia apresenta quatro elementos estruturantes: Cadernos de Aprendizagem, Cantinhos de Aprendizagem, Colegiado Estudantil e Escola e Comunidade, possibilitando um currículo dinâmico e contextualizado. A gestão da sala é democrática e participativa, com envolvimento dos pais, professor e todos os alunos. Em vez da tradicional chamada são os próprios alunos que preenchem a frequência em mural disposto na sala de aula e cada turma tem comitês de gestão, que são criados de acordo com as necessidades e interesses dos alunos

“Os comitês dão a cada grupo a responsabilidade de assumir uma função dentro da escola, que vai da recepção à higiene. Essa é uma forma de valorizar os alunos do campo e incentivar a participação deles no dia a dia da escola”, explica a professora multiplicadora da Escola Ativa, Núbia Santos de Jesus.

Outro diferencial do Programa é que, volta e meia, os estudantes estão interagindo com o fazer e a cultura do campo. Assim que teve a primeira aula de plantio de horta na Escola Municipal Manoel Evangelista, a estudante da 1ª série, Elisa Borges da Silva, tratou logo de compartilhar o conhecimento com a família. “Minha mãe já tinha uma leira em casa, mas ela não fazia da forma correta, quando chovia, a água levava tudo. Eu ensinei a ela a maneira certa e hoje temos couve, cebolinha, coentro, salsa e hortelã grosso em casa”, conta, orgulhosa, a estudante, adiantando que a família já pensa em comercializar as hortaliças.