O trabalho educacional desenvolvido em comunidades quilombolas pela Secretaria da Educação da Bahia já cumpre o que garante o Estatuto da Igualdade Racial, sancionado no último dia 20 pelo presidente Lula. O documento legal prevê o respeito a atividades educacionais e culturais adequadas aos interesses e condições dos afro-brasileiros.

A Secretaria, por meio da Coordenação de Educação para Relações Étnico-Raciais e Diversidade, desenvolve projeto voltado ao respeito com os membros destas comunidades, a um mapeamento das áreas e, principalmente, ao diálogo para entender as carências e anseios destas famílias, que foram excluídas durante séculos no País.

Mais escolas 
Além do mapeamento do que já existe, do aprimoramento do ensino e da elaboração das diretrizes estaduais para a educação quilombola, está em fase de análise e captação de recursos no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, um projeto que prevê a criação de 21 escolas de ensino fundamental e sete escolas de ensino médio nas comunidades quilombolas.

“Estamos mais avançados do que outros Estados e à frente do Estatuto da Igualdade Racial”, diz Nádia Cardoso, coordenadora de Diversidade. Segundo ela, já foram realizados dois fóruns estaduais de educação quilombola, o primeiro em novembro de 2009 e o segundo em junho passado, sempre com foco no diálogo para a construção e execução de políticas públicas educacionais para essas comunidades. A iniciativa tem a aprovação da comunidade quilombola.

“A Secretaria desenvolveu ações afirmativas e, pela primeira vez, o professor foi ouvido neste sentido. Participei dos fóruns e o que aconteceu nestes encontros foi muito produtivo, principalmente com relação ao diálogo. Já estamos desenvolvendo, inclusive, oficinas com o que foi assimilado nos encontros”, ressalta a professora quilombola Jailde Lima da Silva, do município de Antônio Gonçalves.

Coordenação 
A Secretaria da Educação criou a Coordenação de Educação das Relações Étnico-Raciais e Diversidade em 2008. Pela primeira vez o Estado passou a contar com um espaço para se tratar de questões ligadas à educação dos afrodescendentes. As ações incluem a capacitação de professores para o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, prevista pela lei nº 10.639/2003 e agora ressaltado com a aprovação do Estatuto da Igualdade Social.

O programa baiano é intitulado de Agora a História é Outra. “Estamos trabalhando especialmente na formação de professores para o ensino destas temáticas. Esse processo de formação é fundamental para que o profissional saiba como incluir a história e cultura afro-brasileira, que, por muitos anos, foi estereotipado”, informa Nádia Cardoso.

Novo documento
O Estatuto da Igualdade Racial, sancionado pelo presidente Lula juntamente com a lei que cria a Universidade Federal da Integração Luso-Afro-Brasileira (Unilab), prevê garantias e o estabelecimento de políticas públicas para os negros. O documento, em tramitação há sete anos, tem a intenção de corrigir desigualdades históricas e, além da obrigação do estudo da história da África, reconhece o direito à propriedade aos remanescentes de quilombos e a inclusão do negro no mercado de trabalho, dentre outras questões.

A nova universidade, que será localizada no município de Redenção, no Ceará, tem previsão de trabalhar com cinco mil alunos de graduação. A proposta é dialogar com países africanos, inclusive com o intercâmbio de estudantes.

Enquanto a sede oficial não é construída, o ensino já começa neste ano em instalações provisórias. Redenção foi escolhida para abrigar a universidade pelo fato de ter sido a primeira cidade a abolir a escravidão (cinco anos antes da chegada da Lei Áurea).