O núcleo azulejado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída nos primórdios do século 18, passa por restaurações. Localizada no Largo do Pelourinho, nas imediações da antiga muralha que circundava Salvador, próxima à passagem de entrada e saída da cidade, antiga Porta do Carmo, a edificação é tombada como Patrimônio do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IphanMinC) e está sendo restaurada pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), unidade da Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA).

“Alguns desses azulejos retratam cenas relativas à devoção ao Rosário de Lisboa e são originários de 1790”, diz o arquiteto-fiscal do Ipac, Cássio Sales. O técnico explica que as peças passaram por processo especial de limpeza, recuperação e produção de faltantes. “Elas são reposicionadas, inclusive, com placas de fibrocimento que evitam a umidade das paredes e torna mais fácil a remoção, quando necessária”.

Segundo um dos restauradores, o especialista em azulejos, Estácio Fernandes, os trabalhos do Ipac, no Rosário dos Pretos, é um dos mais criteriosos dos que já coordenou, exigindo muita técnica e minúcia para a reposição de 200 peças que faltavam.

Para a confecção das peças foi utilizada a mesma técnica de azulejos do século 18, existente em Portugal nesse período histórico. Inclusive os pigmentos foram importados desse país. “É a primeira vez que se utiliza essa técnica em monumentos na Bahia. Não conheço ninguém que faça esse tipo de trabalho, a não ser em Portugal”.

Esta é apenas uma das seis restaurações que o Ipac faz no Centro Histórico de Salvador (CHS). Até agora foram investidos mais de R$ 20 milhões para restaurar seis monumentos como a igreja do Boqueirão, Casa das Sete Mortes, Palácio Rio Branco – já entregues -, igrejas do Rosário dos Pretos e Pilar, e o Oratório da Cruz do Pascoal.

Os recursos são do Ministério do Turismo, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), contrapartida do Governo do Estado e repasse da Secretaria do Turismo (Setur). Na obra do Rosário dos Pretos, o Ipac realiza ainda restaurações de forros, altares, telhados, assoalhos, torres e pinturas, além da recuperação das imagens sacras e bens móveis, representando investimento total de R$ 2,3 milhões.

Trabalho minucioso 

Os azulejos revestem todas as paredes internas da igreja, incluindo nave, subcoro e capela-mor, com temas voltados para a vida de São Domingos e da Virgem Maria. Antes do início da restauração, a equipe executou levantamentos para identificar patologias, perdas de vidrados e biscoitos – termos da azulejaria -, além da desagregação das argamassas e de peças trocadas. Nas torres foram diagnosticados suportes soltos, acúmulo e proliferação de microrganismos e vegetação.

O conjunto de azulejos da igreja Rosário dos Pretos é da segunda metade do século 18 e um dos mais significativos do país. Ele só é superado, na Bahia, pelos azulejos da Igreja de São Francisco, que é o segundo maior do mundo. Estima-se, segundo o professor português José Meco, que os azulejos da Rosário dos Pretos foram decorados pelo notável artista português Francisco Gonçalves da Costa, na Fábrica do Rato, em Portugal.