Um evento marcou na tarde de quinta-feira (23), no município de Barreiras, a 853 quilômetros de Salvador, o início das obras da maior indústria de alimentos de derivados de milho do país. A fábrica da Vitamilho integra o plano de expansão da Campo Brasil Indústria e Comércio Ltda.

Segundo o secretário estadual da Agricultura, Eduardo Salles, o processo de negociação entre a prefeitura de Barreiras e a Vitamilho, com apoio da Seagri, para a implantação da fábrica na cidade não demorou. “Durante a 28ª Expobarreiras, foi assinado o protocolo de intenções entre a indústria e o poder público. Agora, a aliança firmada se materializa com o início das obras de construção, que serão executadas numa área de 120 mil metros quadrados no distrito industrial do município, num investimento de R$ 40 milhões”.

“A região já precisava muito de uma indústria como essa”, destacou a prefeita de Barreiras, Jusmari Oliveira. O presidente da Vitamilho, Eduardo Silva, acredita que a vinda da fábrica para o produtor de milho é “uma grata oportunidade de ter uma empresa focada na região”.

Para o presidente do Centro das Indústrias do Oeste da Bahia, Pedro Tassi, a instalação da Vitamilho anima os produtores da região. “Para nós empresários, a fábrica vai fazer a diferença, por se tratar de uma empresa nacional de peso”.

A capacidade total de processamento corresponde a 216 mil toneladas/ano de milho in natura e 3,6 mil toneladas/ano de arroz. A estimativa é que sejam gerados 220 postos de trabalho e mais de mil empregos diretos e indiretos na região.

A principal atividade da Campo Brasil é a produção e comercialização de canjica de milho para a indústria de pipoca, salgadinhos e outros alimentos à base de milho, farinha e flocão para consumo humano, ração e farelo de milho para consumo animal e processamento de arroz para a produção de flocão de arroz. A matéria-prima será toda da região, o que viabiliza o negócio, tornando mais acessível o preço dos produtos para a indústria.

Uso da própria matéria-prima

De acordo com o presidente interino do Banco do Nordeste, Paulo Sérgio Ferraro, as oportunidades do negócio na região transparecem o orgulho do cidadão do oeste da Bahia em produzir o milho e não mais desejar se mudar para metrópoles como São Paulo, por ter a condição de industrializar a própria matéria-prima do local. Para o superintendente do Banco do Nordeste, Nilo Meira Filho, o oeste da Bahia, com destaque para a região de Barreiras, representa muito a força da economia do município.

“Enxergamos como importância vital para a economia regional o desenvolvimento da matriz agrícola do milho, no quesito de geração de emprego e renda e para despontar a região como potencial de produção da cultura do milho”, disse o gerente regional da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Carlos Augusto Araújo, ressaltando a assistência técnica e o aperfeiçoamento desses produtores da agricultura familiar.

A fábrica de Barreiras processará o equivalente a 15% da produção do milho baiano. A recém-inaugurada fábrica da Coringa em Luís Eduardo Magalhães vai processar 20% da produção. As duas empresas juntas são responsáveis por 35% do processamento do milho do estado, o que aponta para a necessidade de triplicar a produção, considerando-se o estudo que está sendo finalizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) para indicar os melhores caminhos para a oferta de incentivos fiscais e assim atrair novas indústrias para agregar valor ao milho, ao algodão e à soja.

Além do aspecto econômico, a cultura do milho é muito importante para o oeste da Bahia, em termos agronômicos, como opção para rotação de culturas. A região é responsável por mais de 50% de todo o milho produzido no estado e abastece tanto as granjas de aves e suínos, como a indústria alimentícia do Nordeste do país. Além disso, a Seagri trabalha para estimular a avicultura e a suinocultura na região, ampliando a demanda por milho.

Avaliação de desempenho

A Fundação Bahia, em parceria com as empresas fornecedoras de semente de milho na região, desenvolve a cada safra estudos que avaliam o desempenho dos diferentes híbridos comerciais, além de aspectos relacionados à adubação e controle de doenças. Os resultados são divulgados em publicações e dias de campo, que permitem maior segurança ao produtor na tomada de decisão.

O coordenador regional da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), Pedro Mariano, considera esse momento importante, porque existe uma produção suficiente de milho na região que vai atender a uma demanda decorrente da industrialização. “Quando os agricultores alcançam bons índices de produtividade, como nesta safra, o mercado opera com expectativa de forte pressão de oferta. Esta pressão, aliada a um déficit de estrutura de armazenagem, tem como efeito imediato a redução dos preços praticados pelo mercado”, explicou Mariano.

Posição estratégica da Bahia no Nordeste

A Bahia ocupa posição estratégica no abastecimento de milho no Nordeste, uma vez que os demais estados da região são consumidores do produto, principalmente Pernambuco e Ceará, que têm uma produção de aves significativa, mas uma produção do cereal deficitária.

Pela localização geográfica, o milho baiano se torna menos oneroso para avicultores desses estados, pela redução dos custos com fretes. Assim, para a safra 2009/2010 no oeste da Bahia, a colheita do milho na região será de 1,47 milhão de toneladas.

O oeste da Bahia tem crescido economicamente em função da exploração agropecuária e agroindustrial, cuja intensificação começou na década de 80, mas registra taxas acima das contabilizadas pelo Brasil, desde o início dos anos 90. O agronegócio tem servido de base para esse desenvolvimento, em especial o segmento produtor de grãos. A região, até a década de 70, caracterizava-se por um modelo de agricultura de subsistência baseado nas culturas de milho, feijão e arroz, ao lado de uma pecuária extensiva.

A partir da década de 80, com a implantação e expansão da sojicultura, a região ganha uma nova dinâmica de desenvolvimento, inserindo-se de forma progressiva e competitiva na estrutura produtiva estadual e nacional, notabilizando-se como principal área produtora de grãos do Nordeste, com a consolidação não só da cultura da soja, como do milho, do arroz, do feijão e, mais recentemente, do algodão e do café de qualidade.

Os recursos tecnológicos modernos, o avanço dos sistemas de irrigação, a mecanização das lavouras e a utilização de sementes desenvolvidas especificamente para as condições do cerrado e, principalmente, um programa de infraestrutura viária adequado também possibilitaram a expansão da agricultura no oeste da Bahia.