Ao som dos tambores dos meninos do Projeto Axé, dezenas de mulheres, crianças e adolescentes saíram pelas ruas do Pelourinho, nesta quinta-feira (23), distribuindo cartazes e panfletos para chamar a atenção da população quanto ao tráfico de mulheres, crianças e adolescentes. No dia em que se comemora a luta contra esse tipo de crime, os dados ainda são alarmantes – todos os anos, milhares de pessoas são vítimas de aliciadores em um esquema de tráfico que inclui rotas entre municípios, estados e países.

A criação de um Núcleo de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP) e de um Posto Avançado para atendimento especializado às vítimas de tráfico são algumas das ações dos governos federal e estadual para tratar do problema. O Núcleo está em funcionamento no Pelourinho e, além de prestar atendimento às vítimas, fará campanhas de prevenção.

O posto avançado funcionará no aeroporto internacional de Salvador para atender as possíveis vítimas de tráfico de pessoas deportadas e inadmitidas de outros países. Profissionais que atuam na área, a exemplo de advogados, psicólogos, assistentes sociais, educadores, policiais, juízes, promotores e defensores públicos, estão sendo capacitados para atender esse segmento.

Entre as vítimas estão brasileiras, afrodescendentes, entre 15 e 27 anos, oriundas principalmente de famílias de baixa renda que são levadas para prostituição, exploração sexual, trabalhos forçados, escravidão e práticas semelhantes.

De acordo com a assessora técnica da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Estado, Cida Tripodi, o Nordeste tem servido como “fornecedor de matéria-prima” para essa rede, perdendo apenas para a região Norte.

Das modalidades de tráfico, o interno – entre municípios ou estados – lidera com o maior número de vítimas. Segundo a coordenadora do Winrock Internacional – Brasil, Débora Aranha, 57,1% das vítimas identificadas e entrevistadas pelo Winrock foram levadas das suas cidades para outras para servirem principalmente para a exploração sexual. Desse quantitativo, a maioria se tratava de crianças ou adolescentes. Ela afirmou que quando se trata de tráfico entre os estados, o percentual é de 40% e o tráfico internacional ocupa 2,9%.

A Pesquisa Sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual Comercial no Brasil (Pestraf) divulgada em 2009 mapeou 241 rotas de tráfico no Brasil, sendo 131 rotas internas e 110 internacionais. De acordo com a Secretaria Nacional de Justiça, embora o Brasil não tenha dados precisos, estima-se que, por ano, 60 mil pessoas são vítimas, em rotas internas ou externas.

Para a assistente de projetos do Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame), Isabela Santos, o principal problema hoje é identificar situações de tráfico. A ideia também é compartilhada por Cida Tripodi. “O tráfico de pessoas é um problema mundial. Por ser um crime subdimensionado é difícil saber o número exato de vítimas”. Uma das razões desse subdimensionamento é que muitas das vítimas não se consideram vítimas da rede de aliciadores.

Onde procurar ajuda

Disque denúncia – 100
Núcleo de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoa – (71) 32660131
Defensoria Pública do Estado – 129
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente – (71) 3116 2155
Atendimento à Mulher Vítima de Violência – 180