Cangaço é sina; cangaço é destino. É obrigação para com os outros, obrigação que se vai criando pelos caminhos, pelas pedras e pelos espinhos das caatingas, escondido por trás das serras trovejadas de balas. Relata a introdução da sinopse de “Cangaço”, espetáculo teatral montado na cidade de Ilhéus/BA, que iniciou na última quarta-feira (3) e o prossegue até o próximo domingo (7), uma turnê pelos municípios baianos de Aporá (no agreste de Alagoinhas/Litoral Norte), Monte Santo, Queimadas e Valente (região do sisal) e Jacobina (Piemonte de Diamantina).

A peça foi contemplada, em 2008, pelo edital Manoel Lopes Pontes, e em 2009 pelo edital Jurema Penna, que apoiam, respectivamente, a montagem e circulação de espetáculos teatrais pelo interior baiano, ambos lançados pela Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA), por meio da Fundação Cultural da Bahia (Funceb).

Fortalecimento 
O espetáculo narra os últimos dias de Lampião e seu bando pelo sertão nordestino, até a histórica manhã de 28 de julho de 1938, quando morreu o cangaceiro brasileiro. Escrito e dirigido por Pawlo Cidade, “Cangaço” representa o capítulo final de Lampião, Rei do Sertão, projeto nascido em 1994.

Ao idealizar o projeto, Pawlo tinha duas metas. A primeira, montar a última parte da história de Virgulino Ferreira da Silva e a segunda, circular com o espetáculo por algumas das cidades que foram impactadas com a trajetória de Lampião. “Os editais de montagem e de circulação de espetáculos teatrais são mecanismos complementares. Ao lançá-los, a Fundação Cultural se propõe a possibilitar que as produções sejam concretizadas e que também possam alcançar públicos diversos, num movimento de fortalecimento das artes cênicas da Bahia, em todo seu território”, assegura Gisele Nussbaumer, diretora da Funceb.

A diretora Gisele lembra que o espetáculo Cangaço retrata a capacidade produtiva dos grupos do interior do estado e a necessidade de investir para que eles estejam em permanente desenvolvimento. “A descentralização dos recursos do Estado, voltando sua atenção para as companhias, grupos e artistas independentes do interior, bem como a política de editais proposta têm contribuído enormemente para o fortalecimento da arte e da cultura em toda a Bahia. Prova disso é Cangaço”, comemora Pawlo Cidade.

Trilha de Lampião
Pawlo Cidade é ator, produtor, autor e diretor de teatro, com 29 espetáculos montados e vai repetir com seu grupo parte da viagem que Lampião fez com seu bando. “Nossa circulação pelo agreste baiano inicia-se em Aporá, cidade distante do nosso município de origem, Ilhéus, mais de 500 quilômetros”, destaca ele.

A turnê “Na Trilha de Lampião” vai circular por municípios que contam a história de Lampião. A ação terá início no município de Aporá, em 3 de novembro – historicamente, consta que Lampião não entrou na cidade, mas esteve próximo, em Castro Alves, e provocou enorme alvoroço entre a população.

Prosseguindo, no dia 4, a turnê passará por Monte Santo, “a cidade que abastecia Lampião”; passando, no dia 5, por Queimadas, “a terra do massacre policial”; e chegará, no dia 6, a Valente, “a cidade que passou a noite acordada esperando Lampião”. Finalmente, no dia 7, encerrará a jornada em Jacobina.

“O Teatro é, na sua essência, mambembe. Viajar com um espetáculo é experimentá-lo sob o olhar de públicos variados, é amadurecer a obra, a partir desta experiência única de circular, neste caso, por um estado tão diverso quanto o nosso. Mecanismos que favorecem a itinerância são tão importantes quanto aqueles que promovem as produções, que são parte de uma mesma engrenagem para o bom funcionamento do Teatro na Bahia”, define Gordo Neto, diretor de Teatro da Fundação Cultural da Bahia.

Com os atores Val Kakau no papel principal e Andréa Bandeira vivendo Maria Bonita, o elenco de Cangaço traz ainda Ed Paixão, Ciro Nonato, Bruno Martinelli, Roma Góes e Kaique Cavalcante. Além das apresentações, acontecem oficinas de formação sobre o processo de montagem e de criação dos personagens da peça, direcionadas a atores, grupos de teatro, artistas e jovens interessados.