Guardado durante 30 anos na Cineteca Nazionale di Roma, o filme ‘Leão de Sete Cabeças’, primeira produção de Glauber Rocha fora do Brasil, foi restaurado e será exibido em sessão especial no Festival de Brasília, na próxima segunda-feira (29), às 17h, com entrada gratuita, no Cine Brasília.

A restauração faz parte da segunda fase do projeto Coleção Glauber Rocha, que, na primeira, restaurou os filmes ‘Barravento’, ‘Terra em Transe’, ‘O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro’ e ‘A Idade da Terra’. Em Salvador, o filme será exibido no dia 21 de dezembro, às 21h, no Cine Glauber Rocha.

A iniciativa é do Tempo Glauber e da filha do cineasta, Paloma Rocha, e tem o aporte financeiro do Fundo de Cultura da Bahia, por meio da Secretaria de Cultura (Secult), e contou com o apoio da Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV), da Cinemateca Brasileira e da Cineteca Nazionale di Roma. O projeto também abarca as restaurações dos filmes ‘Cabeças Cortadas’, ‘Claro’, ‘Câncer’ e ‘História do Brasil’.

O secretário de Cultura, Márcio Meirelles, comemora o restauro da obra. E diz que, neste ano, quando se celebra 100 anos de cinema, a Bahia investe na preservação da memória audiovisual. “Além do filme de Glauber, apoiamos o restauro do primeiro longa-metragem baiano, ‘Redenção’, de Roberto Pires, por quem Glauber tinha grande deferência. Estamos apoiando também, com recursos do Fundo de Cultura, a restauração de parte do acervo de Alexandre Robatto Filho, pioneiro do cinema baiano. São ações pontuais, mas que integram um programa de preservação do patrimônio audiovisual da Bahia”.

Preservação da obra
Um dos objetivos da restauração de Leão de Sete Cabeças é dar continuidade à disseminação da obra de Glauber em alta qualidade, já que há grande aumento na demanda pelos filmes do cineasta, tanto nas escolas de cinema, quanto nos festivais nacionais e internacionais. Também para uso de trechos em documentários.

Todos querem assistir à obra de Glauber, em bom ou mal estado, mas isso tem obrigado os detentores das cópias não-restauradas a fornecer material de má qualidade, incompleto e deteriorado, o que causa constrangimento e não divulga a sua obra como deveria. A partir de 2003, com o advento da Coleção Glauber Rocha, esta realidade começou a mudar.

As cópias restauradas em formato de cinema digital, DVD e película de 35 mm permitem que os filmes sejam distribuídos para mostras nacionais e internacionais, além da exibição em salas de cinema comerciais, universidades e outros espaços onde a obra de Glauber tem um alcance bastante significativo. O filme Terra em Transe, por exemplo, após a restauração, atingiu a marca de dez mil espectadores nas salas de cinema, em apenas duas semanas em cartaz.

Restauração
O original do filme do filme foi repatriado da Itália para o Brasil em 2009, quando a parceria entre Tempo Glauber, Cinemateca Brasileira, ABCV e Cineteca Nazionale di Roma foi formalizada, com incentivo da Secult. A restauração consistiu primeiramente no escaneamento no formato 4K e o restauro digital em 2K realizado pelos Estúdios Mega. O processo possibilitou a confecção de uma nova matriz, em alta definição, e um novo negativo em 35 mm. A versão original do áudio em vários idiomas foi recuperada a partir de uma única cópia 35 mm – que estava em avançado estado de deterioração – e de fitas Umatic. O restauro foi executado pela JLS Facilidades Sonoras.

O filme
O cenário de Leão de Sete Cabeças é o Congo Brazaville de 1969. Vivendo no exílio imposto pela ditadura militar brasileira, Glauber Rocha, principal nome do Cinema Novo, expõe no filme o colonialismo europeu que domina a África a as tentativas do povo nativo em se libertar desse domínio. Assim Glauber continuou retratando as mazelas que tanto afligem os países pobres e fez disso marca da sua obra cinematográfica.

Quando o filme estava sendo produzido, os críticos acreditavam que Glauber deveria filmar apenas paisagens em seu próprio país. Mas, quando o filme foi concluído, viram que o argumento se mostrou falho. O longa demonstrou perfeita integração com a evolução estética glauberiana, embasada na linguagem visual e cênica de uma espécie de “pan-terceiromundismo”, e apresentou personagens arquétipos, todos com algum tipo de poder.