Do total de pessoas com dez anos de idade ou mais da Região Metropolitana de Salvador (RMS) em 2009 (3,137 milhões de trabalhadores), aproximadamente, 86% eram negros e 14% não-negros. Esses dados foram divulgados pelo Boletim Especial – Os Negros no Mercado de Trabalho e o Acesso ao Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda, da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) na RMS, que é realizada pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), autarquia da Secretaria Estadual do Planejamento (Seplan), em parceria com o Dieese, a Fundação Seade e a Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre).

Esse boletim é resultado da aplicação de um questionário suplementar da PED sobre os diferenciais de acesso ao Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda Entre Negros e Não-Negros, no período de maio a outubro de 2008, que possibilitou a obtenção de importantes informações a respeito de estratégias de procura por trabalho, uso do seguro-desemprego e realização de cursos de qualificação profissional.

De acordo com a pesquisa, a maioria dos trabalhadores da RMS encontrou seu atual trabalho através da rede social, isto é, pela indicação de parentes, amigos ou conhecidos (62,9%). A utilização das redes sociais no acesso ao trabalho é maior entre os negros que entre os não-negros (64,7% e 52,2%, respectivamente).

O contato direto com o atual empregador também aparece como importante meio para obtenção de trabalho. Essa forma de conseguir emprego foi mais utilizada pelos não-negros (23,1%) do que pelos negros (18,8%). Embora 24,6% dos negros e 15,5% dos não-negros tenham procurado ocupação através dos postos públicos de atendimento ao trabalhador, apenas 2,4% dos negros conseguem se inserir no mercado de trabalho por esse mecanismo. O resultado entre os não-negros é ainda mais incipiente.

Entre os empregados e trabalhadores familiares que não procuraram postos públicos de atendimento ao trabalhador, a maioria justificou que não foi necessário (75,5% negros e 79,6% não-negros). Entre os negros, 8,8% declararam que não conheciam esse serviço.

Segundo o economista da SEI, Luiz Chateaubriand, o serviço público de intermediação de mão-de-obra é muito conhecido pelos trabalhadores e tem grande importância no momento da busca por trabalho. “Os dados da pesquisa mostram que essa parcela pode ser ampliada com maior número de postos, maior divulgação dos serviços e integração do sistema”.

Observa-se que os negros encontram mais dificuldade do que os não-negros em conseguir um posto de trabalho, o que se alinha às altas taxas de desemprego entre os negros observadas ao longo dos anos. “A discriminação atinge a população negra no acesso às posições de trabalho, na progressão profissional e seus efeitos perversos podem ser percebidos inclusive entre os que não estão no mercado de trabalho”, ressaltou Chateaubriand.

Entre os inativos, muitos declararam não trabalhar porque não precisam ou não querem (30,1% negros e 41,3% não-negros), estudam (26,7% e 25,8%, respectivamente), cuidam dos afazeres domésticos (25,1% e 22,2%), acham que não têm idade para trabalhar (15,1% e 16,3%).

Os desempregados apontam dificuldades na procura, principalmente pela falta de escolaridade ou qualificação/experiência (55,2% e 43%), muita concorrência (42,7% e 48,2%, respectivamente) e discriminação na seleção, dificuldade apontada quase que exclusivamente pelos negros (19,7%).

Uso do seguro-desemprego

Do total de pessoas que perderam ou deixaram o emprego com carteira assinada nos últimos oito anos, mais da metade usou o seguro-desemprego, com um índice maior de negros (64% negros e 59,4% não-negros). Apenas uma pequena parcela dessas pessoas que usaram o seguro-desemprego foi encaminhada para alguma vaga de trabalho pelo sistema público de atendimento ao trabalhador – mais uma vez o resultado do conjunto da população (5,3%) é mais elevado que o registrado para os negros (5,1%).

Entre as pessoas que usaram o seguro-desemprego, apenas 14% realizaram algum curso de qualificação ou capacitação profissional durante a vigência do benefício, seja por indicação do Sistema Nacional de Emprego (Sine) ou demais postos públicos, por iniciativa da antiga empresa ou por iniciativa própria.

Qualificação profissional

Do total de pessoas pesquisadas, 25,7% dos negros e 35,2% dos não-negros fizeram algum curso de qualificação ou capacitação profissional nos últimos três anos. Para a grande maioria, tratava-se especificamente de cursos de capacitação.
Entre os negros, esses cursos responderam por 77,9% da qualificação e entre os não-negros, por 57,2%. Em menor medida, de cursos de graduação superior com duração maior que quatro anos, os negros (17,7%) e os não-negros (34,2%).

Em relação aos cursos de pós-graduação, mestrado ou doutorado, foram destinados 5,5% dos negros e 14,2% dos não-negros. Esses dados indicam que a população negra persiste com menor qualificação, já que daqueles que fizeram os cursos de capacitação 77,9% eram negros e, em contrapartida, a maior parte dos profissionais que se qualificaram fazendo pós-graduação, mestrado e doutorado era formada por não-negros (14,2%).

Sobre as pessoas que não realizaram nenhum curso de qualificação ou capacitação profissional nos últimos três anos, cerca da metade justificou não ter interesse ou não precisar fazer qualquer curso (46,6% negros e 58% não-negros), muitos não o fizeram por motivo financeiro (29,7% e 15%, respectivamente), por falta de tempo (17,1% e 20,3%) ou por não ter os requisitos exigidos (4,2% dos negros e 4,1% do total da população), entre outros.