Tão próxima e tão distante. Apenas as pistas de duas avenidas separam a Feira de São Joaquim, na Cidade Baixa, em Salvador, do Centro de Formação e Acompanhamento Profissional da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), cuja sede fica ao lado do secular prédio da Casa Pia e Órfãos de São Joaquim, em frente à feira.

Assentada em uma área de 34 mil metros quadrados, a maior feira livre da capital baiana sintetiza parte da cultura do Recôncavo baiano, comercializando produtos da região e até do sertão trazidos por barcos e saveiros. Apesar da proximidade, a feira continuava distante dos alunos da Apae, que nunca haviam visitado o local.

O projeto de estudo da Feira de São Joaquim pelos alunos da Apae foi proposto ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) pelo arquiteto e museólogo Afrânio Simões Filho, atento à possibilidade de congregar a valorização do patrimônio material e imaterial da feira com o aprendizado dos estudantes da entidade.

Intitulada Feira de Cores e Sabores – Projeto de Oficina de Valorização Cultural da Feira de São Joaquim com Aprendizes da Apae, a iniciativa teve o seu ponto de partida esta semana. Divididos em dois grupos e acompanhados por três instrutores – artista plástico, arte-educadora e profissional em computação -, 40 alunos da Apae visitaram pela primeira vez a feira, que existe desde o final do século 19 e funciona no local há mais de quatro décadas.

Duas professoras da Apae e dois coordenadores acompanham a visita. “Trouxemos os alunos para que eles apreendam objetos, cores, aromas e a dinâmica da feira”, ressalta Adelina Rebouças, arte-educadora do projeto. “O que for apreendido servirá de base para trabalhos posteriores na técnica artística de mosaicos”, explica.

Exposição
O projeto terá três etapas. Inicialmente, serão realizadas visitas guiadas, quando acontece o contato com a diversidade e representações culturais. “Desse modo, a feira se torna um verdadeiro campo de estudos”, destaca Adelina.

Em janeiro de 2011, período de férias dos alunos da Apae, será produzido um blog, no qual vão ser inclusas notas e imagens acerca das atividades desenvolvidas. Em fevereiro começa a segunda etapa, com leitura de livros e apresentação de filmes como “A Grande Feira” (1961), do cineasta baiano Roberto Pires, etapa que provocará reflexões sobre as saídas de campo.

Posteriormente, os aprendizes da entidade produzirão mosaicos inspirados nas visitas. Em abril, o resultado será mostrado ao público em exposição. Segundo a professora da Apae, Sandra Bahia, o edital do Ipac auxilia e extrapola os muros da associação.

“Esses projetos possibilitam maior conhecimento sobre o nosso patrimônio cultural e a exploração de seu potencial. São Joaquim é um local riquíssimo culturalmente e deve ser valorizado. Além disso, é fundamental para o aprendizado dos alunos da Apae”, ressalta Sandra.

“Para nós, educadores, essas ações possibilitam explorar outros modos de ensinar, diferentes da educação rígida e fechada dos centros tradicionais”, enfatiza Afrânio Simões.

Os editais integram as ações de ‘Política Pública de Patrimônio’ que o Ipac, órgão da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult), promove desde 2007 e que já atingiu cerca de 200 municípios, graças ao apoio do governo da Bahia. A iniciativa conta com recursos do Fundo de Cultura da Bahia.

O projeto Feira de Cores e Sabores foi contemplado com cerca de R$ 34,7 mil. Mais informações sobre os editais do Ipac são disponibilizadas pelo site, endereço eletrônico editais@ipac.ba.gov.br e telefones (71) 3117- 6491 ou 3117-6492.