Pensar o futuro resgatando o passado. O sucesso é resultado do que se constrói ao longo do tempo. Com esse lema, a Secretaria da Agricultura do Estado homenageou, na manhã desta segunda-feira (20), os 45 ex-secretários que ocuparam a pasta da Agricultura na Bahia.

“São 115 anos de uma história que não poderia ser esquecida”, disse o secretário Eduardo Salles, ao inaugurar, no 2° andar da sede da secretaria, o painel com a galeria de fotos daqueles que dedicaram parte de sua vida em prol do desenvolvimento agropecuário baiano.

“O segmento vive hoje um momento de intenso crescimento e prosperidade, e isso se deve ao trabalho de todos os ex-secretários”, completou Salles. A solenidade contou com a presença de ex-secretários (dos 45 que passaram pela secretaria, 35 já são falecidos) e de seus familiares.

A filha de um dos homenageados, Fúlvio Alice (1964-1966), Rosina Alice, contou que sempre acompanhou a trajetória do pai e que o reconhecimento ao trabalho dele e de todos os ex-secretários é de extrema importância. “Ele era um grande pesquisador na área científica, um exímio virologista. Veterinário e fundador da Escola de Veterinária da Universidade Federal da Bahia, criou e isolou vírus de muitas vacinas contra a Aftosa, raiva e New Castle. Lembro que, numa dessas pesquisas, ele se contaminou e, por muito pouco, não morreu”, contou.

Pesquisa 
Fruto de um trabalho minucioso realizado durante três meses pelas funcionárias da secretaria Jaciara Dias Santana e Rosângela Machado, o painel com a galeria de fotos está fixado no corredor principal do 2° andar do prédio-sede da Seagri (Avenida Luís Viana Filho, 4ª Avenida, nº 405, Centro Administrativo da Bahia).

Como a Secretaria da Agricultura é uma das mais antigas e só havia pouca informação internamente, foi preciso realizar uma rigorosa pesquisa para resgatar a história e localizar as fotografias, algumas das quais extraídas de publicações bastante antigas e tiveram que ser aperfeiçoadas com a ajuda dos recursos digitais.

Rosângela Machado, coordenadora de Informação da Seagri, e sua equipe também dedicaram muito tempo às pesquisas. O trabalho envolveu pesquisa de campo, em bibliotecas públicas, fundações e jornais locais, e contou com uma ajuda fundamental da internet, sem a qual o trabalho levaria muito mais tempo para ser finalizado. “Eu sempre tive o desejo de resgatar por inteiro a memória da Secretaria da Agricultura. Profissionalmente, sempre percebi essa necessidade. É um trabalho que leva tempo. Eduardo Salles está dando o primeiro passo nesse sentido, é a peça fundamental nesse processo”. Segundo ela, o trabalho não para por aqui. “Falta agora obtermos informações sobre a história das autarquias e dos órgãos vinculados à secretaria”, disse Rosângela, que completa 21 anos de serviços prestados à secretaria em janeiro do próximo ano.

Bons exemplos
Visivelmente emocionado, Paulo Roberto Teixeira Moreira, neto do ex-secretário Orlando Teixeira (1945-1946, 1962-1963), elogiou a iniciativa da secretaria em homenagear os ex-secretários. “Quando a gente olha para o passado, encontra muitos bons exemplos. A gestão de meu avô foi íntegra. Ele desempenhou o seu papel com afinco e isso é motivo de orgulho”, declarou.

Déa Catalão, viúva do ex-secretário Eduardo Catalão (1955), disse estar feliz com a homenagem aos ex-dirigentes. “O secretário Eduardo Salles está de parabéns! Tenho a honra de estar aqui hoje, de ter sido a mulher de um secretário como Eduardo Catalão. Sou uma pessoa feliz e realizada por ter tido um homem amigo e digno”.

Representando o pai, o ex-secretário Dantas Júnior (1959-1962), João da Costa Pinto Neto lembrou o tempo em que chegou a trabalhar com o pai. “Na época, a Secretaria da Agricultura funcionava na Praça Castro Alves e eu era estudante de Direito e também chefe de gabinete dele”, recordou-se.

Obra do passado 
O ex-secretário Raymundo Fonseca (1971-1975), que inaugurou, no ano de 1973, o prédio onde hoje funciona a Secretaria da Agricultura, ficou bastante emocionado com a homenagem recebida. “É um ato de extrema sensibilidade do secretário Salles, que mostra grandeza de alma. Ele compreendeu que o que existe hoje não é obra do presente, mas sim do passado”, destacou. Engenheiro agrônomo, Fonseca é responsável, dentre outras, pela implantação do Programa Soja na Bahia, pela criação do Instituto de Terras da Bahia, pela ampliação do combate à Aftosa no Estado e pela implantação de um programa voltado para o café.

“É com muita satisfação que enxergo esse momento em que todos os ex-secretários são reconhecidos pelo trabalho que, com presteza, executaram. Os esforços que cada um deles empenhou para o desenvolvimento do Estado podem ser vistos no crescimento que a agricultura conquistou”, reconheceu o ex-secretário Pedro Barbosa (1995-2007).

O ex-secretário Reinaldo Braga (1987-1990) também parabenizou o secretário Eduardo Salles pela “iniciativa louvável de reescrever a história”. Lembrou, durante a sua gestão, do exaustivo trabalho da discussão e construção da primeira proposta de política agrícola estadual, incorporada a um projeto macro, de amplitude nacional, discutida na Assembléia Nacional Constituinte (1987/88), presidida por Ulisses Guimarães. Ressaltou ainda os inúmeros encontros e reuniões com produtores de pequeno, médio e grande porte em seu gabinete, na tentativa de solucionar importantes entraves para o desenvolvimento da agropecuária baiana.

História 
A Secretaria da Agricultura foi criada no governo de Joaquim Manuel Rodrigues de Lima (1892-1896), sob o regime republicano, pela Lei nº 155, de 16 de agosto de 1895. No início, se chamava Secretaria da Agricultura, Viação, Indústria e Obras Públicas, e absorvia diversas atividades da administração pública baiana.

O primeiro secretário da Agricultura, Arlindo Fragoso (1895-1896), foi nomeado em caráter interino e efetivado apenas nos últimos meses da administração de Rodrigues de Lima, o que demonstra a instabilidade política da época.

Ainda em 1896, o engenheiro civil José Antônio da Costa assumiu o cargo, permanecendo até o ano de 1900. Neste mesmo ano, assumiu José Joaquim Rodrigues Saldanha, que foi substituído em 1902 por Miguel Calmon Du Pin e Almeida (1902-1906).

Entre 1906 e 1916, as secretarias de Estado foram reformadas e ficaram submetidas a uma secretaria geral. De 1911 a 1912, no governo de Aurélio Rodrigues Viana, o Palácio Rio Branco chegou a ser bombardeado e a capital do Estado foi transferida para Jequié. O cargo de secretário geral foi ocupado por Arlindo Fragoso, o primeiro secretário da Agricultura ou secretário da Viação, como também se denominava naquele período.

Em agosto de 1915, já no final do governo de J.J. Seabra, o coronel Frederico Augusto Rodrigues da Costa assumiu o posto de governador como substituto constitucional. Ele promoveu uma modificação na estrutura administrativa e a Secretaria da Agricultura passou a agregar atividades pertinentes ao setor secundário, configurando-se como pasta econômica, com uma visão global do processo produtivo. E, por meio da Lei n° 1.129, de 23 de março de 1916, passou a se chamar Secretaria da Agricultura, Indústria, Comércio, Viação e Obras Públicas. Vinte e dois anos depois, quando o engenheiro agrônomo Joaquim da Rocha Medeiros assumiu a pasta da Agricultura, foram realizadas diversas mudanças administrativas e, pelo Decreto n° 10.733, de 22 de abril de 1938, a secretaria passou a se chamar Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio.

Com as mudanças ocorridas após a Segunda Guerra Mundial, o setor agrícola brasileiro sofreu uma reestruturação e a Secretaria da Agricultura passou a se preocupar com problemas mais específicos, como armazenagem e abastecimento, e a dirigir sua atuação para a pesquisa, a assistência técnica, a defesa e a prestação de serviços. Nesse percurso, ocorreram outras denominações e mudanças na organização. Em 1966, no governo de Antônio Lomanto Júnior, por meio da Lei n° 2.321, de 11 de abril de 1966, a secretaria passou a se chamar Secretaria da Agricultura. Na época, o secretário era Renato Rodemburgo de Medeiros Neto.

Mais tarde, por meio da Lei nº 6.074, de 22 de maio de 1991, a secretaria ganhou nova denominação, passando a receber, finalmente, a denominação atual, Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária – Seagri, estabelecendo como finalidade “formular e executar a política de desenvolvimento da agropecuária, abastecimento, cooperativismo e reforma agrária”.

A Seagri firmou-se, a partir de então, no objetivo de construir uma relação dinâmica com todas as esferas do processo produtivo, sejam agentes oficiais ou privados, para garantir a prosperidade da agricultura baiana.

Gestão atual 
No governo Jaques Wagner, três secretários passaram pela Secretaria da Agricultura: Geraldo Simões de Oliveira (2007-2008), Roberto de Oliveira Muniz (2008-2010) e o engenheiro agrônomo Eduardo Seixas de Salles, que assumiu a pasta em 31 de março deste ano.