O projeto da locomotiva que vai puxar os vagões do desenvolvimento, encurtando as distâncias do agreste e cortando a imensidão do cerrado, idealizada pelo engenheiro baiano Vasco Neto, saiu da gaveta, depois de mais de 50 anos, para as mãos do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

Nesta sexta-feira (10), no Centro de Convenções de Ilhéus, no Sul da Bahia, o presidente Lula e o governador do Estado Jaques Wagner participaram da cerimônia de assinatura da ordem de serviço dos quatro primeiros lotes da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que ligará o município baiano à cidade de Figueirópolis, em Tocantins.

Os lotes já tiveram as licenças de implantação liberadas pelo Ibama e correspondem ao trecho Ilhéus/Caetité, com 537 quilômetros de extensão, com início das obras previsto para os primeiros meses de 2011.

Com um total de 1.527 quilômetros, a ferrovia formará um corredor de transporte que abrirá uma nova alternativa logística para os portos no nordeste, e otimizará a operação do Porto Sul e do novo aeroporto internacional da cidade de Ilhéus.

Viabilizará o crescimento
A Fiol dinamizará o escoamento da produção nos dois estados, fazendo também a ligação com outros polos do país, além de promover ainda mais o desenvolvimento agrícola da região Oeste da Bahia.

“Quando tomamos a decisão de fazer uma obra dessa magnitude, a primeira coisa que ouvimos das pessoas que foram contra a construção da ferrovia foi se existia ou não viabilidade econômica. Traduzindo numa linguagem mais popular, é se a ferrovia ia dar lucro ou não. Nunca se pensou que era mais interessante para o País termos a ferrovia, rodovia e ter a hidrovia. Nunca se pensou em ter um sistema de transporte intermodal que beneficiasse a todos aqueles que querem produzir”, disse o presidente Lula.

O governador Jaques Wagner ressaltou que a obra vai formar uma logística que viabilizará o crescimento e o desenvolvimento de toda a Bahia, transportando grãos, magnesita, além de gerar novos empreendimentos e criação de Zonas de Processamento (ZPE).

“São 1,5 mil quilômetros ao todo, dos quais 1,1 mil quilômetros são dentro do estado da Bahia, com um porto que será o primeiro em águas profundas, que possa receber navios de alto calado, e um novo aeroporto na região, localizado entre Ilhéus e Itacaré”.

Obra prioritária
Dividido em 11 lotes, oito somente na Bahia, o trecho da estrada de ferro no estado terá mais de mil quilômetros e cortará 32 municípios. Os trilhos da integração, desenvolvido pela Valec Engenharia (empresa do Ministério dos Transportes especializada na construção de ferrovias), são uma obra prioritária do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que envolverá investimentos estimados em R$ 7,3 bilhões.

Para o ministro de Transportes, Paulo Sérgio Passos, o PAC é uma conquista no campo da habitação e do saneamento, garantindo saúde às coletividades, além do campo hídrico, de energia e dos transportes. “Recuperamos estradas brasileiras, obras de pavimentação foram realizadas, duplicamos rodovias e também executamos obras relacionadas a portos, hidrovias e ferrovias. A construção de uma ferrovia tem a capacidade de transformar e elevar o padrão econômico e social de uma região”.

O ministro explicou que a ferrovia cortará o território baiano e servirá ao Oeste do estado para escoamento de grãos e à região produtora de minérios, como grande corredor que se abre para o centro-oeste brasileiro. “Do ponto de vista viário é a maior obra que a Bahia já viu”, disse.

A obra será executada em duas etapas. A primeira, com início em Ilhéus, vai até Barreiras, no oeste baiano, e a segunda seguirá de São Desidério até Figueirópolis (TO), onde fará a conexão com os trilhos da Norte-Sul, que vai do Pará a São Paulo.

Primeiros quatro lotes
A construção da Fiol será executada por 25 empresas, sendo que o trecho baiano começa com os primeiros quatro lotes. O lote número um parte de Ilhéus, onde será sediado o terminal de descarga geral com capacidade estimada em até 68 milhões de toneladas ao ano.

O traçado tem 125 quilômetros e vai até o município de Itagibá. A obra custará R$ 574,4 milhões e será construída pelo consórcio SPA/Delta/Convap. Os principais produtos a serem transportados são grãos, farelos, álcool, algodão, além de fertilizantes, combustíveis e minério de ferro.

O lote dois segue até o Riacho Jacaré, na cidade de Jequié, e terá 118 quilômetros de extensão. No município, está prevista a instalação de um polo industrial. O custo da obra foi orçado em R$ 650,4 milhões pelo consórcio Galvão/OAS.
Com 115,36 quilômetros, o lote três se estenderá do Riacho do Jacaré até o Rio de Contas, no município de Tanhaçú. A construção estará a cargo da Torc/Ivai/Cavan, custando em torno de R$ 403,2 milhões.

Já o lote quatro, que vai até o Riacho da Barroca, no município de Caetité, possui 178,28 quilômetros. Por lá, também está prevista a instalação de um polo industrial, voltado para indústria de mineração. A região abriga uma grande jazida de ferro, com capacidade de produção estimada em cerca de 25 milhões de toneladas/ano.

Com quase 537 quilômetros de linha férrea, o trecho Ilhéus/Caetité demandará um investimento de cerca de R$ 2,4 bilhões. A conclusão desse primeiro trecho está prevista para dezembro de 2012.

Redução de custos
O prefeito de Ilhéus, Newton Lima, lembrou que há exatos 100 anos era inaugurada a ferrovia da cidade e que a data é comemorada com a renovação da malha ferroviária, que trará ainda mais desenvolvimento ligando a cidade ao Brasil.

“Nunca recebemos tantos investimentos, seja com a implantação do Instituto Federal da Bahia, do Programa Minha Casa, Minha Vida executado no bairro Banco da Vitória, com a construção de 272 unidades residenciais, dentro outras ações”.

Em Brumado, no sudoeste do estado, ficará o canteiro de obras e também outro polo, que vai transportar magnesita, minério de ferro e cargas gerais, com capacidade de até 29 milhões de toneladas/ano. A obra deverá custar R$ 739,8 milhões e será da responsabilidade do consórcio Andrade Gutierrez/Barbosa Melo/Serveng.

O diretor-presidente da Valec, José Francisco das Neves, afirmou que no primeiro trecho serão gerados 10 mil empregos diretos e 30 mil indiretos. “Vamos contratar mão-de-obra da região, e os equipamentos serão alocados também aqui. Já existem máquinas e equipamentos nos quatro trechos”.

De acordo com a Valec, com a construção da Fiol na Bahia, estão previstas vantagens como a redução de custos do transporte de insumos e produtos diversos, o aumento da competitividade dos produtos do agronegócio e a possibilidade de implantação de novos polos agroindustriais e de exploração de minérios.

A estimativa é que o volume de cargas a ser transportado chegue a aproximadamente 70 milhões de toneladas anuais, dos quais 50 milhões correspondem a minérios.

Publicada às 17h45
Atualizada às 21h