Os investimentos em iniciativas voltadas à promoção de projetos e programas científicos e tecnológicos na Bahia cresceram 28% em 2010, na comparação com o ano anterior. Os dados da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) mostram que a pasta executou R$ 92 milhões em ações diretas, sem contar com os recursos aplicados em custeio.

Os pesquisadores ligados a universidades, empresas ou sociedade civil organizada receberam também quase R$ 112 milhões nos editais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb). Isso inclui ainda bolsas para estudantes, desde o nível médio até o doutoramento.

O volume retrata a estratégia do governo da Bahia de apostar em inovação e pesquisa como instrumentos para o desenvolvimento socioeconômico. As ações buscam reforçar o sistema que integra poder público, academia e iniciativa privada. Essa tríplice hélice impulsiona a atitude inovadora e contribui para a geração de empregos de maior valor agregado, na medida em que permite a fixação de empresas e centros de pesquisa que buscam profissionais com maior grau de qualificação.

São diversas formas de proporcionar esse impulso, como o Inovatec, programa que oferece R$ 15 milhões ao ano para compra de equipamentos usados em pesquisa, a implantação do Parque Tecnológico, o investimento em popularização das ciências e o desenvolvimento de ações que contemplem a melhoria da qualidade de vida do interior do estado. E a Bahia tem grande responsabilidade quando se fala em ciência e tecnologia. A primeira pasta voltada para esse fim foi criada no estado, há pouco mais de 40 anos, pelo então governador Luís Vianna. Em 1969, a pasta foi comandada pelo físico José Walter Bautista Vidal, hoje com 75 anos. Na época, Bautista Vidal aceitou o desafio de gerir um projeto voltado a planejar, estimular, orientar, coordenar e regular as atividades científicas e tecnológicas de modo a contribuir substancialmente para acelerar o desenvolvimento socioeconômico da Bahia, além de promover a adaptação de conhecimentos científicos e tecnológicos provenientes de outros estados ou países. Depois, esse visionário se tornaria o idealizador do Proálcool e ainda hoje defende veementemente a aposta na biomassa como alternativa energética para o país continental onde em se plantando tudo dá.

Hoje, a Secti prioriza ações que tenham, além dos resultados mais imediatos, a capacidade de abrir um horizonte infinito de possibilidades a partir do incentivo, da promoção, da popularização e da formação em ciência, tecnologia e inovação. Dessa forma, ciência, tecnologia e inovação se tornam instrumentos para melhorar a vida dos baianos.

Aposta nas ações em cidades do interior

Na Bahia, os caminhos da ciência e tecnologia levam para o interior. A Secti tem apostado nas ações que levam desenvolvimento para fora dos grandes centros. Depois de décadas convivendo com a mutilação de mãos e braços de trabalhadores, a região sisaleira tem agora uma forma segura de manter a atividade tradicional.

Com o apoio do governo da Bahia, o invento de José Faustino, que fez apenas os primeiros anos da escola formal, já está no campo. É a máquina Faustino V, que permite que a fibra do sisal, usada principalmente no artesanato e confecção de cordas, seja retirada das folhas sem risco de perda dos membros. A boa ideia se tornou um exemplo prático de tecnologia social, com ganho direto para a comunidade.

Também no semiárido, 400 meninos e meninas ganharam uma nova forma de ver o mundo. São os alunos do Centro de Educação Científica do Semiárido. Duas vezes por semana, os estudantes moradores das áreas com maiores problemas sociais de Serrinha participam de oficinas complementares à escola regular. São aulas de robótica, meio ambiente, tecnologia e arte. Os alunos têm formação cidadã através da educação científica e aprendem a montar robozinhos, noções de eletrônica e até a produzir desenhos animados. A Escola de Ciências de Serrinha, como acabou apelidada, foi idealizada por Miguel Nicolelis, um dos maiores cientistas brasileiros, e é gerida pela Associação Alberto Santos Dummont de Apoio à Pesquisa.

Centros tecnológicos

Ensino e apoio à atividade econômica andam juntos nos centros vocacionais tecnológicos territoriais. São os CVTTs, que buscam uma afinidade estreita com a realidade de cada região, potencializando o resultado dos seus trabalhos. A comunidade participa do debate que vai estabelecer e apresenta as demandas de laboratórios e treinamentos com base na atividade econômica que já é desenvolvida na região. Dessa forma, os centros se tornam projetos territoriais. Em Tancredo Neves, por exemplo, foi aproveitada a vocação da mandiocultura, e o laboratório oferece treinamento e serviços de análise de solo de forma mais barata e mais rápida. Em Eunápolis, a escolha levou em conta a forte presença da indústria moveleira. Já em Senhor do Bonfim, a caprino-ovinocultura foi escolhida como foco da unidade. Os centros são usados também para aulas práticas das disciplinas científicas por professores da rede pública.

Progredir

No fortalecimento do empresariado, destaca-se também o programa Progredir. Avaliado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como o programa de apoio aos arranjos produtivos locais (APLs) com estágio mais avançado do país, o Progredir está presente em 68 municípios de 14 territórios de identidade da Bahia. São ações em 11 segmentos produtivos. No setor de tecnologia da informação, o foco foi a capacitação dos atores do sistema para estimular o fortalecimento das atividades. No de confecções, está em franco funcionamento o Centro de Design de Moda, voltado a criar coleções inovadoras com a cara da Bahia. Transformação plástica, fruticultura, fornecedores automotivos, turismo, piscicultura, derivados da cana, caprino-ovinocultura, rochas ornamentais e sisal também têm cadeias apoiadas.

Nas ações de popularização das ciências, a Secti inova com o lançamento da série de programas Todo Mundo Quer Saber. Exibidos pela TVE, numa parceria com a Secretaria da Cultura, e produzidos pela Casa do Verso, os programas mostram de forma lúdica o que os nossos cientistas e pesquisadores têm feito. A produção faz parte da estratégia de aproximar a população de temas cotidianos que parecem complicados, como tecnologias sociais, parque tecnológico, invenções e inovação. O programa traz exemplos de diversas partes da Bahia, estimulando a curiosidade e o interesse sobre ciência e tecnologia.

Inovatec: empresas recebem recursos para projetos

A busca de novos materiais mais eficientes leva a Braskem a desenvolver um fio que, trançado, tem a mesma capacidade de resistência dos cabos de aço tradicionais, mas com peso dez vezes menor e flexibilidade que ajuda no transporte. O fio de Utec, ultra-alto peso molecular, tem aplicação prevista no rebocamento e ancoragem das plataformas que vão explorar e produzir na camada pré-sal, já que também flutua na água.

O mesmo material pode ser usado para a confecção de coletes a prova de bala mais leves e mais confortáveis, com a mesma eficiência. A pesquisa recebeu quase R$ 6,3 milhões e é um dos projetos contemplados pelo Inovatec, programa estadual de incentivo à inovação tecnológica.

Este ano, outros projetos importantes receberam recursos para a compra de equipamentos e infraestrutura. A empresa Lsitec, por exemplo, teve aprovado um projeto de R$ 564 mil para desenvolver um microchip que, através de um novo padrão, pode possibilitar que áreas com baixa densidade populacional tenham internet de banda larga usando as mesmas torres de transmissão do sinal de tevê. A invenção, quando colocada em prática, vai beneficiar pessoas que moram em áreas onde não há interesse comercial das empresas em oferecer internet de alta velocidade.

A clínica Delfin recebeu quase R$ 2 milhões para comprar equipamentos que serão usados no desenvolvimento de novos contrastes para exames. Hoje, o produto é enriquecido em São Paulo e, por causa do tempo perdido no transporte, é preciso comprar uma dose 20 vezes mais forte do que será aplicada, já que durante a viagem o material perde a capacidade.

Criado em 2007, o Inovatec conta com um fundo anual de R$ 15 milhões para aquisição de máquinas, equipamentos e instrumentos, além da montagem de infraestrutura para a pesquisa. Esse material potencializa a produção científica e tecnológica do estado e os projetos submetidos devem apresentar a possibilidade de ter resultados concretos e inovadores. Assim, centros de pesquisa e empresas montam unidades capazes de promover o surgimento de produtos e processos que contribuam para a geração de emprego e renda.

Parque Tecnológico: Bahia está perto de entrar numa nova era de desenvolvimento

Quem passa pela Avenida Paralela já pode ver um prédio diferente, erguido em meio a uma grande área verde preservada. O TecnoCentro, primeiro edifício do Parque Tecnológico, está com as obras muito avançadas e tem previsão de ser entregue já no primeiro trimestre de 2011. O local servirá de âncora para a atração de empresas e centros de pesquisa que queiram trabalhar principalmente com biotecnologia, energias limpas e renováveis ou tecnologia da informação e comunicação.

O Parque Tecnológico não é um centro industrial, mas um complexo de unidades que produzem conhecimento. O resultado das empresas que vão se instalar nos 580 mil metros quadrados será o desenvolvimento de novos produtos e processos que façam a Bahia entrar no rol de locais do mundo que são inovadores. A natureza do trabalho nesses centros de pesquisa vai abrir vagas de trabalho com alto valor agregado, já que necessita empregar mestres, doutores e profissionais com grande experiência.

Mesmo ainda sem estar fisicamente pronto, o Parque Tecnológico já atrai os olhares para a Bahia. Universidades estrangeiras, empresas que investem em inovação e centros de pesquisa se aproximam e buscam informações, estudando a possibilidade de trazer unidades para o estado. A atividade do parque também terá forte integração com aquilo que está fora dos seus muros, como importantes centros de formação profissional e de pesquisa que hoje têm trabalhos reconhecidos no estado e farão parte dessa realidade.

“Um empreendimento como o Parque Tecnológico exigirá investimentos perenes para que se consolide e cresça cada vez mais. Um dos grandes desafios é justamente garantir o fluxo de recursos contínuos para alimentar o sistema de inovação, já que esta é uma atividade que implica em risco, por estarmos promovendo novos produtos, processos e serviços. O poder público tem feito investimentos fortes neste momento de implantação, nas três esferas de poder. Somando os aportes do Ministério da Ciência e Tecnologia, governo da Bahia, através da Secti, e da prefeitura de Salvador, que doou o terreno, são mais de R$ 90 milhões vindos dos cofres públicos”, afirmou o secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Feliciano Monteiro.