Há dois meses, o sul da Bahia assistiu a um importante salto da agricultura familiar: a inauguração, na cidade de Ibicaraí, da primeira fábrica de chocolates finos da agricultura familiar no Brasil nesta modalidade, a Bahia Cacau.

Construída em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir), por meio da Companhia de Desenvolvimento e Integração Regional (CAR), a fábrica opera em sistema cooperativado, envolvendo produtores cadastrados na Cooperativa dos Agricultores Familiares da Bacia do Almada e Adjacências (Cooafba), sediada na cidade de Coaraci.

Neste mesmo município, há 20 anos, começou o sonho de comercializar os produtos da agricultura familiar de forma organizada e coletiva em uma das salas do escritório local da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri).

Naquela época, os técnicos da EBDA mostravam aos agricultores que sozinhos eles não tinham força organizacional suficiente para disputar os preços com as empresas de compra de cacau da região e que, em grupos organizados, essa disputa poderia ocorrer com mais chances para os agricultores associados.

Para o diretor-executivo da EBDA, Elionaldo de Faro Teles, esta é a prova concreta do resultado de um trabalho organizado e em parceria da agricultura familiar. “Conhecemos muitos resultados positivos alcançados pelo associativismo na agricultura familiar, mas este se destaca ainda mais pela ousadia em competir com um mercado tão exigente e fechado, como o de chocolates finos”.

De acordo com o chefe do escritório da EBDA em Coaraci, Joel Pimenta, com o trabalho direcionado para o associativismo, percebeu-se a necessidade da criação de uma cooperativa para comercializar os produtos da agricultura familiar.

Em 2007, os representantes das associações da região da Bacia do Almada foram convocados para discutir a criação de uma cooperativa que buscasse atender às demandas dos agricultores. Nasceu, então, a Cooafba, que vem trabalhando à frente de todas as iniciativas de desenvolvimento do agricultor familiar da região.

“Todo esse processo associativista existente na região teve origem nos trabalhos desenvolvidos pela EBDA, que hoje concretiza o sonho do agricultor familiar em vender seus produtos por preços mais justos, com qualidade, e podendo com isso oferecer bem-estar à sua família”, destacou Pimenta.

Com relação à fábrica de chocolate, ele observou que os associados entregam cacau selecionado (qualidade Premium) e recebem como pagamento até 50% a mais em relação ao valor de mercado. A arroba é adquirida pela fábrica, em média, por R$ 120, enquanto o mercado paga em torno de R$ 80, sem levar em consideração a qualidade do cacau entregue, se comum ou selecionado.

A agricultora Maria Luiza Brandão, do município de Itapitanga, participou do curso de classificação oferecido pela Ceplac, em parceria com a EBDA, e já provou que está capacitada. O cacau produzido na sua fazenda passou pelo processo de amostragem da fábrica e foi aprovado. “Já vendi oito arrobas para a fábrica. Estou muito satisfeita e trabalhando, junto com meu marido, para entregar muito mais”.

Os pequenos produtores que vendem o cacau para a fábrica recebem assistência técnica da EBDA, com o objetivo de melhorar a produção/produtividade e a qualidade do fruto, uma vez que a indústria exige um chocolate com teor entre 50 e 70% de cacau.

O agricultor cooperativado Adolfo Quirino de Santana tem dois hectares de terra em Coaraci. Ele produz hoje 60 arrobas/ano, o que gera R$ 4.800. Com a chegada da fábrica, o agricultor espera aumentar a sua área de produção e, assim, triplicar a renda. “Com a venda do cacau e o rendimento obtido com a comercialização do chocolate, acredito que vai dar para ficar sossegado na minha velhice”.

Para a presidente da Cooafba, Sonoelane Anunciação, essa nova maneira de comercializar o cacau agrega valor ao produto e melhora a qualidade de vida do agricultor familiar.

Em pouco tempo, resultados positivos

Apesar do pouco tempo de instalada, a fábrica já apresenta resultados positivos. O secretário estadual da Agricultura, Eduardo Salles, abriu as portas do escritório de negócios da agropecuária baiana em Pequim para a comercialização do chocolate produzido na Bahia Cacau para a China, entre vários outros itens da agricultura familiar. A notícia foi dada oficialmente aos produtores pelo próprio secretário, no último dia 10, em visita à região.

O diretor de Fomento e Produção da Superintendência de Agricultura Familiar (Suaf), da Seagri, Jeandro Ribeiro, informou que já no próximo mês um lote do chocolate será enviado à China para análise e posterior adequação da embalagem do produto.

O gerente regional da EBDA em Itabuna, Franklin Passos, afirmou que a fábrica de chocolate veio coroar os trabalhos realizados pela Cooafba na região e declarou que, além da fábrica, outros projetos foram elaborados e/ou executados pela cooperativa, em parceria com a EBDA, a exemplo do PAA Doação, Cozinha Industrial, Trilha do Doce, PAA Estoque e Pnae.