Tomate, beterraba, cenoura, pepino, couve-flor, cebolinha, pimentão, alface, abóbora, manga, maracujá. Todos esses produtos são cultivados em uma área de menos de meio hectare. A diversidade das espécies é fruto da dedicação da agricultora Marlene Silva Rocha, 57 anos, que há um ano viu sua vida mudar ao participar do projeto Quintais Produtivos, desenvolvido pela prefeitura de Itaju do Colônia, a 557 quilômetros de Salvador, em parceria com a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri).

Antes de participar do projeto, a agricultora vivia da pesca. Ela afirmou, emocionada, que enfrentava sérias dificuldades financeiras. “Minha vida era só sofrimento. Ficava às margens dos rios pescando para comer. Hoje, isso aqui é minha maior riqueza. Daqui tiro meu sustento e também é a minha distração. Esse pedacinho de terra foi preparado por Deus”.

Dona Marlene e mais nove produtores ocupam uma área total de quatro hectares, dividida em lotes doados pela prefeitura. A EBDA disponibiliza assistência técnica e extensão rural aos agricultores do projeto, além de capacitação e disponibilização de mudas e sementes. “As políticas públicas desenvolvidas pela EBDA visam melhorar a qualidade de vida dos agricultores familiares baianos, e nesse foco está a melhoria da qualidade nutricional de suas famílias”, disse o diretor-executivo da empresa, Elionaldo de Faro Teles. Ele informou que a EBDA vem trabalhando com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes), que abrange as ações realizadas em Itaju do Colônia. “Em todo o estado, temos conhecimento de ações exitosas como essa e ficamos gratificados ao constatar o seu bom desempenho, ao atingir metas que levam alternativas de renda e de boa alimentação para os agricultores, seja no campo ou na cidade”.

O técnico agrícola da EBDA, Miranildo Góes, do escritório de Ibicaraí, é responsável pela orientação técnica aos agricultores familiares de Itaju do Colônia. “São pessoas carentes, que não tinham perspectiva, e ganharam um lote de terra. Com essa iniciativa puderam garantir o sustento digno para a família e ainda têm a tranquilidade de comercializar o excedente da produção”, explicou. Ele destacou ainda que no projeto a terra é tratada de forma ecologicamente correta. “As plantas e hortaliças são cultivadas apenas com adubo natural, proveniente do esterco de gado, sem o uso de produtos químicos e agrotóxicos”.

Modelo

Para o prefeito Ednaldo Martins, essa parceria com a EBDA é fundamental para o desenvolvimento do projeto. “Esse trabalho despertou a questão da agricultura familiar urbana e periurbana, motivando as pessoas a produzirem nessas pequenas áreas, antes abandonadas. Itaju, uma cidade com pouco mais de sete mil habitantes, se transformou em um modelo de agricultura familiar. Hoje não existe mais pedinte na nossa cidade”.

Os produtos cultivados no projeto são vendidos para o PAA e o excedente é comercializado nas feiras livres ou nos próprios lotes, além do consumo pela família do agricultor, que melhorou a qualidade da sua alimentação. O secretário de Agricultura do município, Aires Antônio Mendes, declarou que, além de ser uma fonte de renda para os agricultores, dados estatísticos revelam que o projeto tem melhorado a dieta alimentar da população. “Com a implantação do Quintais Produtivos e do PAA, diminuíram consideravelmente os casos de desnutrição na cidade”. Segundo ele, em 2009, mais de 535 toneladas de 62 itens de produtos da agricultura familiar foram compradas pelo PAA e doadas, quinzenalmente, a 17 entidades do município, como creches, escolas, hospital, associações, entre outras. “Hoje, são 165 agricultores assistidos pela EBDA que vendem seus produtos para o PAA”.

Aldeias indígenas

O projeto Quintais Produtivos já chegou também às aldeias indígenas do município. A índia Rízia, da aldeia Bahetar, o marido e o filho mais velho do casal cultivam sem precisar ir muito longe de casa. No próprio quintal, plantam quiabo e maxixe, que são vendidos para o PAA. Ela informou que está se preparando para cultivar também feijão, batata-doce e melancia, “para aumentar a renda da família”.

O agricultor Gilenaldo de Oliveira, também assistido pela EBDA, descobriu o quanto a terra pode ser generosa, se bem explorada. Há três meses cultiva várias espécies em apenas uma área de dois hectares no campo. A ideia dele é ter no local frango caipira, diversos tipos de hortaliça, milho, fruta, piscicultura, pecuária de leite, suinocultura e caprinocultura. “Fecho os olhos e vejo como isso aqui vai ficar bom. Tenho o maior prazer de trabalhar nessas terras com minha mãe, 75 anos, meu irmão e o meu amigo Juvenal. Aqui tem gente que tem terras grandes, mas que no fim das contas são menores do que as minhas, se comparadas à diversidade de produtos que tenho aqui”, ressaltou Gilenaldo.