O Forte de Santo Antônio Além do Carmo no Centro Histórico de Salvador (CHS), tombado como patrimônio cultural da Bahia e restaurado pelo Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), sedia a partir deste sábado (19), a partir das 14h, o 1º Seminário: No Ventre, a Capoeira. O evento objetiva fortalecer a participação das mulheres na capoeira e terá encontros semanais, sempre aos sábados, das 14h às 18h30, até 9 de abril, quando está previsto o encerramento com diversas oficinas. Precedendo o encerramento, no dia 5 de abril, será prestada uma homenagem ao mestre Pastinha, maior propagador da Capoeira Angola no Brasil.

Segundo Cristiane Nani, da organização do evento, a programação prevê também a entrega de troféu ao mestre João Pequeno e a sete mulheres representantes femininas na capoeira. “Serão lembradas mulheres de relevância no contexto político-sócio-cultural da Bahia”, diz Cristiane.

Patrimônio 
Oficialmente reconhecida como patrimônio imaterial da Bahia desde 2006, a partir de pesquisas realizadas pelo Ipac, a capoeira também é registrada pelo Ministério da Cultura (MinC), desde 2009, como patrimônio brasileiro. Segundo a antropóloga Maria Paula Adinolfi, autora do parecer do MinC, a capoeira é um fenômeno multifacetado e multidimensional, ao mesmo tempo dança, luta e jogo.

Administrado pelo Ipac, órgão vinculado à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult), o Forte de Santo Antônio Além do Carmo reúne atividades ligadas à capoeira, sediando, inclusive, academias que dedicam a essa prática esportiva. A secular edificação fica no mesmo lugar da trincheira Baluarte de Santiago, construída em 1627, após a expulsão dos holandeses de Salvador.

Na década de 1950, foi transformado em prisão, desativada em 1976, e durante o regime militar abrigou presos políticos. Informações sobre o seminário podem ser obtidas através dos telefones (71) 9925-5830, 8312-5869, 9635-5433 e 8833-1469, ou pelos nildesena@yahoo.com.br e nanidejoaopequeno@yahoo.com.br. Para ter acesso a outros dados sobre o Forte e o IPAC, acesse o blog do Forte  e o site do IPAC.

Mestre Pastinha
Vicente Joaquim Ferreira (1889-1981), chamado de Pastinha, foi um dos mais reconhecidos mestres de capoeira do Brasil. Em depoimento ao Museu da Imagem e do Som, em 1967, o mestre contou que "um velho africano assistindo a uma briga de rua da qual eu participava e apanhava, me convidou para me ensinar a capoeira”.

Depois de anos de dedicação, os conceitos de Pastinha formaram seguidores em todo Brasil. A originalidade do método de ensino e a prática do jogo enquanto expressão artística, formaram a escola que privilegia o trabalho físico e mental para que o talento se expanda em criatividade.

Em 1941, ele fundou a primeira escola de capoeira legalizada pelo governo baiano, o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), no Largo do Pelourinho. Em 1966, integrou a comitiva brasileira do primeiro Festival Mundial de Arte Negra no Senegal e em 1965 publicou o livro ‘Capoeira Angola’, em que defendia a natureza desportista e não-violenta do jogo.

Pastinha enfatizou o lado lúdico e artístico da capoeira, destacando os treinos de cantos e toques de instrumentos. Também buscou na tradição conceitos centrais, como a malícia e a ilusão do adversário sempre que possível, para evitar movimentos mecânicos e previsíveis. Para ele, a capoeira era um esporte, uma luta, mas também uma reza, lamento, brincadeira, dança, vadiagem e um momento de comunhão.