As batidas dos atabaques anunciaram a entrega, nesta sexta-feira (11), das obras de reforma das Casas de Oxalá e de Iemanjá do terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, localizado em São Gonçalo do Retiro, no Cabula. A solenidade de inauguração contou com a presença do governador Jaques Wagner, da primeira-dama Fátima Mendonça, da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, do presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, e de secretários estaduais.

Considerado um dos mais antigos terreiros do Brasil, o Ilê Axé Opô Afonjá recebeu investimentos de R$ 560 mil, recursos do Iphan. Foram realizadas obras de reforma e recomposição de paredes e alvenarias, nova estrutura de sustentação do telhado, nivelamento e execução de novos pisos, readequação dos espaços internos, instalação de gás, revisão geral e execução de novas instalações elétricas e hidrosanitárias e pintura geral. Além da reforma, a Casa de Santo recebeu do governo estadual uma cozinha industrial, reivindicação antiga dos filhos e filhas de santo. Também foi realizada a requalificação física do Museu Ilê Ohum Lailai (Casa das Coisas Antigas), que volta à atividade na próxima quarta-feira (16).

“É uma grande honra ter sempre pessoas trabalhando pelo sagrado. Os órgãos estaduais e federais sempre fazem alguma coisa aqui (terreiro), nos ajudando a preservar a cultura africana. Estou realizada, porque nossos pensamentos foram escutados e as ações concretizadas”, afirmou Mãe Stella de Oxossi, que durante as comemorações presenteou o governador e a ministra com a réplica de um orixá.

Segundo a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, a restauração faz parte de uma política nacional dos terreiros, que inclui o tombamento de patrimônio histórico. “Estamos vivendo um momento em que o estado está cada vez mais presente nas ações de investimento a fim de qualificar as práticas religiosas”.

Ações estaduais 
Para preservar ainda mais a cultura religiosa e a história dos terreiros, o Estado tem desenvolvido diversas ações. Segundo o governador Jaques Wagner, estão sendo investidos mais de R$ 2,5 milhões na recuperação de 53 terreiros de candomblé. “É obrigação do Estado acolher e dar suporte a todas as religiões, particularmente as de matriz africana, que durante séculos foram perseguidas. Creio que devemos reparar este equivoco do passado e as ações implementadas é uma das maneiras”.

Tombado pelo Iphan em julho de 2000, o terreiro recebeu do Governo do Estado, em 2009, todos os equipamentos necessários – computadores em rede conectados à internet, scanners e impressora – para a digitalização do acervo do terreiro. O Centro de Documentação e Memória Afonjá é especializado em cultura africana e afrobrasileira, tendo um vasto acervo bibliográfico, etnográfico e histórico, que pode dar suporte às áreas governamentais voltadas para a execução de políticas públicas de promoção da igualdade racial.

Terreiros na Bahia
O Ilê Axé Opô Afonja foi fundado em 1910 por Eugênia Anna dos Santos, Mãe Aninha, Oba Biyi, responsável, em 1937, pela liberação do culto afro brasileiro, muito perseguido pela polícia brasileira nos primeiros anos do século XX. Em 2000 foi tombado pelo Iphan, tornando-se patrimônio histórico e artístico nacional. Dos sete terreiros de candomblé tombados pelo Iphan, seis estão na Bahia – Casa Branca, Ilê Axé Opô Afonjá, Gantois, Alaketu e Bate-folha, em Salvador, e Roça do Ventura, na cidade de Cachoeira, que recebeu a proteção federal em janeiro. No Maranhão, o Terreiro Casa das Minas Jejê foi tombado em 2005. Salvador, inclui ações integradas de preservação e promoção do Patrimônio Cultural entre 2010 e 2013, prevendo intervenções nos terreiros protegidos.

Publicada às 16h45
Atualizada às 19h45