Durante décadas os moradores de Cachoeira, no Recôncavo baiano, lutam para que a cidade tenha um teatro. Essa batalha que se arrasta há mais de 150 anos finalmente vai ter um final feliz neste ano, com a restauração completa e entrega à população do Cine-Teatro Glória.

Até agora foram realizados serviços preliminares de demolições e preparado o canteiro de obras. Todo o cine-teatro detém 680 metros quadrados e a intervenção está prevista para durar até o segundo semestre deste ano. O novo espaço terá foyer, hall de circulação, sanitários, depósitos, subestação, três galerias, sala de projeção, camarins, entre outros itens.

Investimentos
Orçadas em R$ 4,3 milhões, as obras são coordenadas pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), autarquia da secretaria de Cultura do governo baiano (Secult), e integram o programa Monumenta do governo federal. Os recursos são da União, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e contrapartida do Governo da Bahia.

O Monumenta recupera áreas urbanas sob tutela federal, com restauro, medidas econômicas, institucionais e educativas. Nas cidades baianas de Cachoeira e Lençóis, a coordenação do Monumenta é do Ipac, e na capital, com a 7ª etapa de recuperação do Centro Histórico de Salvador, a responsabilidade é da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder).

“Até hoje, por meio do Monumenta, já foram investidos cerca de R$ 40 milhões nas duas cidades”, informa o diretor do Ipac, Frederico Mendonça. Cachoeira é a cidade brasileira que mais recebe investimentos do programa. “Já foram restaurados 80 imóveis públicos, privados, igrejas, conventos e monumentos tombados pelo Iphan, e recuperadas as orlas fluviais de Cachoeira, São Félix e Lençóis”, completa Mendonça.

Tentativas
As tentativas para se construir um teatro em Cachoeira começam no ano de 1859 quando foi criada a Sociedade União Cachoeirana com o objetivo de construir um teatro no Alto da Conceição do Monte, elevação cachoeirana onde se encontra também a Igreja de Nossa do Monte.

A segunda tentativa ocorre em 1894, quando é fundada a Empreza Teatral Paraguassu. Em 1923 a empresa entra em falência e o local é reinaugurado com o nome de Cine-teatro Cachoeirano, na Praça dos Arcos, renomeado depois de Cine-Teatro Glória na década de 1950.

Os mais importantes centros urbanos do Brasil imperial e da primeira república já dispunham de espaços artísticos para peças teatrais e outros eventos. Apesar das tentativas, Cachoeira, que é tombada desde 1971 como Patrimônio do Brasil pelo Ministério da Cultura e foi a segunda mais rica cidade da Bahia nos séculos 18 e 19, só conseguiu seu teatro definitivo em 1923, com a criação do Cine-Teatro Paraguassú. Vários artistas brasileiros como Caubi Peixoto e Ângela Maria se apresentaram no local. Nas décadas de 1960 e 1970 aconteciam programas de calouros e matinées.

Em meados de 1990 a prefeitura de Cachoeira fechou o local definitivamente. Hoje a edificação pertence à União, através do Iphan, e será entregue para uso pleno da população, após as obras do Ipac.