O oeste do estado está, mais uma vez, na mira dos investimentos internacionais. A qualidade e a regularidade da produção de grãos na região resultaram na assinatura, nesta quinta-feira (17), do memorando de entendimento entre o governador Jaques Wagner e o presidente da empresa estatal sul-coreana Korea Agro-Fisheries Trade Corp, Young Jê Ha, para a comercialização de soja, algodão e milho.

Um dos pontos centrais do acordo é estabelecer a venda direta destes grãos sem a intervenção de traders (empresas que negociam commodities), o que resultará em aumento de lucro aos produtores rurais. “Queremos firmar um comércio bilateral direto entre produtores e a Coréia do Sul sem intermediadores para ampliar a renda dos produtores e aumentar nossas exportações”, afirmou o secretário da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária, Eduardo Salles.

Além do aumento nos lucros, a entrega regular de grãos de qualidade vai explicitar ao mercado asiático a capacidade de exportação da Bahia. “Diante disso, o governo da Coréia do Sul atuará como um facilitador, incentivando empresas asiáticas a abrirem portas para os grãos da Bahia, principalmente na China, país com o qual os sul-coreanos mantêm o maior comércio bilateral”, explicou o secretário.

Outro objetivo previsto no memorando é o investimento sul-coreano na agroindustrialização da Bahia, sobretudo nas cadeias produtivas da soja, milho e algodão na região oeste. Se por um lado, o estado é um dos melhores do mundo na produção de grãos e detém a tecnologia de produção dos mesmos, a Coréia do Sul possui a tecnologia da industrialização e mercado consumidor.

“Este é um dos países que têm os alimentos como estratégias centrais, uma vez que não são autossuficientes na produção alimentícia. Por isso, vemos lá um grande mercado consumidor em potencial”, enfatizou Salles.

Produção 

Nos últimos quatro anos, a produção de grãos na Bahia cresceu 51,4%, atingindo a marca de 23,5 milhões de toneladas. Em 2010, o estado alcançou recorde histórico de produção, com 6,73 milhões de toneladas. Hoje o agronegócio representa 24% do PIB, 30% dos empregos gerados e 37% das exportações.

Em 2010, a região oeste apresentou a maior safra de soja de sua história, batendo recordes de produção e produtividade. Lá, a produção dos grãos, pela primeira vez, atingiu a marca de três milhões de toneladas, registrando o volume recorde de 3,213 milhões de toneladas – 28% a mais do que a safra passada, de 2,5 milhões de toneladas. O milho também bateu recordes, com a colheita de 1,5 milhão de toneladas nesta safra – 1,4% a mais do que na anterior.

Foi este contexto favorável que despertou a atenção internacional asiática, culminando com a assinatura do memorando de intenções após dois dias de viagens empreendidas pelos representantes do governo sul-coreano. De acordo com o presidente da Korea Agro-Fisheries Trade Corp, Young Jê Ha, o objetivo da viagem foi conhecer o estado para firmar parcerias comerciais em prol do abastecimento seguro de grãos. “Nesses dois dias, pudemos confirmar realmente que a Bahia está numa fase de crescimento muito rápido e tenho certeza de que, por meio deste relacionamento comercial, poderemos conseguir um resultado muito bom para os dois lados”, disse Young Je.

Bahia é um porto seguro para produção de alimentos

Os presidentes da estatal AT Korea Agro-Fisheries Trade Corporation, Young Je Ha, e da Samsung C&T do Brasil, Choong Ki Jung, visitaram fazendas de soja e de milho, no município de Luiz Eduardo Magalhães, e se mostraram muito animados. “Tive idéia da organização dos produtores e deu para conhecer bem melhor as associações”, disse Young, que espera ver a parceria da Coréia do Sul com o Brasil fortalecida. Seu país importa mais de 70% dos produtos alimentícios, chegando a 14 milhões de toneladas por ano só de milho e soja.

O secretário Eduardo Salles disse que a agropecuária baiana vivencia um momento de “extrema importância” porque os investidores do setor alimentício de todo o mundo veem a Bahia como um porto seguro para a produção de alimentos. “Possuímos a tecnologia de produção, e eles a experiência de industrialização e o mercado final. Temos que aproveitar esse momento, dar condições aos empresários que querem investir na Bahia para que os investimentos sejam concretizados, agregando valor aos nossos produtos, gerando empregos e renda no interior do estado”.

Salles defendeu um modelo de parceria onde os empresários investirão para implantar agroindústrias e os produtores, organizados em cooperativas ou associações, entrarão com a matéria prima, gerando resultados positivos para todos. Segundo o prefeito de Luiz Eduardo Magalhães, Humberto Santa Cruz, essa seria mesmo a melhor alternativa de parceria. Ele entende que os grãos produzidos no oeste continuarão sendo exportados porque a agroindustrialização da região é a meta do município. “Nós temos condições competitivas para receber os investimentos dos empresários da Ásia”.

Empresários visitam porto

Depois de conhecer a produção de grãos no oeste baiano, os executivos coreanos, acompanhados pelo superintendente de Política do Agronegócio da Secretaria da Agricultura, Jairo Vaz, conheceram a estrutura do Terminal Portuário de Cotegipe. “A Coréia do Sul depende da importação de grãos e o Brasil, com destaque para a Bahia, é grande produtor. Essa parceria vai funcionar. Estamos com interesse de participar nesses investimentos e na expansão da infraestrutura”, afirmou o presidente da Samsung, Choong Ki Jung.

O vice-presidente do Terminal Portuário de Cotegipe, Sérgio Farias, mostrou à comitiva como funciona o porto por onde escoa grande parte da produção de grãos, considerado o mais moderno da Bahia e o de maior crescimento do estado. “Já visitamos outro estado do Brasil, mas acredito que fecharemos negócios aqui na Bahia”, disse Ki Jung.

C-port

Construído em janeiro de 2004, o Cotegipe (C-port), localizado na Baía de Aratu, com capacidade total para armazenar seis milhões de toneladas, iniciou a operação em 2005. Numa área de 120 mil metros quadrados o C-Port realiza o escoamento da produção de soja do oeste baiano e recebimento de trigo para o moinho M. Dias Branco. Até agora, opera com dois berços totalizando 520 metros para navios de até 75 mil tpb. Trigo, soja e farelo de soja são algumas das cargas exportadas pelo porto.