Cinquenta pás (hélices) que vão compor os aerogeradores do primeiro parque eólico da Bahia já estão em Brotas de Macaúbas. Ao todo, serão 171 pás que farão parte das três usinas para aproveitamento da energia do vento em fase de construção no município.

Os equipamentos chegaram ao Terminal de Contêiner (Tecon), no fim do ano passado, e em janeiro último começaram a ser levados para o município localizado no Território de Identidade Velho Chico. Na manhã desta quarta-feira (16), outras duas hélices foram levadas para Brotas de Macaúbas, onde serão montadas. Seis, no máximo, são transportadas por dia.

Em cumprimento à Resolução 11/2004, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), as carretas foram escoltadas por batedores credenciados (particulares) e pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Centro Industrial de Aratu (CIA) até o destino.

O controle rigoroso no transporte se deve ao fato da carga ser especial. Confeccionada em metal e fibra de vidro, cada hélice possui 47 metros de cumprimento e 6,5 toneladas – a ponta do equipamento ultrapassa a extensão da carreta em oito metros. Cinquenta e sete nacellis (motores) também estão a caminho de Brotas de Macaúbas, mas por serem bem menores, os batedores foram dispensados.

Segundo o inspetor da PRF, Amaro Martins, todo o trajeto tem mais de 500 quilômetros. “Partimos do Viaduto do CIA pela BR-324 (ligação Salvador – Feira de Santana), Anel de Contorno de Feira de Santana, seguindo em direção ao sul da Bahia, até Paraguaçu. De lá, deslocamos para a BR-242, que liga Feira de Santana ao oeste baiano, até o destino final”.

Ele informou que há uma preocupação com os veículos de pequeno e grande porte, em especial os menores. “Em alguns pontos, é necessário criarmos obstáculos para permitir que os veículos escoltados passem com segurança e não causem transtorno aos demais condutores na via”.

A velocidade das carretas na estrada varia entre 50 e 60 quilômetros por hora. Por causa das paradas, o comboio pode levar mais de dez horas entre Salvador e Brotas de Macaúbas. “Às vezes paramos por questão de segurança. O motorista não pode dirigir por tempo excedente”, explica o inspetor da PRF.

Thiago Maciel, 27 anos, é um dos motoristas da transportadora contratada pela Desenvix, uma das empresas vencedoras do leilão realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em dezembro de 2009, para executar os projetos de energia eólica em Brotas de Macaúbas. Além da inspeção minuciosa nos caminhões, ele disse que fez treinamento para se tornar apto a conduzir a carga. “Passamos por uma capacitação com instruções que vão desde a velocidade até como fazer manobras para evitar colisões”.

Canteiro de obras

O impacto na economia da região onde o parque eólico é implantado já pode ser sentido. Quatrocentos trabalhadores já estão no canteiro de obras.

Conforme o diretor de implantação da Desenvix, Paulo Zuch, cerca de R$ 400 milhões serão viabilizados para a construção do complexo. “Recebemos apoio institucional do Estado, por meio das secretarias de Indústria e Comércio, de Meio Ambiente e da Casa Civil, na agilização dos licenciamentos de modo que pudéssemos cumprir as formalidades para execução do projeto”, disse. Ele referiu-se também aos incentivos fiscais aprovados pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz)”.

Em junho, o primeiro parque (Novo Horizonte), com capacidade para produzir 30 Mega Watt, deverá entrar em operação. Quando estiver em pleno funcionamento, previsto para o segundo semestre, o complexo de Brotas de Macaúbas – que inclui os parques Macaúbas e Seabra – será responsável pela produção de 90 Mega Watts de energia considerada limpa. Esse processo de geração de energia, além de oferecer baixo impacto ambiental, não libera carbono na atmosfera e dispensa desapropriação de terra.

Estado terá 36 usinas

Segundo o secretário da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, os proprietários rurais são contemplados com o projeto e, diferente da maioria das usinas que estão concentradas no litoral, “a energia eólica é uma boa surpresa para a região do semiárido. Além de produzir energia, gerar emprego e renda, os projetos ainda pagam aos proprietários das áreas pelo arrendamento da terra”.

De acordo com ele, cada produtor irá receber, aproximadamente, R$ 5 mil anualmente, por cada torre instalada, e outro valor semelhante por hectare de terra utilizado. “Temos o maior potencial eólico do Brasil. Nossos ventos têm sazonalidade menor, então os projetos são melhores. Damos todo o apoio no sentido de incentivar a regularização fundiária”. O secretário explicou que, junto com o Confaz e o BNB, respectivamente, há incentivos para aquisição das torres e viabilização dos financiamentos.

A Bahia irá dispor de 36 empreendimentos eólicos, o que representará investimentos da ordem de R$ 4 bilhões. Segundo James Correia, mais de R$ 42 bilhões deverão ser investidos em energia eólica na Bahia nos próximos anos.

As hélices que estão em deslocamento para o município de Brotas de Macaúbas foram produzidas nos Estados Unidos e os motores confeccionados na Espanha, ambos desenvolvidos com tecnologia da multinacional francesa, Alston.

Diante da vocação baiana para produção de energia eólica, em breve a Bahia também produzirá os equipamentos de ponta. A empresa espanhola Gamesa inaugura, em maio deste ano, a primeira fábrica de aerogeradores da Bahia, que está sendo implantada no Polo Industrial de Camaçari. Com investimento inicial de R$ 50 milhões, a empresa vai gerar, na primeira fase, 60 empregos diretos, com mão de obra 100% baiana. “Também estamos com o projeto de implantação de uma grande fábrica em Ilhéus pela G&E”, acrescentou o secretário da Indústria, Comércio e Mineração.