Débora Miranda Santos, 35 anos, sabe que ingressou no caminho mais longo, porém mais saudável, quando teve que abrir mão da cirurgia bariátrica (redução do estômago) e ingressou num programa multidisciplinar para perder peso. Os novos hábitos alimentares e, recentemente, a conscientização sobre a necessidade da prática de exercícios físicos levam a jovem a concluir que está emagrecendo de ‘dentro para fora’.

A luta contra a obesidade não é rápida, mas nos últimos seis meses ela já comemorou uma vitória: não voltou ao peso anterior de quase 100 quilos. Para os avanços no processo de emagrecimento tem sido fundamental o apoio do Programa de Atenção ao Portador de Diabetes e Obesidade, promovido pelo Planserv, onde é acompanhada desde que foi negado o pedido para realização de cirurgia bariátrica.

“A negativa me aborreceu, mas hoje agradeço a Deus porque se tivesse operado ficaria mais dependente de hospitais e medicamentos, pois sei que a bariátrica pode trazer muitos problemas”, afirma. Portadora de asma crônica, que exige uso constante de corticóides, ela também sofria muito de dores articulares. Hoje ela reconhece que ao adotar novos hábitos alimentares a saúde melhorou.

”Agora em abril, começarei a ginástica, seguindo a orientação da médica Carla Daltro, endocrinologista que me acompanha. Ela sempre me diz que eu poderia ter emagrecido mais se estivesse fazendo atividade física”, diz. Com 1,65 de altura, Débora precisa perder 20 quilos.

Outro exemplo

No caso de Francisco Bispo dos Santos Neto, 22 anos, foi escolha dele não fazer a bariátrica mesmo obtendo autorização do Planserv. Ao ler o termo que precisaria assinar, onde constam problemas decorrentes do procedimento, desistiu. Com 1,78m, tinha 122 quilos, mas já reduziu o peso para 115. Obeso desde os 9 anos, Francisco não tem outros problemas de saúde, mas “preciso emagrecer para evitar complicações futuras, pois minha mãe é diabética”.

Francisco também está no Programa de Atenção ao Portador de Diabetes e Obesidade do Planserv, onde tem acompanhamento de nutricionista e endocrinologista. Ele conta que, aos poucos, está conseguindo mudar os hábitos alimentares. “Hoje como mais frutas e verduras e menos massas”, diz. Mas admite que para avançar no emagrecimento tem que fazer atividade física.

As cirurgias para o combate à obesidade são procedimentos que limitam a capacidade gástrica ou interferem na digestão ou, ainda, uma combinação das duas técnicas. A bariátrica é indicada no caso de obesidade mórbida – para pessoas com Índice Massa Corporal (IMC), acima de 40 ou acima de 35 – associada a problemas agravados pela doença

Padrão alimentar

No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase metade dos adultos está acima do peso, outros 14,8 % apresentam obesidade e apenas 2,7% têm déficit de peso. A obesidade é maior entre mulheres de 20 anos ou mais (16,9%) do que entre homens (12,5%). Já o excesso de peso é registrado mais entre homens (50,1%) do que no segmento feminino (48%).

A obesidade é uma doença crônica. Segundo a endocrinologista Carla Daltro, isso explica o insucesso dos pacientes que recorrem a dietas restritivas e voltam a engordar quando é retomado o padrão alimentar anterior. “O paciente obeso precisa mudar hábitos alimentares e mantê-los pelo resto da vida. Isso vale também para quem faz cirurgia bariátrica”, diz a médica, uma das profissionais que atuam no Programa de Atenção ao Portador de Diabetes e Obesidade.

Embora seja um procedimento seguro (o índice de mortes pela cirurgia bariátrica é inferior a 1%), há complicações pós-bariátrica, a exemplo de vômito, queda de cabelo, dor epigástrica e perda de dentes. Pode ocorrer ainda redução excessiva de peso, exigindo que o paciente faça dieta hipercalórica. Há também pacientes que precisam fazer reposição de ferro por via endovenosa, pois a anemia é muito intensa.

Atenção redobrada

A cirurgia reduz em 80% doenças associadas à obesidade como apneia do sono, diabetes, hipertensão arterial e colesterol alto. Mas Carla Daltro alerta que “a cirurgia não faz milagre porque não atua no fenômeno que leva a pessoa à obesidade, ou seja, a compulsão alimentar. Daí a importância do acompanhamento pós-bariátrico por equipe multidisciplinar”.

Os beneficiários do Planserv submetidos à bariátrica são acompanhados pelo programa, porém muitos pacientes, acreditando que a cirurgia resolverá para sempre o problema da obesidade, não fazem o acompanhamento. O paciente se empolga porque, nos primeiros meses depois da cirurgia, a perda de peso é mais acelerada. Com um ano perde, geralmente, 50 a 60% do excesso. Depois é comum ganhar 10% do que perdeu. Por isso, à medida que o tempo passa, é preciso redobrar os cuidados.

“Com o estômago reduzido, o paciente já não consegue comer grande quantidade de alimentos ‘pesados’ como se diz popularmente. Mas sorvete, bebida alcoólica, se consumidos sem moderação, também farão o paciente voltar a engordar”, lembra a endocrinologista.