Rafael Borges Barreto, 23 anos, é comerciário e sofreu um acidente de moto no último dia 5, machucando braço e mão do lado direito. Na manhã desta quinta-feira (12) ele esteve no Serviço de Cirurgia de Mão do Hospital Geral do Estado (HGE) para fazer o acompanhamento da cicatrização.

Os ferimentos foram graves e profundos, envolvendo cortes e fratura no dedo polegar. “O acidente foi às 7h30, recebi o atendimento do Samu e antes das 9h estava no hospital. Às 10h30 eu já estava sendo operado”, descreve. A Bahia é o único estado brasileiro que mantém um plantão cirúrgico de 24 horas na especialidade.

Outra vítima de acidente, desta vez de trabalho, foi o agricultor Elielson Cerqueira Nascimento, 28 anos, morador de Bom Jesus, na região de Mutuípe, que sofreu um corte profundo durante o trabalho, provocado por um facão. Ele conta que os primeiros socorros foram feitos ainda em Bom Jesus e, logo após, foi transferido para Salvador, onde foi operado imediatamente.

No HGE são feitas, em média, 250 cirurgias de mão/mês. A equipe conta com 18 especialistas, membros titulares da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Mão. Os acidentes com lesões agudas na mão respondem por cerca de 35% de todos os traumas que chegam às emergências.

Sequelas
Segundo o médico-cirurgião especialista em mãos do HGE, Ewerton Bastos, o atendimento rápido a casos como os de Rafael e de Elielson é fundamental para que o paciente não fique com sequelas.

“Foi observado pela Secretaria Estadual da Saúde que a demanda existia e que as sequelas ocorriam por falta de atendimento rápido, causando infecções, mutilação e perda da função”, explica.

Bastos diz também que os especialistas de mão atuam em microcirurgias em outras partes do corpo. “Tudo o que envolve reposição de pele, de músculos, com reconstrução de vasos, quem faz é o especialista de mão”.

O Serviço de Cirurgia de Mão do HGE atua de forma integrada com o Hospital Manoel Vitorino (HM), que responde pelas cirurgias eletivas necessárias após o atendimento de urgência e emergência às vítimas de traumas e queimaduras com lesões de mão, atendidas não só do HGE, mas também em outras unidades hospitalares. O Serviço de Cirurgia de Mão do HMV conta com a mesma equipe de profissionais do HGE.

Estatísticas
Um estudo divulgado no ano passado, pela Associação Brasileira de Cirurgia das Mãos (ABMC), mostrou que ao menos 50% das mãos mutiladas no Brasil poderiam ser preservadas, caso o primeiro atendimento cirúrgico fosse especializado.

A pesquisa mostrou também que os homens são mais atingidos pelas lesões de mãos – 53% dos casos -, e que a maior parte dos acidentes ocorre no trabalho (43%), seguido do ambiente doméstico (29,6%) e do trânsito (15,1%).

O levantamento da ABCM se baseou em 4.258 atendimentos feitos em 12 hospitais, num período de 11 dias, e constatou também que quase a metade (43%) das lesões ocorreu em ambiente de trabalho.

Dados oficiais do INSS indicam que no Brasil acontecem em torno de 1,1 milhão de acidentes de trabalho por ano, dos quais cerca de 50%, ou seja, 550 mil, comprometem o membro superior. Além destes acidentes registrados, existe grande número de lesões que não são registradas oficialmente, elevando ainda mais estes números.

Serviço do HGE é destaque do 31º Congresso Brasileiro de Cirurgia de Mão

O trabalho do Serviço de Cirurgia de Mão do Hospital Geral do Estado é um dos destaques do 31º Congresso Brasileiro de Cirurgia de Mão, que está sendo realizado até sábado (14), no Sauípe Park Hotel. No ano passado, o então presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Mão, Gilberto Ohara, visitou o HGE e o HMV, a fim de conhecer as instalações e o modelo de funcionamento dos serviços e avaliar a sua implantação em outros estados.

Na oportunidade, a Bahia foi escolhida para sediar o 31º Congresso Brasileiro de Cirurgia de Mão, que possibilita a integração e a troca de conhecimento e experiência entre os especialistas.

Festas juninas
O número de acidentes que resultam em lesões nas mãos aumenta em torno de 25 vezes durante o período de festas juninas. Cerca de 90% dos acidentes graves com bombas resultam em amputações.

Os dados são da Associação de Cirurgia da Mão da Bahia (ACMB), parceira da Sesab na campanha de prevenção a acidentes com fogos que pretende chamar a atenção da população para os riscos de queimaduras graves e mutilações nesta época que se aproxima.