“Precisamos expandir a agricultura orgânica na Bahia, reduzindo o uso de agrotóxicos e minimizando os danos causados ao meio ambiente”. O apelo, às vésperas do Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no próximo domingo (5), é do presidente da Associação de Produtores Orgânicos de Conceição do Jacuípe, Zito Santos, que faz um alerta para o uso indiscriminado no país de produtos químicos nas plantações. Ele falou dos riscos que essa prática representa à saúde da população e os prejuízos que gera ao ecossistema.

Composta por 12 famílias de agricultores familiares, a Associação de Produtores Orgânicos de Conceição do Jacuípe é uma das poucas entidades do estado – a maioria formada por agricultores familiares – que se dedicam exclusivamente ao cultivo de orgânicos.

Ainda é incerto na Bahia – e no restante do país – o número de agricultores que cultivam orgânicos e adotam os princípios agroecológicos nas lavouras. Este é um dos fatores que levaram o governo baiano, via Secretaria da Agricultura (Seagri), a criar o Comitê Estadual de Agroecologia, voltado para a agricultura familiar.

“A nossa meta é fazer um levantamento sistemático das famílias que estão produzindo com princípios agroecológicos”, disse Jeandro Laytinher, diretor de fomento à produção, agroecologia e acesso a mercado da Seagri, adiantando que ainda este ano deve ser criada uma coordenação exclusiva na secretaria para cuidar do tema agroecologia.

A procura por alimentos da agricultura orgânica vem crescendo em solo baiano, assim como no Brasil e em outras partes do mundo. Para se ter uma dimensão, o consumo chega a ser 10% maior a cada ano no mercado interno brasileiro e entre 20% e 30% no mercado externo.

E a elevação não se dá apenas no consumo, mas também na comercialização desses alimentos. Dados do projeto Organics Brasil indicam que o segmento de orgânicos do país movimentou nada menos que R$ 350 milhões em vendas, no ano passado, valor 40% maior que o registrado em 2009.

A explicação para esse crescimento se deve, em grande parte, ao interesse da população por esses alimentos. “Cada vez um número maior de pessoas busca informações sobre orgânicos e, consequentemente, consome mais esse tipo de alimento”, declarou o coordenador de agroecologia do Ministério da Agricultura, Rogério Dias.

A Bahia exporta produtos orgânicos desde 2008, quando o primeiro carregamento com 13,5 toneladas de suco concentrado de laranja orgânica saiu do Porto de Salvador com destino à Holanda. Pioneira no Nordeste do país, a iniciativa é resultado da parceria entre a Central das Associações do Litoral Norte (Cealnor) e a Secretaria Estadual da Agricultura.

As laranjas são produzidas por agricultores familiares de Rio Real e de outros municípios da região, todos ligados à Cealnor, que possui atualmente 61 cooperados, 28 dos quais produzem orgânicos. No ano passado, foram exportadas 9,5 toneladas de suco concentrado para a Bélgica e o Canadá.

Fábrica baiana

Dentro de poucos meses, a laranja produzida na Bahia passará a ser processada em Rio Real, o maior município do mundo em área plantada com citros, com 28 mil hectares. Em novembro do ano passado, a empresa Brasfrut Frutos do Brasil assinou protocolo de intenções com as secretarias da Agricultura, da Fazenda e da Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, comprometendo-se a instalar na cidade uma unidade industrial para produção de suco concentrado e polpas.

A fábrica está sendo instalada com planos de duplicação em quatro anos e vai processar 100 mil toneladas de laranja por ano. O investimento será de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões, com previsão de faturamento anual de R$ 24 milhões e geração imediata de 120 empregos diretos.

Para o secretário estadual da Agricultura, Eduardo Salles, a industrialização da laranja foi o primeiro desafio levantado pela Câmara Setorial da Fruticultura, que já elaborou o planejamento estratégico desse setor para os próximos 20 anos.

“Somos o segundo maior produtor de laranja do país e não tínhamos uma fábrica para agregar valor ao produto”, declarou Salles, lembrando que 70% da produção baiana é processada em Sergipe. “Agora, com a fábrica da Brasfrut, esse quadro vai mudar e a economia da região será beneficiada”.

Mais saudáveis

Na hora da compra, uma dúvida comum aos consumidores é quanto às vantagens dos orgânicos. Zito Santos só vê vantagens na ingestão desses alimentos. “Dispensam o uso de agrotóxicos em seu cultivo e por isso são mais saudáveis”. Ele afirmou que a agricultura orgânica traz também benefícios aos produtores, “que deixam de manter contato com os agrotóxicos, o que pode causar doenças graves”.

Os alimentos orgânicos são aqueles produzidos sem o uso de agrotóxicos. Mas não é só isso. Toda a cadeia produtiva, desde o plantio até a venda, é manejada de forma a evitar danos ao meio ambiente. Ou seja, de modo sustentável. “Além da ausência de pesticidas, a agricultura orgânica propõe uma utilização racional de recursos naturais, como os vegetais, o solo, a água e os animais do ecossistema”, explicou Santos.

Uma pesquisa realizada durante dois anos em Chicago, Estados Unidos, e publicada no Journal of Applied Nutrition, revela a diferença entre os alimentos orgânicos e os alimentos produzidos de forma convencional. Análises feitas em amostras de maçã, batata, pêra, trigo e milho doce comprovaram que os alimentos orgânicos possuem uma diferença acentuada no conteúdo de alguns minerais essenciais.

De acordo com o estudo, os alimentos orgânicos possuem quantidade 60% maior de zinco, 65% de cálcio, 73% de ferro, 91% de fósforo, 118% de magnésio, 125% de potássio e 178% de molibdênio, enquanto a taxa de mercúrio encontrada é 29% menor.

E a identificação dos produtos orgânicos hoje está mais fácil. Em janeiro deste ano, a agricultura orgânica passou a dispor de novas instruções normativas que detalham as regulamentações da Lei dos Orgânicos (10.831, de 23 de dezembro de 2003). O setor se tornou mais padronizado e uma das principais mudanças é que o consumidor não precisa apenas confiar em quem produz orgânicos. Agora todos os produtos possuem selo, o que facilita a identificação.