Depois de passar quatro meses em restauração, a Coroa de Xangô está de volta ao Terreiro da Casa Branca, conhecido em yorubá como Ilê Axé Iyá Nassó Oká, localizado na Avenida Vasco da Gama, em Salvador. A remontagem da peça começou sexta-feira (10) e termina nesta quarta (15).

Construída por Julieta Oliveira – Julieta de Oxum -, em 1972, a obra artística e sagrada nunca tinha passado por uma grande intervenção e ficará pronta, no terreiro, sete dias antes da abertura do ciclo religioso da Casa Branca.

De acordo com o diretor geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), Frederico Mendonça, a coroa foi reformada após a Associação São Jorge do Engenho Velho, entidade responsável pelo terreiro, vencer o edital de Preservação, Dinamização e Difusão de Acervos. “Por meio dos editais, a sociedade civil tem possibilidade efetiva de participar das políticas públicas culturais”.

A restauração da peça custou cerca de R$ 27 mil. “De 2008 a 2010 foram investidos mais de R$ 2 milhões em editais beneficiando dezenas de municípios baianos com 73 projetos”, afirma o diretor do Ipac, órgão vinculado à Secretaria de Cultura do Estado (Secult).

A Coroa de Xangô fica instalada no pilar do barracão ou casa principal do terreiro, onde acontecem as festas públicas. A coluna é considerada o centro simbólico e ritualístico. Ali, segundo o ogã da Casa Branca, Antônio Figueiredo, está o axé que sinaliza a sacralidade do barracão. Na cosmologia nagô, é a representação material da ligação entre duas dimensões, o Aiyê (Terra, mundo dos vivos) e o Orum (Céu, domínio das divindades).

Ornamento feito em madeira e pedraria, a Coroa foi confeccionada após a remoção de outra peça de opaca, mais antiga e cuja manufatura é atribuída ao africano e um dos fundadores da Casa Branca, Rodolfo Martins de Andrade, o renomado Tio Bamboxê. A sua recuperação coube ao restaurador e professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, Dirson Argolo.

Estudo prévio detectou problemas na peça como oxidação do verniz, fissuras e empeno, apodrecimento do forro, partes faltantes, deslocamento e perdas das folhas de compensado. Os restauradores trocaram 70% da madeira por cedro, reconstituíram as peças que faltavam, promoveram limpeza e imunização, reforçaram o verso de cada florão e a parte estrutural interna da coroa, fixada em barras de ferro.

Matriz brasileira 
O Terreiro da Casa Branca foi fundado no século XIX por um grupo de sacerdotisas africanas nagôs e é considerado matriz no Brasil de centenas de outros terreiros. Em 1984, a Casa foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como primeiro centro religioso não-católico a ser reconhecido como patrimônio nacional pelo Ministério da Cultura. A Casa possui 6,8 mil metros quadrados, com barracão, praça, fonte e mais itens sagrados. O local foi contemplado ainda por outro edital do Ipac para recuperar a Casa de Oxossi, com investimento de R$ 19,9 mil.

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Restauração da Coroa de Xangô durou quatro meses (Foto: Divulgação)