Pelos corredores, pátios ou salas de aula, nenhum livro didático é deixado ao léu. Cada aluno cuida do seu como um bem público que se preza. Conservá-lo e devolvê-lo, no final do ano letivo, tornou-se um ato de cidadania e de comprometimento com os colegas, que também têm o direito de usufruí-lo no ano seguinte. O cenário favorável ao ensino e à gestão escolar é uma realidade na Escola Estadual José Luiz de Oliveira, no bairro de Cajazeiras, em Salvador.

O exemplo de boas práticas escolares é compartilhado com seus 771 alunos. A campanha de preservação e devolução do livro didático, promovida pela direção da escola, sob orientação da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, foi abraçada pela comunidade escolar. “A iniciativa mudou a mentalidade dos estudantes e pais, com quem temos tido reuniões permanentes para discutir a importância de cuidar do livro didático, que é um patrimônio público”, afirma a diretora da escola, Taís Macedo Cruz.

O estudante que danificar ou perder seus livros causará prejuízo financeiro aos pais ou responsáveis, que necessitarão comprar um novo exemplar para devolvê-lo à instituição, no final das atividades escolares, conforme o termo de responsabilidade assinado.

Exemplo a ser seguido

O estudante Felipe Souza dos Santos, 17, 8ª série, garante que tem o mesmo zelo com seus livros, a exemplo de roupas e celular. “Livros são a vida da gente. Os meus são forrados e guardados no guarda-roupa. Cuido deles como um bem de valor, que vai servir para outros colegas”, afirma, elogiando o compromisso da direção do colégio com seu alunado. A irmã, Caroline Souza dos Santos, 15, sua colega de série, diz que faz o mesmo. “Todas as escolas deveriam realizar essa campanha de conservação do livro”.

O colega Gabriel Santos, 14, da mesma série, afirma que se sentia “muito triste” quando recebia os livros danificados. “Ficava desestimulado. Agora, conservo bem os meus para que, no próximo ano, eu possa passá-los em perfeito estado. Por isso, forrei os livros com plástico e não rabisco nas páginas. Aconselho a todos a fazerem o mesmo”.

Maiara Ramos de Mourão, 15, 8ª série, lembra do quanto mudou a questão da conservação do livro no colégio. “Estamos mais conscientes, graças ao trabalho desenvolvido pela diretora e os professores. Afinal, o livro é o nosso futuro”. Bruno de Andrade, 14, também faz questão de dar seu depoimento – “precisamos do livro para o nosso aprendizado. Lá em casa, tenho uma minibiblioteca e estou sempre limpando os livros, que são todos forrados”.

O diálogo foi o começo de tudo

Ao contrário dos anos anteriores, em 2011 os livros didáticos foram entregues diretamente aos pais ou responsáveis dos alunos. Nesse encontro, abriu-se o diálogo sobre a necessidade da ação coletiva de conservação e preservação do livro. A partir daí, eles assinaram termo de responsabilidade, estabelecendo que os livros devem ser devolvidos em boa conservação, no final do ano letivo, para que possa ser reutilizado por três anos, como estabelece o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

O segundo passo foi conversar com os alunos sobre o tema, orientando-os a encapar seus livros e manuseá-los de forma correta para sua conservação. “Explicamos a eles que o livro não é gratuito, é dinheiro público. E que sendo um bem de consumo público, pertence à comunidade como um todo”, explica a diretora.

Segundo Taís Cruz, no começo houve uma resistência natural dos estudantes. “Eles tendem a ter um pensamento mais assistencialista do que colaborativo. Existe a ideia de que o governo tem obrigação de dar. Nossa tarefa foi conscientizá-los para o fato de que temos que fazer a nossa parte e cuidar do livro como um bem que é de todos”.

Ação permanente de conscientização

Com a campanha de valorização do livro didático, lançado pela Secretaria da Educação, em março último, os diretores e professores dos colégios da rede passaram a adotar uma ação permanente de conscientização e devolução dessa importante ferramenta de aprendizagem e de fortalecimento da qualidade da educação.

O objetivo da campanha é elevar o percentual de devolução de livros na rede pública estadual de ensino, colaborando para o aumento da sua vida útil. “A Secretaria da Educação lança a campanha por entender a importância da preservação do livro não apenas como patrimônio do Governo do Estado, mas como fonte de cultura”, disse à época do lançamento do programa, a coordenadora de Monitoramento do Livro, Ana Cristina Carvalho.