Farinha de mandioca, feijão, achocolatado com leite em pó, milho de munguzá, fubá de milho, leite em pó, manteiga, mel e flocão de milho são alimentos produzidos por mais de 1.200 integrantes de oito cooperativas de pequenos agricultores da Bahia, que passaram a compor o cardápio escolar de 271 unidades de ensino da rede estadual da capital e Região Metropolitana de Salvador (RMS).

Na manhã desta segunda-feira (22), os produtos que estavam armazenados no galpão da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário (EBDA), em Salvador, começaram a ser distribuídos nos colégios.

A iniciativa integra o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa Vida Melhor, lançado no início do mês, na capital baiana, com a presença da presidente Dilma Rousseff. Na Bahia, a ação é executada pela Secretaria da Agricultura, Reforma Agrária e Irrigação (Seagri), por meio da Superintendência de Agricultura Familiar (Suaf) em parceria com a Secretaria da Educação (SEC) e a EBDA.

Coube à Suaf selecionar e credenciar as cooperativas que representam centenas de famílias do campo. Aos 68 anos, Judicael Oliveira é um dos 59 produtores de leite participantes da Cooperativa Mista Agropecuária de Baixa Grande (Coomab). Junto com a nora e dois filhos, ele faz a ordenha de 50 vacas numa pequena propriedade na zona rural do município. “Vender para a cooperativa fica mais fácil”.

Segundo o presidente da Coomab, João da Silva Oliveira, para beneficiar o leite produzido pelos cooperados de Baixa Grande e transformá-lo em pó, foi formalizada uma parceria com outra cooperativa. “O leite é coletado e resfriado aqui. O caminhão leva para a Cooperativa Central de Laticínios da Bahia (CCLB), em Feira de Santana, onde é secado, envasado e fracionado para ser distribuído entre as escolas”.

Desenvolvimento de crianças e jovens

A diretora do Centro Educacional Carneiro Ribeiro (Classe 1), Carla Dias, informou que a entrega realizada, via EBDA, garante o cumprimento da programação da merenda conforme o cardápio previsto pela direção do colégio. “Ao recebermos a merenda diretamente do fornecedor, já licitada pela secretaria, fica mais tranquilo para a escola. É uma preocupação a menos ter que se mobilizar para buscar esse alimento lá fora”.

De acordo com a nutricionista da SEC, Rosana Lima, alguns alimentos produzidos pela agricultura familiar são fundamentais para o desenvolvimento de crianças e jovens. “O feijão é muito importante para combater as deficiências de ferro, causadoras da anemia, e o leite para suprir as necessidades de cálcio”.

A merenda preparada com produtos da agricultura familiar foi aprovada pelos estudantes. “Hoje de manhã teve leite achocolatado com biscoito e eu gostei”, disse a estudante da 5ª série (Classe 1), Quézia Ramos Silva, 11 anos.

Distribuição para 271 colégios estaduais

Os alimentos serão entregues a 271 unidades estaduais de ensino de Salvador e RMS, atendendo a mais de 240 mil alunos, e a expectativa é que a distribuição seja concluída em duas semanas. Foram comprados 648,5 mil quilos de alimentos por, aproximadamente, R$ 4,8 milhões. Cada produtor rural pode comercializar até R$ 9 mil.

O diretor de acesso a mercados e agregação de valor da Suaf, Jeandro Ribeiro, informou que os alimentos são oriundos de várias regiões da Bahia. “O achocolatado, por exemplo, vem de Ilhéus. O fubá de milho, de Irecê, e o mel vem da região do São Francisco, lá de Juazeiro”.

Segundo ele, são seguidos critérios rigorosos de armazenamento para que a qualidade dos produtos seja mantida. “Tivemos participação importante da União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária da Bahia (Unicafs), onde foi possível criar uma central de recebimento e distribuição desses produtos. Foi contratada uma empresa de logística para que os alimentos cheguem na data certa e não ocorra prejuízo nutricional”.

Todo o procedimento está previsto na Lei 11.947, que determina a utilização de no mínimo 30% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a alimentação escolar, por meio da compra de produtos da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações (cooperativas). O diretor-presidente da EBDA, Elionaldo de Faro, disse que a lei beneficia quem realmente não tinha oportunidades no mercado – o agricultor familiar.

“É um momento muito importante. Uma empresa do estado está viabilizando que os agricultores familiares da Bahia comecem a ter um processo de organização, da semente até a produção final, e entregar alimentos para a merenda dos estudantes da rede pública”.