Pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura, de Cruz das Almas, e técnicos da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) treinaram recentemente técnicos e produtores de citros para o reconhecimento, no campo, de sintomas da clorose variegada dos citros (CVC), praga detectada no Recôncavo Sul baiano.

Popularmente conhecida como amarelinho, a CVC ataca a citricultura brasileira desde os anos 80, podendo ser disseminada por inseto vetor (mais de 11 tipos de cigarrinhas) e também por mudas infectadas. Causada pela bactéria Xylella fastidiosa, promove manchas amareladas e variegadas nas folhas das laranjeiras doces, secagem dos ramos e, em último estágio, amarelecimento, endurecimento e redução de tamanho dos frutos. Os sintomas aparecem após, pelo menos, seis meses da primeira infecção.

Na Bahia, a praga teve seu primeiro relato em 1997, no litoral norte, nos municípios de Rio Real e Itapicuru. Em outubro de 2009, foi detectada por pesquisadores da Embrapa em pomares do município de Governador Mangabeira, no Recôncavo baiano. Em maio passado, a Adab registrou a expansão para povoados do município de Muritiba e, mais recentemente, em localidades da zona rural situadas entre Governador Mangabeira e Cabaceiras do Paraguaçu.

Controle integrado

Segundo o fitopatologista Hermes Peixoto, pesquisador da Embrapa, a convivência com a clorose variegada deve ser realizada mediante a integração de diversas ações. “O controle legal precisa ser feito com medidas ou regras estabelecidas em leis, decretos e portarias para impedir ou retardar a entrada e o estabelecimento da X. fastidiosa em uma área ou região onde ainda não foi constatada. Pode ainda determinar a erradicação ou eliminação de material vegetal suspeito e ser implementado nas regiões livres do patógeno”.

O citricultor só deve utilizar mudas sadias, certificadas, adquiridas em viveiros credenciados. Em regiões onde já existe a doença é necessário manter as borbulheiras e as plantas matrizes protegidas por telas antiafídicas.

Quando a doença está estabelecida, recomenda-se a erradicação ou eliminação de plantas severamente afetadas com dois a quatro anos que possuam muitos ramos com frutos pequenos. Outra medida consiste na poda dos ramos afetados, obedecendo a um esquema de épocas e distâncias do corte em relação à última folha com sintomas iniciais. “O controle químico deve ser direcionado às espécies de cigarrinhas vetoras, utilizando inseticidas sistêmicos via tronco em plantas novas”, informa Peixoto.

As laranjas doces aparecem como os hospedeiros mais suscetíveis de X. fastidiosa. Tangerinas e seus híbridos como tangores ou tangelos podem apresentar sintomas em condições de campo, embora numa intensidade bem menor que nas laranjas doces. Em lima ácida Tahiti não foram encontrados sintomas nem bactéria em seus tecidos.

Grupo de trabalho

Sob a coordenação do secretário executivo, Geraldo Souza, a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Citricultura da Bahia criou um grupo de trabalho para elaborar um pacote de medidas a serem executadas pelo Governo do Estado, via Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri) e seus órgãos vinculados, pelas prefeituras municipais, por meio das secretarias municipais da Agricultura, e com a participação da Embrapa Mandioca e Fruticultura e entidades representativas dos citricultores.

“A curto prazo, o foco principal do trabalho será o estabelecimento de uma campanha permanente de alerta aos citricultores, que demonstram não darem importância à doença, provavelmente por falta de conhecimento dos sintomas e dos efeitos nefastos à produção”, explica Peixoto.

A médio prazo o grupo estabeleceu outras medidas como levantamento de incidência da praga, diagnóstico laboratorial, treinamento para técnicos e produtores rurais, ratificação do sistema de produção de mudas em ambiente protegido como estratégia de frear a disseminação da praga na Bahia e atualização cadastral dos produtores de mudas nas regiões do Recôncavo sul e litoral norte por parte do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.