A música não apenas emociona. Transforma. Foram os acordes do violino que mudaram o caminho do estudante Misael Dinis Barboza, 16 anos, morador de Itinga, em Lauro de Freitas. O estudante chegou aonde jamais imaginou – tocar numa orquestra sinfônica. O primeiro contato com o instrumento de corda foi aos 12 anos numa uma igreja evangélica em São Paulo, estado onde nasceu. Mas o aprimoramento ocorreu no projeto Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojibá), em Salvador.

“Eu nunca tinha ouvido falar em orquestra jovem. Achava que para participar tinha que estudar durante vários anos e só depois tocava numa orquestra. Quando conheci o Neojibá, por meio de um amigo, percebi que bastava dedicação para fazer parte de uma grande orquestra”, afirma Misael.

O estudante conta que o dia da audição foi um dos mais importantes de sua vida. O nervoso e a ansiedade não atrapalharam aquele momento decisivo. “Me preparei durante vários dias. Queria muito estar numa orquestra, aprender mais sobre violino. Nem acreditei quando o Ricardo [maestro] disse que eu estava aprovado”.

O projeto Neojibá possui três orquestras – a Sinfônica Juvenil 2 de Julho (J2J), com 94 integrantes, entre 12 e 25 anos, a Orquestra Castro Alves (OCA), com 59 integrantes, entre 8 e 18 anos, e a Orquestra Juvenil da Bahia (Youth Orchestra of Bahia – Yoba), grupo formado pelos 100 melhores integrantes do projeto. A dedicação à música e o apoio familiar foram suficientes para que, com apenas 11 meses no Neojibá, Misael integrasse a Yoba. Mas a história não termina por aí. O estudante conseguiu ir mais longe e atravessou o oceano para tocar em Berlim, na Alemanha e Genebra, Suíça.

Festival europeu 

Na Alemanha, berço de grandes mestres da música clássica como Beethoven e Johann Sebastian Bach, Misael e os demais integrantes da Orquestra Juvenil da Bahia fizeram concerto de abertura do Festival Europeu de Música Clássica Juvenil – Young Euro Classic -, que recebe as melhores orquestras juvenis do mundo. As fotos da viagem, ele mostra com orgulho. Mas, o sorriso de felicidade não é só do estudante, faz parte de toda família.

A mãe do jovem Marizete Dinis, 52 anos, que cursa faculdade de Música, fez questão de despertar em todos os seus filhos o lado musical. Os dois irmãos mais velhos de Misael também são músicos. Um toca teclado e outro trombone. “Estou muito contente por ter um filho cheio de prestígio e feliz por ele ter escolhido o caminho da música. É uma dádiva de Deus”.

A rotina do jovem não é fácil. Pela manhã vai para o colégio e à tarde o compromisso é com os ensaios da orquestra, que tem duração de três a quatro horas. Quando chega em casa aproveita para estudar partitura. Nos finais de semana ainda encontra tempo para ensinar música às crianças da igreja Assembleia de Deus. “Dedico-me porque pretendo reger meu futuro com música”.

Turnês no Brasil e no exterior deixam platéias encantadas

A busca pela perfeição é o que atrai um grande número de pessoas aos teatros onde as orquestras do Neojibá se apresentam. Por onde passam deixam plateias encantadas com o talento dos jovens músicos. No total, são mais de 120 apresentações para um público estimado em cerca de 80 mil pessoas. Os espetáculos foram realizados em São Paulo, Belo Horizonte, em sete capitais do Nordeste e em Santa Catarina. Não é à toa que os integrantes têm orgulho de estar na Orquestra Juvenil da Bahia.

“Aqui, nós temos oportunidade de crescer, de se desenvolver musicalmente. É muito legal”, enfatiza a principal oboísta da orquestra, Érica Smetak, 13 anos. Mas não é só no Brasil que a orquestra faz sucesso. Na Europa, a Orquestra Juvenil da Bahia, conquistou um público fiel.

Segundo o regente e diretor do Neojibá, Ricardo Castro, foi a primeira orquestra sinfônica juvenil do Brasil a se apresentar na Europa, no Queen Elizabeth Hall, de Londres, e em Lisboa, no Centro Cultural de Belém. A última apresentação européia ocorreu no início de agosto, na Alemanha e na Suíça.

Para multiplicar a ação do Neojibá em toda Bahia serão implantados núcleos de prática orquestral no interior. O objetivo é atingir todo estado. Vários municípios já demonstraram interesse na parceria com o projeto estadual. O melhor é que os próprios integrantes do Neojibá serão os instrutores como já ocorre em Salvador. “Esta orquestra [Juvenil da Bahia] é a única completa do estado. Por isso, vamos formar outras. Os nossos jovens, antes mesmo de completar 25 anos, já são responsáveis pela multiplicação do Neojibá”, diz Castro

O primeiro concerto no Teatro Castro Alves, realizado quarta-feira (31), após a turnê internacional, foi um sucesso. No concerto, a participação do solista Emmanuele Baldini, spalla (principal violinista) da Orquestra Sinfônica de São Paulo, que apresentou o concerto para violino e orquestra em ré maior, op.35, composição de Tchaikovsky.

História 

Criado em 2007 como um dos programas prioritários do Governo do Estado, desenvolvido pela Secretaria de Cultura (Secult), o Neojibá é o primeiro programa governamental brasileiro baseado no ‘El Sistema’, programa venezuelano. O objetivo do projeto é possibilitar a integração social, estimulando o convívio entre crianças e jovens de vários segmentos da sociedade, por meio da prática coletiva da música orquestral.