O Seminário Desenvolvimento e Ferrovias – Região Nordeste, realizado na manhã desta sexta-feira (23) no Hotel Othon Palace, em Ondina, abordou as estratégias de melhoria do modal na região e o que já está sendo executado e planejado pelos estados. Participaram do evento, promovido pela Frente Parlamentar Mista das Ferrovias do Congresso Nacional, com o apoio do governo da Bahia, o governador Jaques Wagner, o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, o presidente da Frente Parlamentar de Ferrovias, deputado federal Pedro Uczai, e outras autoridades.

Segundo o governador, o seminário é uma ação importante, com uma frente parlamentar de deputados e senadores que se interessam pelo tema. “O Brasil está passando por um momento muito especial de desenvolvimento. Não se concebe desenvolvimento sem logística. Espero que saiam daqui indicações e a aceleração desse processo de retomada das ferrovias”.

Ele explicou que, na década de 50, o Brasil fez a opção equivocada pelas rodovias, praticamente abandonando as ferrovias e limitando o desenvolvimento. “Todo mundo sabe que a tonelada transportada por ferrovia é mais segura, mais ecológica e mais barata. Hoje, temos a questão da poluição como central, e temos a sobrecarga das rodovias”.

Outro ponto positivo das ferrovias, de acordo com Wagner, é a manutenção mais barata. “Felizmente temos três grandes ferrovias sendo construídas nesse momento, e as três cortam o Nordeste”, disse, referindo-se à Ferrovia Norte-Sul, à Ferrovia da Integração Oeste-Leste (Fiol) e à Transnordestina. “E entendemos que essa malha precisa ser ampliada”.

Gestão pela iniciativa privada é insatisfatória

O governador declarou que a situação da Ferrovia Centroatlântica, que foi passada por concessão para a Vale do Rio Doce, é um problema para a Bahia. “Entendo que eles estão muito aquém do investimento que deveriam estar fazendo, prejudicando-nos no trecho Juazeiro-Porto de Aratu e na malha que vem do Sul até Sergipe”.

Uczai concordou com Wagner em que a atual gestão dos equipamentos pela iniciativa privada não é satisfatória. “Essa gestão privada tem problemas. Parte das ferrovias foi sucateada, abandonada e desativada, em vez de modernizada”. Para o deputado, é necessário um novo modelo de operação, além de uma estratégia para as ferrovias. E destacou que é preciso fortalecer o mercado interno de transferência de mercadorias e de transporte de passageiros. “O modelo atual é insuficiente e são necessários mais investimentos no plano plurianual para o modal e para a integração da malha nacional. Com as ferrovias em funcionamento, o país economizará entre 20 e 30 dias para escoar a produção nacional para a Índia e para a China, onde está concentrado um terço da humanidade, região que cresce economicamente”.

Ele disse não ser possível pensar o futuro sem as ferrovias, “um transporte mais barato, seguro, ambientalmente sustentável, que induz o desenvolvimento e atrai novas empresas e investimentos por onde passa e promove a descentralização desse desenvolvimento. As ferrovias também ajudam a resolver parte dos problemas das rodovias e estradas. Por isso o futuro das ferrovias define o futuro do Brasil. O Nordeste não tem futuro se não colocar as ferrovias como prioridade”.

Exportações baianas aumentarão com a implantação da Fiol

De acordo com o ministro dos Transportes, a Ferrovia da Integração Oeste-Leste vai incorporar ao estado uma infraestrutura de grande capacidade, e diferenciada. “Isso vai dar condições à exportação da produção de grãos, que já assume grande dimensão no oeste da Bahia, que tende a crescer, e será estimulada a partir da presença de uma ferrovia”.

Passos afirmou que o equipamento oferece condições para um transporte eficiente e mais barato. “É preciso que esteja associado à ferrovia um terminal portuário moderno. Por isso, com esse investimento, a Bahia dá um salto em sua qualificação, na capacidade em termos de infraestrutura de transporte. O projeto corresponde à expectativa, aos desejos e ao cenário que todos os baianos idealizam, de um estado forte e desenvolvido”.

A secretária estadual da Casa Civil, Eva Chiavon, informou que todos os trechos licitados e contratados da Fiol estão em curso e que estão sendo monitoradas as aplicações dos planos básicos ambientais. “O que se trata nesse seminário, agora que a nossa Fiol já é uma realidade, é se planejar outros trechos, outros ramais e também fazer um debate sobre a gestão das ferrovias”.

Para ela, nesse momento em que Brasil, Bahia e Nordeste se desenvolvem, é importante a combinação de ramais ferroviários com hidrovias, portos e estradas. “Isso pressupõe um pacto entre os governos, os empresários e o Congresso Nacional, que tem a responsabilidade de aprovar o plano de logística do país”. E afirmou que dentro desse assunto está incluída a questão do Porto Sul, “que está em andamento, e as questões ambientais estão sendo bem analisadas e aprofundadas”.

Vasco Neto é homenageado

A filha do engenheiro, professor e político Vasco Neto, idealizador da Ferrovia da Integração Oeste-Leste, Maria das Graças Azevedo, recebeu uma placa em homenagem ao projeto pensado por seu pai. “É um sonho de 50 anos, quando não havia computador nem outra das evoluções tecnológicas que hoje a gente tem. Um projeto que saía da Bahia e terminava no Peru realmente é coisa de sonhador. Ficamos muito emocionados em ver que valeu a pena lutar”.

Maria das Graças disse que a ideia de Vasco Neto foi reconhecida primeiramente no exterior. “Apenas recentemente foi reconhecida no Brasil, quando o governo da Bahia proporcionou a última grande alegria de meu pai, quando, já próximo da sua morte, o governador esteve lá em casa, informando que a ferrovia levaria o nome dele”.

Encontro nacional será realizado no dia 6 de outubro

O seminário faz parte de outros que estão percorrendo o país, reunindo lideranças políticas e do setor em torno do aprimoramento da política nacional ferroviária. No dia 6 de outubro será realizado um encontro nacional, com a presença de todas as regiões brasileiras. O objetivo é elaborar o diagnóstico sobre a situação das ferrovias e definir a estratégia de retomada e expansão desse modal de transporte no país. Já foram realizados os seminários da Região Sudeste, em São Paulo (SP), da Região Sul, em Porto Alegre (RS), do Centro-Oeste, em Cuiabá (MT), e da Região Norte, em Rio Branco (AC).

Publicada às 10h15
Atualizada às 14h35