No mês da Consciência Negra, o Museu Udo Knoff abre suas portas para a exposição Coroa de Ouro, idealizada pela cabeleireira especializada em penteados afro, Negra Jhô. A partir da próxima sexta-feira (25), Dia das Baianas, às 18h, o público poderá conferir 20 turbantes estilizados, que valorizam e reverenciam a força da ancestralidade africana.

Promovida pelo Instituto Kimundo, com o apoio da Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Dimus/Ipac), a mostra fica em cartaz gratuitamente até 24 de janeiro de 2012, de terça a sexta-feira, das 10 às 18h, e nos finais de semana e feriados, das 13 às 17h.

O turbante foi escolhido por Negra Jhô por ser um símbolo de destaque na estética, cultura e religiosidade de matriz africana. “Cobrir a cabeça (ori) é uma maneira de respeitar e preservar a parte do nosso corpo que canaliza a energia dos espíritos ancestrais e está sempre cheia de axé”, explica a cabeleireira, que recebe na noite desta segunda-feira (21) o título de cidadã soteropolitana.

Quem for ao Pelourinho visitar a exposição poderá conferir um pouco da arte que ela vem produzindo na cabeça de baianos e turistas do mundo inteiro. ‘Deusa do Ébano’, ‘Zumbi dos Palmares’, ‘Rainha Nzinga’ e ‘Carmem Miranda’ são alguns dos nomes escolhidos para identificar os turbantes.

Integração

Para a assessora da Dimus, Ana Liberato, “a mostra Coroa de Ouro é importante não somente por fazer parte das comemorações ao mês da Consciência Negra, mas por ser o resultado de uma integração do museu com a comunidade do Pelourinho”. A exposição é parte integrante do projeto homônimo que prevê a realização de duas oficinas de turbantaria nos dias 14 e 15 de dezembro, além de um desfile com indumentárias confeccionadas por estilistas e grifes baianas no dia 24 de janeiro de 2012.

Durante as oficinas, que acontecem das 10 às 12h e das 14 às 16h, Negra Jhô ensinará as técnicas utilizadas na confecção dos diferentes tipos de turbantes. Interessados em participar devem se inscrever previamente no Salão de Negra Jhô, situado no Pelourinho. As inscrições custam R$ 50. Mais informações podem ser obtidas por meio do Museu Udo Knoff.

Cabeleireira

Nascida no quilombo da Muribeca, em São Francisco do Conde (BA), Valdemira Telma de Jesus Sacramento, mais conhecida como Negra Jhô (luz em iorubá), tem sua história marcada por lutas e superação. De família humilde, começou a trabalhar desde cedo e em vários ramos – vendeu peixe, foi lavadeira, cozinheira, atendente de loja e recepcionista de teatro. Durante o período em que viveu em Feira de Santana, fez parte do bloco carnavalesco Flor de Ijexá e ganhou o título de beleza negra do município cinco vezes.

Desde a adolescência, ela gostava de trançar o cabelo de suas irmãs, amigos e bonecas, mas sua trajetória de sucesso começou em meados dos anos 80 com um banquinho em um dos largos do Pelourinho. Hoje, seu salão de beleza, localizado na Rua Frei Vicente, nº 4, é referência nacional em cabelos afro. Filha de Ogum com Iansã, Negra Jhô vem contribuindo para a valorização da cultura e identidade negra não somente com suas tranças, torços, turbantes e penteados afros, mas por intermédio do Instituto Kimundo, entidade que dirige há dez anos.