O vai e vem dos caminhões e dos mais de dois mil trabalhadores fazem parte da construção do primeiro trecho da Ferrovia de Integração Oeste- Leste (FIOL). Desde o início deste ano, estão sendo feitas obras entre Caetité, no sudoeste, e Ilhéus, no sul do estado, distantes aproximadamente 537 km. Os quatro eixos de trabalho cortam 20 municípios.

De acordo com o vice-governador e secretário de Infraestrutura da Bahia, Otto Alencar, com a expectativa da chegada da ferrovia muitas mineradoras estão se instalando em Brumado. “Os investidores estão adquirindo áreas e fazendo prospecções de minérios de ferro no oeste. E claro, se vem economia, vem desenvolvimento social, capacitação, treinamento de mão de obra e emprego”, comemora.

Para o coordenador de Infraestrutura da Casa Civil do Governo do Estado, Eracy Lafuente, a FIOL é um vetor de transporte de cargas, que promove a oportunidade de desenvolver parques ligados aos grãos, minérios e etanol, três grandes cadeias que favorecem a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) e a descentralização da economia.

Aproximadamente 70 milhões de toneladas devem ser transportadas por ano pela FIOL – pelo menos 50 milhões corresponderão a minérios. “Hoje, o escoamento se faz por rodovias e cria um custo operacional em termos de transporte muito elevado. À medida que o custo diminui, a exportação é favorecida e é possível potencializar a produção”, conclui Eracy Lafuente.

Com investimentos estimados em R$ 6 bilhões, quando estiver em pleno funcionamento a estrada de ferro, com 1.500 quilômetros de extensão, vai interligar o Porto Sul, em Ilhéus, à ferrovia Norte-Sul, em Figueirópolis, no Tocantins.

Geração de emprego e renda

Atualmente, a atividade nas frentes de trabalho envolve a compactação de pedras, detonação dos espaços rochosos e nivelamento da área. Em diversos galpões, montados ao longo do trecho Caetité-Ilhéus, são fabricadas as aduelas – bueiros para escoamento de água – e os dormentes, suporte transversal do trilho.

Carpinteiro há onze anos, Noel Joaquim dos Santos Filho, 34, agora tem emprego fixo. “Desde que entrei na obra, há oito meses, já consegui reformar e ampliar minha casa. Aqui temos muitas oportunidades, inclusive com a possibilidade de trabalhar nas novas empresas que estão chegando”, afirma.

Edilson Ramos da Silva, de 30 anos, colocava o último concreto de uma das muitas galerias, que vão servir de base para o escoamento de água, instalada abaixo dos trilhos. O ajudante de pedreiro deixou para trás os trabalhos temporários de servente para ser um profissional da construção, com carteira assinada. “A ferrovia mudou minha vida e a dos meus colegas também, é aqui que estou construindo meu futuro” acredita.

As empresas de minério movimentam a economia em Brumado. Maria Dantas Porto, 45, recepcionista da Pousada Renascer, percebeu a mudança quando as vagas nos estabelecimentos da cidade ficaram escassas. “Não temos mais vaga até o mês de abril. Uma mineradora fechou um pacote com a gente para instalar seus funcionários. Em mais dois outros hotéis de médio porte, o mesmo aconteceu. Se continuar assim, ano que vem vai precisar de mais pousadas pra dar conta da demanda”, disse.

As obras são acompanhadas de perto pelos moradores. Genir Batista dos Santos, 69 anos, há mais de 50 mora em Barra do Rocha. Ele afirma que seu conhecimento da região ajudou na elaboração do projeto. “Eu falei para os engenheiros que o nível da água ia subir dois metros no trecho onde o trem iria passar, eles reavaliaram o projeto e mudaram”, garante.

Meio Ambiente é preservado

Toda a área que vem sendo terraplanada vai passar por reflorestamento, após a conclusão dos trabalhos. Só no lote 3, em Tanhaçu, estão sendo cultivadas 140 mil mudas de plantas nativas da região, como aroeira, pau-d’arco e licuri. Elas sairão do viveiro montado no canteiro de obras para as margens do trilho.

Balduino Silva Pires, 25, responsável pelo viveiro, reconhece a importância do trabalho que desenvolve. “Este é um processo muito importante, porque com a devastação do meio ambiente algumas árvores, e os animais que se alimentam delas, podem ser prejudicados. Por isso, os biólogos recolhem sementes, passam pra mim que cuido da muda e assim fazemos o reflorestamento e mantemos vivas as espécies de nossa região”.

“O Estado da Bahia entrou com todos os estudos de impacto ambiental e desapropriação de área. Inicialmente o Porto Sul, que integra a ferrovia, seria em Ponta da Tulha, como houve problemas ambientais e dificuldades que foram acrescentadas durante o período da implantação, resolvemos descer um pouco ao Sul, para a área de Aritaguá”, destacou Otto Alencar.

Dados Gerais

Extensão – 1.527 km
Velocidade – 80 km/h
Capacidade – 70 milhões de toneladas/ano
Investimento – R$ 6 bilhões
Empregos diretos – 17 mil
Empregos indiretos – 50 mil

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