Um conjunto de edificações de caráter excepcional e singular, influenciado pelos estilos arquitetônicos neo-palladianismo, georgian e art déco, construído no início do século XX no município de Wagner, a 414 quilômetros de Salvador, na Chapada Diamantina, pode se tornar oficialmente um patrimônio cultural da Bahia. A proposta foi apresentada pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) na semana passada (26), com a presença do secretário de Cultura do Estado, Albino Rubim, que coordenou uma caravana cultural que passou pelos municípios de Lençóis, Wagner, Nova Redenção e Iraquara, acompanhado por 22 assessores e técnicos da Secretaria Estadual de Cultura (Secult).

O processo de tombamento começa com pesquisas realizadas por equipe multidisciplinar do Ipac criando um dossiê, encaminhado à Secult, que o submeterá ao Conselho Estadual de Cultura. Este, depois de analisar e, se for o caso, aprovar, devolve à secretaria, que submete o veredicto à apreciação do governador do Estado. O decreto de tombamento é então publicado no Diário Oficial.

“O motivo inicial foi apresentar o Projeto Circuitos Arqueológicos proposto via convênio entre o Ipac e a Universidade Federal da Bahia [Ufba] desde 2008, mas aproveitamos para realizar uma caravana por vários distritos desses municípios conhecendo os bens culturais dessa grande região, sejam materiais ou imateriais”, disse o secretário de Cultura durante a apresentação.

Em Wagner a comitiva da Secult conheceu a pesquisa do Ipac sobre as edificações norte-americanas, visitou o antigo povoado de Cachoeirinha, onde foram apresentadas manifestações culturais como aboios de vaqueiros e cantos de reisado, além de uma estância onde ainda existem antigos alambiques, fábrica de rapadura e melaço, e bens paisagístico-ambientais, com vales, serras, rios e cachoeiras.

Ipac faz proposta de tombamentos

Este e outros roteiros de viagem fazem parte de proposta do Ipac para os Circuitos Arqueológicos, contemplando bens culturais tangíveis e intangíveis. A ação pode auxiliar no desenvolvimento econômico sustentável da Chapada. “Outros estados brasileiros e países já utilizam os seus atrativos naturais e culturais como um dos principais vetores da economia, e a Bahia, que detém um dos mais ricos acervos arquitetônicos e arqueológicos do país, pode conseguir o mesmo”, diz o diretor do Ipac, Frederico Mendonça. A proposta, contudo, dependeria de ampla parceria entre poderes públicos municipais, estadual e federal, iniciativa privada e sociedade civil organizada.

Segundo Mendonça, os edifícios que estão sob estudo e tombamento provisório em Wagner são a Igreja Presbiteriana, o Grace Memorial Hospital e o Instituto Ponte Nova. O pedido de tombamento apareceu sob a forma de abaixo-assinado de moradores da região. Outro imóvel é o Instituto Ponte Nova que recebia alunos em internato de toda a Bahia e ainda tem os pisos em parquet, que é um assoalho feito de peças de madeira nobre, de tamanhos, cores e formas diversas, em desenhos geométricos.

O município de Wagner surgiu às margens do Rio Utinga, devido à criação do Instituto em 1906, a partir da vinda desses presbiterianos norte-americanos que construíram as edificações. O projeto inicial foi instalar uma escola-fazenda, e depois uma estação missionária com ações de religião, educação e saúde. Para Lígia Larcher, com as instalações que ainda dispõe, a cidade de Wagner poderia se tornar um pólo cultural-educacional na Chapada, e o tombamento é um dos incentivadores dessa transformação. Todo imóvel tombado também tem prioridade nas linhas de financiamento.

Mais informações sobre o tombamento em Wagner podem ser obtidas com a Gerência de Patrimônio Material (Gemat) do Ipac, pelos telefones (71) 3116-6742 e 3116-6933, e no endereço eletrônico gemat.ipac@ipac.ba.gov.br.