A partir do nascimento de dois filhotes de búfalas em propriedades rurais de agricultores familiares nos municípios baianos de Buerarema e Itapé, no mês passado, foi iniciado o período de lactação e, desde então, os beneficiados por duas Unidades de Observação (UO) de bubalinos fazem planos para ampliar a produção de leite, no sul da Bahia.

As unidades foram implantadas há dez meses pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), vinculada à Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia (Seagri), com a aquisição de duas fêmeas e um macho para cada uma.

“Estou tirando uma média de cinco litros de leite por dia. Por enquanto, utilizo apenas para consumo, mas sei que esse número pode chegar até 12 litros, por ordenha. A minha intenção é produzir queijo de búfala”, diz com entusiasmo, Pedro Venceslau, um dos agricultores beneficiados.

Melhorar renda 

João Bispo, que já trabalha com a produção de derivados de leite de bovino, diz que nunca tinha visto um búfalo de perto e que o porte dos animais chegou a impressioná-lo, quando os recebeu em sua propriedade. “Hoje, o Patoré – nome dado por João ao búfalo reprodutor – quando me vê vem correndo em busca de cafuné. O animal parece até um bicho de estimação”.

Segundo o veterinário Antônio Vicente Dias, coordenador do programa de bubalinocultura da EBDA, o búfalo é um espécie importante para a agricultura familiar, por ser rústico, de fácil manejo, além de ser um animal de tração, próprio para as atividades do dia a dia da propriedade. O leite tem alto valor nutricional e de mercado.

O projeto, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), visa aumentar a produção leiteira na Bahia e colaborar para melhorar a renda dos agricultores familiares.

Produção orgânica 

O veterinário visitou, na semana passada, as propriedades rurais dos dois agricultores e avaliou o estado de saúde dos mais novos integrantes das unidades, além de medicar os animais com produtos homeopáticos, que controlam doenças e permitem uma produção orgânica de leite, como prevê o projeto.

Vicente Dias aproveitou para fornecer também informações técnicas sobre o funcionamento do metabolismo dos búfalos, manejos alimentares e sanitários, ordenhas, produção e qualidade do leite. “Esses animais têm genética para produzir de dez a 12 litros tranquilamente, por ordenha, mas para isso é preciso exercitar o úbere das búfalas diariamente e mantê-las bem alimentadas”, ressaltou o veterinário.

Sobre a produção de queijo, ele informou que se obtém um quilo de queijo, tipo mussarela, a partir de oito litros de leite de búfala, contra 12 litros de leite bovino. “Essa diferença de rendimento é justificada pelo alto valor de sólidos totais (proteína, sais minerais, vitamina e gordura) presente no leite da búfala”, complementou.

O técnico agropecuário da EBDA, Nelson Fernandes Moura, responsável pela Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) sistemática nas unidades de produção familiar, informou que dois laticínios dessa região já trabalham exclusivamente com a produção de derivados do leite de búfala e chegam a pagar até R$ 0,20 a mais pelo leite, em relação ao que pagam os laticínios que trabalham com o leite bovino.

Outro ponto abordado durante a visita foi a importância de evitar maus tratos aos búfalos e a atenção para a necessidade de realizar a velha técnica da caneca telada, que consiste em separar o primeiro jato de leite e observar se está coalhado, para, então, medicar o animal, pois esse é um sinal de mamite.

A EBDA levará os dois agricultores envolvidos no projeto de bubalinocultura para conhecer o trabalho desenvolvido em Aramari. No local, a empresa mantém cerca de 60 matrizes de búfalo e realiza análises sobre qualidade do leite orgânico. “Pretendemos ampliar o conhecimento desses agricultores, sobre esta cultura, para que eles tenham êxito na criação dos animais e renda garantida”, concluiu Moura.