A folia de Maragojipe, cidade a 150 quilômetros de Salvador, tem influências do Carnaval de Veneza, na Itália. O município localizado no recôncavo da Bahia realizou um Grito de Carnaval até a madrugada de domingo (12), com apoio das secretarias estaduais de Cultura (Secult), do Turismo (Setur) e de Infraestrutura (Seinfra), reunindo milhares de foliões locais, de outros estados e estrangeiros de diversos países.

Segundo especialistas do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) que estudaram a manifestação ao longo de dois anos, publicaram um livro – disponível para download no site do Ipac – e produziram um DVD-documentário, o Carnaval de Maragojipe tem influências das fantasias e máscaras europeias, mais conhecidas através do Carnaval de Veneza.

Existem registros do Carnaval veneziano desde 1268, mas os estudiosos avaliam que as máscaras se transformaram em adereço popular somente no século XVII, quando integrantes da nobreza as usavam como disfarce para participar da folia junto ao povo. A prática se tornou comum e até hoje encontramos os mascarados em Veneza durante o período da Quaresma, como uma das atrações turísticas dessa cidade que fica no nordeste da Itália, região do Vêneto, às margens do Mar Adriático. A festa dura dez dias, quando acontecem bailes em salões e desfiles nas vias públicas.

“Não se pode afirmar que as máscaras e fantasias de Veneza são as mesmas das de Maragojipe, mas a cultura do uso delas e até a inspiração da imagem de alguns personagens usados hoje nesta cidade baiana, com certeza, são uma tradição vinda da Europa, semelhante à veneziana”, explicou o diretor-geral do Ipac, Frederico Mendonça.

Os trajes de Veneza são mais característicos do século XVIII, com máscaras brancas, roupa de seda negra e chapéu de três pontas. Entretanto, personagens parecidos com os da Commedia dell’Arte são vistos no Carnaval de Maragojipe. “A Commedia surge como um teatro de rua, mambembe e improvisado, desde o século XVIII, com companhias que se tornaram itinerantes com personagens voláteis e alguns fixos, a exemplo do Arlequim, da Colombina, do Pantalone, imagens que eventualmente podemos ver também em Maragojipe”, destacou Mendonça.

Este ano, o Carnaval de Maragojipe ganhou aporte de R$ 270 mil da Secult/Ipac, via programa Outros Carnavais, criado para apoiar manifestações tradicionais da festa. São apoiadas atrações que conferem a singularidade e a tradição da folia, como os blocos de mascarados, charangas e orquestras.

Patrimônio imaterial

A folia maragojipana é considerada excepcional ainda por suas heranças afro-indígenas, presentes principalmente nos instrumentos musicais, cantigas e aculturação da festa. Em 2009, graças às pesquisas do Ipac, o Estado decretou o Carnaval de Maragojipe como patrimônio imaterial. Além dos seus 44 mil habitantes, o município recebeu, no domingo (12), mais de dois mil visitantes, que ocuparam todas as pousadas e hotéis.