Menos de dois meses após receber em audiência um empresário mexicano que demonstrou interesse em investir na Bahia no setor do sisal, introduzindo a planta agave azul e implantando uma indústria processadora no estado, o secretário da Agricultura, Eduardo Salles, aceitou o convite para visitar os campos de produção e indústrias no México e organizou uma missão com o objetivo de conhecer as possibilidades de introduzir a planta nas regiões produtoras de sisal, criando mais uma opção de convívio sustentável com o semiárido.

Cada membro do grupo baiano, composto, além do secretário, por representantes da Câmara Setorial do Sisal, de associações e cooperativas de produtores, dos exportadores de sisal, além de um assessor da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), custeou suas despesas. Segundo Salles, a missão ao México pode ser concluída neste fim de semana, com grandes possibilidades de instalação futura de uma indústria mexicana no semiárido baiano.

Depois de visitar viveiros de mudas e plantios comerciais nas regiões produtoras e nos arredores de Guadalajara, estado de Jalisco, e as diversas possibilidades de industrialização de subprodutos da planta agave azul, como o mel, a inulina, a tequila e o etanol, o secretário considerou que a economia de cerca de 20 municípios baianos produtores de sisal pode ser revigorada com a introdução de novas variedades de sisal e a implantação de empreendimentos agroindustriais, integrando os pequenos produtores.

A planta agave azul, da mesma família do sisal, é muito utilizada no México para produção de tequila e adoçante. Possui alto valor econômico e é base da economia de vários estados mexicanos. São diversas variedades da planta existentes no México, cada uma com suas características, limitações e exigências. O mel produzido com a agave azul, sem sacarose e rica em frutose, é muito procurado pela indústria alimentícia. A inulina, um pó branco desidratado, que previne o câncer de colo e facilita a digestão, é matéria-prima também para a indústria farmacêutica.

De acordo com Salles, esta é mais uma das alternativas sustentáveis para a agricultura do semiárido. “Além da fibra, se puder avançar e ter a produção de etanol, açúcar e outros derivados da agave azul, conseguiremos mais uma opção para uma cultura tão importante para a Bahia".

Mais qualidade de vida para o homem do campo

O secretário declarou que essa seca que hoje castiga inúmeros municípios do estado pode se repetir nos próximos anos. “O governo da Bahia age, investindo em soluções definitivas, como a construção de adutoras, e estamos atuando também procurando opções sustentáveis visando estruturar o semiárido para conviver com a seca, mantendo o homem no campo com empregos, renda e qualidade de vida”.

Em regiões como a do Rio São Francisco, que tem água para irrigação, o foco da Secretaria da Agricultura são as frutas e a cana, seguidas da agroindustrialização, como está acontecendo com a implantação de uma unidade da Casa Valduga em Juazeiro, para produzir sucos, geleias e espumantes, e de uma fábrica da Ducoco, para processar coco.
Quanto à cana-de-açúcar, a pretensão é, a exemplo da Agrovale, também na região de Juazeiro, implantar outras usinas de álcool e açúcar, gerando milhares de empregos na região.

Salles explicou que, nas áreas onde não há disponibilidade de água para irrigação e onde a atividade agropecuária se resume à ovinocaprinocultura e à cultura do sisal, “temos que buscar soluções de convivência através destas atividades, potencializando-as”. E isso está sendo feito com a ovinocaprinocultura, por meio de programas como o Pró-Berro, o Sertão Produtivo e o Palma Adensada, e a integração dos pequenos agricultores com o grande produtor e frigoríficos, a exemplo do investimento integrado do grupo paulista-baiano na região de Xique-Xique, lançado na semana passada na Feicorte, maior evento indoor da cadeia pecuária de corte do mundo, que pela primeira vez aconteceu na Bahia, no Hotel Pestana, em Salvador.

Com relação ao sisal, Salles destacou que “estamos analisando as possibilidades de introduzir a agave azul e avançar na produção de etanol em zonas do semiárido com altitude acima de 700 metros, a exemplo de regiões como a Chapada Diamantina e algumas áreas da região de Campo Formoso e Irecê que já possuem tradição de produção de sisal”.

O secretário informou que a ideia inicial é implantar cinco campos experimentais, em parceria da Seagri/EBDA com a Secti, Embrapa e UFRB, em cinco regiões distintas, inclusive na de Conceição do Coité, com diversas variedades da agave azul e verificar a que melhor se adapta.

Além de visitar campos de produção da agave azul, Salles e comitiva conheceram indústrias produtoras de mel, inulina e tequila e se reuniram com empresários, discutindo a instalação de empresas na Bahia.

Cultivo de hortaliças em estufas 

Dando sequência à missão no México, o secretário, juntamente com o superintendente de Desenvolvimento Agropecuário, Raimundo Sampaio, esteve reunido, no município de Culiacan, estado de Sinaloa, com os proprietários da North American Allied LLC. Shadehouses & Greenhouses, visitando áreas com estufas para produção de hortaliças na região.

Há um mês, os empresários mexicanos estiveram na região de Morro do Chapéu e perceberam que as condições de clima são ideais para a produção de hortaliças em estufas. Eles pretendem, já na próxima semana, em sociedade com um grupo brasileiro, implantar cinco hectares de estufas de hortaliças, que vão produzir pimentão, tomate (cereja), berinjela. Hoje, a produção de hortaliças em estufas no estado de Sinaloa se concentra em sete mil hectares e, em todo o México, são 22 mil hectares. A produção é exportada principalmente para os Estados Unidos.